O LEITOR
A sua biblioteca, não é muito grande, mas contém uma variada gama de temas, enciclopédias, dicionários, alguns livros antigos, poesias, clássicos, sendo a grande maioria de literatura em geral. Muitas vezes teve a nítida impressão de que o livro o comprou, e ele simplesmente concordou em levá-lo, a paixão veio depois, ao lê-lo. Comprava-os, muitos ao ver a sinopse, outros pela capa, e maioria principalmente pelos títulos e seus autores.
Desde cedo conseguiu uma certa intimidade com esses amigos, de início lia os gibis, depois continuou aventurando-se com, As Aventuras de Tarzan, de Edgar Burroughs, as de Tom Sawer, Mark Twain, Os Três Mosqueteiros, Alexandre Duma. Vieram muitos volumes emprestados, foi nessa época que tornou-se rato de acervo de amigos, vindo a conhecer diversos autores brasileiros: Os Sertões, Euclides da Cunha, A Mão e a Luva de Machado de Assis, de Jorge Amado, quase todos e outros tantos escritores que lhe surgiram pela frente, em um desses volumes perdeu-se apaixonadamente por uma certa dama, A das Camélias, de Duma Filho. Encontrou-se na Bíblia.
O tempo lhe passou rápido, viu-se adulto, já estava na época de namorar e casar, sendo tímido, deparou-se com um grande aliado em Cyrano de Bergerac, Edmond Rostand, usando as intervenções desse personagem sem intermediários, diretamente. Casou-se, foi apresentado ao Capital e ao Trabalho Alienado, Karl Marx. Aderiu à causa, foi preso. Ao ser solto, a esposa o esperava com duas coisas na bolsa: o resultado positivo do exame de gravidez e A Vida do Bebê, Reinaldo Delamare, que juntamente com os fascículos de Como Fazer e Como Funciona, lhe foram de grande utilidade.
Seu trabalho e a família, tomavam-lhe quase todo tempo disponível, foi então que comprou O Tempo e o Vento, Érico Verissimo. Ao chegar em casa com os sete tomos da trilogia, sentou-se a mesa, abriu o pacote, pegou os volumes e enfileirou-os em ordem, para em seguida folheá-los rapidamente, um a um, próximo as narinas, sentindo o cheiro singular que só os livros novos possuem, para então, somente depois desse ritual, começar a absorver calmamente o ali descrito.
Durante a sua carreira vieram muitas outras leituras, sendo que quase ao aposentar-se, surgiu-lhe a frente, sem mais nem menos A Odisséia, de Homero, leu-o, mais instigado pela denominação do que por qualquer outro motivo.
Aposentou-se, dedicam-se a diversas outras atividades, mas sempre reservando um tempo para conhecer novos escritores, sem deixar de lado os antigos. A poucos dias sentiu uma certa necessidade de reler uma obra, não sabendo se por seu conteúdo, pelo seu autor, por sua capa vermelha com filigranas dourados, ou simplesmente por seu título... AS ILUSÕES PERDIDAS, Balzac.
Encontrou-o, mas reluta em abri-lo.