A Vidente Soraya
Josemar, quarentão bem situado na vida, alto funcionário do Senado Federal, nunca fora de acreditar em videntes, cartomantes ou coisa parecida. Mas como era um azarado com as mulheres e estava há tantos anos sozinho que não suportava mais a sua própria companhia e, como também, por estranhos caprichos do destino, encontrara um anúncio da vidente Soraya embaixo da sua mesa de trabalho, viera ali para conferir se de fato a mulher “via” as coisas.
Com Josemar sentado à sua frente, a mulher fixou os olhos numa bola de cristal incrivelmente brilhante e disparou, com voz soturna:
- O amigo tem um dos empregos mais invejados do Brasil, já foi noivo três vezes, em todas três não casou porque levou chifres, sofreu de complexo de Édipo na infância, por isso só gosta de mulheres mais velhas. Veio aqui porque quer saber se vai morrer solitário ou se ainda vai encontrar uma esposa ou companheira com quem dividir a sua vida.
Josemar tomou um susto enorme. Por todos os diabos do mundo, a mulher sabia de tudo sobre a vida dele! Retorquiu, um pouco alarmado:
- Sim, sim, é verdade! Mas como soube disso?
- Eu sei de tuuuudo... – e a mulher deu uma gargalhada cavernosa, fixando o olhar na brilhante bola de cristal.
- E o que vê aí sobre o meu futuro, minha senhora?
- Seu mal é que procura longe o que está bem perto de você.
- Como?
- Foi esse o recado que o seu guia espiritual deixou para você. Não vejo mais nada. A consulta está encerrada.
Josemar pagou e saiu, remoendo as palavras da vidente: “Seu mal é que procura longe o que está bem perto de você”.
Chegou ao Senado e foi direto para o seu gabinete, absorto nos seus pensamentos. A sua secretária, Dona Beatriz, após cumprimentá-lo, informou:
- Dr. Josemar, o “poderoso chefão” telefonou várias vezes. Quer saber como é que está a edição dos atos secretos de nomeação de alguns parentes dele.
Josemar irritou-se:
- Atos secretos, atos secretos! No fim, só vai dar pra mim, pois a corda só arrebenta do lado mais fraco! Ninguém prende quem manda, só quem cumpre ordens!
- Pois é... – concordou Dona Beatriz.
Josemar levantou a vista para ela e reparou melhor na sua figura. Teria uns cinquenta e poucos anos, alta, de óculos, sempre impecavelmente vestida em blazers bem talhados. Mas tinha um aspecto severo e parecia ser uma puritana de carteirinha. Com certeza, caretíssima na cama, só o trivial papai-e-mamãe, pensou Josemar. Mas, de repente, ressoaram na sua mente as palavras da vidente Soraya: “Seu mal é que procura longe o que está bem perto de você”. Então, reparou mais ainda em Dona Beatriz: tinha seios fartos e firmes, pernas bem torneadas.
- Vou buscar o seu cafezinho, Dr. Josemar.
Quando a secretária se virou, Josemar recriminou-se mentalmente: “Cego que sou, como ainda não tinha percebido que Dona Beatriz tem um bem apetrechado bumbum?”.
- Espere, Dona Beatriz.
- Pois não, Dr. Josemar.
- Desculpe a pergunta, mas me diga: a senhora é casada?
Pela primeira vez, Dona Beatriz sorriu:
- Não senhor, por quê?
- Porque, sendo assim, pode chegar à sua casa na hora que quiser, não é mesmo? O caso é que preciso de uma opinião de uma terceira pessoa sobre essas nomeações por atos secretos. Ninguém melhor do que a senhora que conhece todas essas mumunhas oficiais. Quer jantar comigo após o expediente para discutirmos o assunto?
- Tudo bem, Dr. Josemar.
Três meses depois estavam casados.
No dia seguinte ao casamento, Soraya telefonou para Beatriz:
- Alô, Beatriz, parabéns, mas não se esqueça de depositar na minha conta o que combinamos, hã?
Josemar, quarentão bem situado na vida, alto funcionário do Senado Federal, nunca fora de acreditar em videntes, cartomantes ou coisa parecida. Mas como era um azarado com as mulheres e estava há tantos anos sozinho que não suportava mais a sua própria companhia e, como também, por estranhos caprichos do destino, encontrara um anúncio da vidente Soraya embaixo da sua mesa de trabalho, viera ali para conferir se de fato a mulher “via” as coisas.
Com Josemar sentado à sua frente, a mulher fixou os olhos numa bola de cristal incrivelmente brilhante e disparou, com voz soturna:
- O amigo tem um dos empregos mais invejados do Brasil, já foi noivo três vezes, em todas três não casou porque levou chifres, sofreu de complexo de Édipo na infância, por isso só gosta de mulheres mais velhas. Veio aqui porque quer saber se vai morrer solitário ou se ainda vai encontrar uma esposa ou companheira com quem dividir a sua vida.
Josemar tomou um susto enorme. Por todos os diabos do mundo, a mulher sabia de tudo sobre a vida dele! Retorquiu, um pouco alarmado:
- Sim, sim, é verdade! Mas como soube disso?
- Eu sei de tuuuudo... – e a mulher deu uma gargalhada cavernosa, fixando o olhar na brilhante bola de cristal.
- E o que vê aí sobre o meu futuro, minha senhora?
- Seu mal é que procura longe o que está bem perto de você.
- Como?
- Foi esse o recado que o seu guia espiritual deixou para você. Não vejo mais nada. A consulta está encerrada.
Josemar pagou e saiu, remoendo as palavras da vidente: “Seu mal é que procura longe o que está bem perto de você”.
Chegou ao Senado e foi direto para o seu gabinete, absorto nos seus pensamentos. A sua secretária, Dona Beatriz, após cumprimentá-lo, informou:
- Dr. Josemar, o “poderoso chefão” telefonou várias vezes. Quer saber como é que está a edição dos atos secretos de nomeação de alguns parentes dele.
Josemar irritou-se:
- Atos secretos, atos secretos! No fim, só vai dar pra mim, pois a corda só arrebenta do lado mais fraco! Ninguém prende quem manda, só quem cumpre ordens!
- Pois é... – concordou Dona Beatriz.
Josemar levantou a vista para ela e reparou melhor na sua figura. Teria uns cinquenta e poucos anos, alta, de óculos, sempre impecavelmente vestida em blazers bem talhados. Mas tinha um aspecto severo e parecia ser uma puritana de carteirinha. Com certeza, caretíssima na cama, só o trivial papai-e-mamãe, pensou Josemar. Mas, de repente, ressoaram na sua mente as palavras da vidente Soraya: “Seu mal é que procura longe o que está bem perto de você”. Então, reparou mais ainda em Dona Beatriz: tinha seios fartos e firmes, pernas bem torneadas.
- Vou buscar o seu cafezinho, Dr. Josemar.
Quando a secretária se virou, Josemar recriminou-se mentalmente: “Cego que sou, como ainda não tinha percebido que Dona Beatriz tem um bem apetrechado bumbum?”.
- Espere, Dona Beatriz.
- Pois não, Dr. Josemar.
- Desculpe a pergunta, mas me diga: a senhora é casada?
Pela primeira vez, Dona Beatriz sorriu:
- Não senhor, por quê?
- Porque, sendo assim, pode chegar à sua casa na hora que quiser, não é mesmo? O caso é que preciso de uma opinião de uma terceira pessoa sobre essas nomeações por atos secretos. Ninguém melhor do que a senhora que conhece todas essas mumunhas oficiais. Quer jantar comigo após o expediente para discutirmos o assunto?
- Tudo bem, Dr. Josemar.
Três meses depois estavam casados.
No dia seguinte ao casamento, Soraya telefonou para Beatriz:
- Alô, Beatriz, parabéns, mas não se esqueça de depositar na minha conta o que combinamos, hã?