VIAGEM DIVERTIDA DE ÔNIBUS

Viajar de ônibus é cansativo e bastante aborrecido, porque as vezes os companheiros de viagem são tagarelas e contam suas vidas inteiras durante o trajeto e outros são mal humorados e viajam de cara amarrada, procurando motivos para criar caso e como quem procura sempre encontra, a viagem termina sempre com bate-bocas e tabefes.

Mas quando se viaja nos ônibus da Viação Santa Molezinha tudo é diferente, porque coisas engraçadas acontecem em todas as viagens e os passageiros nem se surpreendem mais, é normal o anormal acontecer e os passageiros se divertem com os inusitados acontecimentos, rindo a mais não poder, é como se fosse um circo dos bons.

Na verdade o nome da viação é Viação Santa Mariinha, mas com seus carros velhos, sem nenhum conforto e com seus enormes atrasos, ganhou o apelido de Santa Molezinha, porque os chocoalhantes ônibus tem horário para sair de um ponto, mas só Deus sabe quando chegará a outro, mas como é um circo ambulante, ninguém reclama.

A região servida pela Santa Molezinha é o sul de Minas Gerais e como as cidades são bem próximas umas da outras, os velhos ônibus até que servem bem; os apressados não devem viajar por eles, porque eles vão, mas vão devagar quase parando e pessoas aflitas podem sofrer um ataque cardíaco com a ansiedade da espera.

A linha de Santana do Peixe a Vargem Alegre, é muito concorrida e é também a mais lenta, porque o motorista para o tempo todo para pegar passageiros na estrada e para atrasar ainda mais entra em todas as pequenas cidades do percurso, mas é nessa linha onde acontecem as coisas mais divertidas e a viagem se torna alegre e descontraída.

Em uma viagem os passageiros sentiram um cheiro forte de maconha dentro do ônibus , mas com medo de ter algum traficante por perto ninguém reclamou; viajaram com aquele cheiro desagradável até a rodoviária de Santana e quando o bagageiro foi aberto viram seis sacos cheios de esterco de boi e ai descobriram que cocô de gado tem cheiro da canabis

Muitas pessoas de Santana do Peixe trabalham na vizinha Vargem Alegre e no horário da manhã e no da tardinha, os passageiros são os mesmos e sempre tem alguma coisa acontecida no ônibus para contar em casa; uma tarde um bêbado sujo e cheirando xixi embarcou em Vargem Alegre, se assentou perto de uma senhora e dormiu em seguida.

Em cada parada, o bêbado acordava e perguntava: já chegamos em Lavrinhas? Dormia novamente e quando o ônibus parou em Carmo, ele desceu, entrou no barzinho da pequena rodoviária e disse: fico por aqui mesmo, eu quero mesmo ir é pra São Paulo, uma hora dessas eu chego lá, foi aplaudido pelos passageiros que se livraram do mau cheiro.

Quando o Molezinha conseguia chegar em Santana do Peixe, os usuários cansados e empoeirados queriam descer rápido e correr para suas casas, mas naquela tarde isso foi impossível, porque uma velhota parou na porta do ônibus e gritou: motorista, dá tempo de fazer xixi? O motorista disse: se correr dá, mas a coitada era surda

Sem ouvir a resposta do motorista, a coitada continuava gritando sua pergunta, até que um dos passageiros que queria descer, disse: sai da porta velha, quero descer, foi uma bagunça : a velha gritando sua pergunta, o motorista respondendo e os demais passageiros protestando, para completar uma senhora gorda falava no celular aos berros.

A gordinha gritava: Fausto, o ônibus ta atrasado, daqui a pouco to ai, meu bem, pode me esperá e no meio daquela confusão toda, o motorista gritou: to saindo gente e é agora, Os passageiros tiraram a velha do caminho e desceram correndo, a velha com o tranco que levou soltou o xixi ali mesmo e a gorda do celular continuou gritando pelo Fausto, e assim terminou mais uma viagem da Viação Santa Molezinha.

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA