o tempo das rosas.
O velho sofreu um enfarte, o quadro dele era complicado. O velho perdeu as contas de quantas semanas ja se passara desde que em uma certa madrugada acordou com uma dor intoleravel e fora passar ali, enfarte fulminante. Sua mulher lhe dedicava o maximo de tempo e amor que podia. mudou o horario no serviço, e todos os dias às 15:00hr ela estava no hospital, aonde ficava até as 20:00hrs. Nos finais de semana ela lhe dedicava um tempo maior, e sempre o levava alguma flor. O velho agradecia a mulher como podia, as vezes conseguia dizer eu te amo, as vezes sorria, chegou a chorar junta com a mulher uma certa vez. mas na maioria do tempo o velho se encontrava deitado, em estado tedioso. A rotina era sempre a mesma, mas as flores mudavam toda semana, o velho gostava de flores, principalmente as que duravam uma semana, e era assim que ele contava o tempo. As que duravam menos, causava-lhe a sensação de que o tempo tinha passado e ele nem viu. fazia-lhe pensar em quanto tempo passou e ele não sentiu, quanta vida passou rapidamente diante dos seus olhos enquanto ele piscava, tantas e tantas vezes deixou de dizer à mulher que faria qualquer coisa por ela, tantas vezes não quis sorrir, e agora simplismente não podia. A que durou mais, deu-lhe a ideia de que estava ali a mais tempo, e ainda tinha muito mais a permanecer, a sensação de prolongação daquela situação era ainda menos bem vinda que a ideia da perda, e ele pediu a esposa que trocasse toda semana sem falta. Acordou num sabado, sabia que era sabado pois a mulher chegava com um buquê de rosas - rosas? porque rosas? elas morrem tão rápido.-pensou. a mulher sorriu pra ele, - quem sabe quando essas rosas murcharem você ja tenha saído daqui? -ela falou. ele se encheu de esperanças. ela deitou ao seu lado na cama, desconfortadamente eles se abraçaram e deram um leve beijo. o fim de semana passou sereno e gostoso. segunda-feira ele olhou as rosas, elas ainda estavam la, quase bonitas, ainda tinham vida. Ja na terça-feira, as rosas murcharam, pareciam mortas, mas o homem não estava mais la pra ver, ele perdeu o brilho, e se encontrava sem vida também. O homem não estava mais ali quando elas murcharam, ele não estava mais em lugar nenhum. Sua esposa chegou com um buquê novo, rosas brancas dessa vez. apropriado, ja que ele não estava mais lá. ela chorou.