É...O CRENTE
É... O CRENTE!
Aquele era um verdadeiro crente, abaixava a cabeça e orava, para complementar sua devota oração, ele cantava hinos e era muito apreciado porque apesar de ter uma voz estridente, ele era bem afinado e se as vezes se esquecia de um ou outro verso, ele terminava com palavras ouvidas e aprendidas com as alegres e bem educadas crianças de sua rua.
Jessé tinha seus altos e baixos, mas felizmente mais altos do que baixos e estava sempre pronto para cantar seus hinos ou recitar seu palavrório em alta voz; sua dona as vezes estava de mau humor, mas o caridoso Jessé estava sempre por perto para aliviar seu baixo astral, porque além de ser um exemplar religioso, ele era também muito carinhoso.
Encastelado em seu aposento, o crente Jessé estava sempre ocupado, comendo frutas ou cantando seus hinos religiosos; ele sabia poucos e tinha predileção por um realmente lindo, que começava falando em tempestade e terminava prometendo bonança para os bons filhos de Deus Pai, mas se sua querida amiga precisasse de um agrado, ele cantava.
Ele era quase um astro naquelas redondezas, quando elevava sua bonita voz em louvores, os vizinhos deixavam seus afazeres para desfrutar do prazer de ouvi-lo, ele humildemente recebia as atenções de seus apreciadores e terminava sempre dizendo algumas palavras que provocavam alegres risadas; Jessé era uma verdadeira benção, aleluia.
O fervoroso crente era um papagaio, que viveu alguns anos com uma família muito religiosa e com eles aprendeu o poder da oração e seu hino mais apreciado começava assim: A tempestade vai passar e daí ele não passava, porque o resto do verso ele acabou por esquecer e como as pessoas riam do seu jeito engraçado de repetir varias vezes a mesma estrofe, ele completava no popular: Vai pra puta que o pariu... Jessé era mesmo um crente, se era!
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA