A PEDINTE DE SÁBADO

A PEDINTE DE SÁBADO

Cai a noite de sábado e um dedo se apóia na campainha. O portão se abre e a figura ali na frente sempre com a mesma pergunta: “Tem alguma coisa aí?” A resposta pode ser positiva ou não. Caso seja negativa, pergunta se não temos um real para comprar um pão. Se gravasse todas as visitas dessa senhora e reproduzisse num CD teríamos um mantra. A mesma inflexão de voz na mesma pergunta de sempre. Ela sairia vestida pudicamente como sempre tendo a grande sacola na cabeça num andar peculiar de outras épocas embalada ao som crescente a cada parada. Nesse ritmo nossa amiga caminharia incansavelmente por onde seus pés a levassem.

Ela vem não sei de onde e vai não sei pra onde. Já a vi em outras paragens. Entre elas, Itaoca. Ela perambula por aí sempre pedindo. Seu mercado é imenso e variado. Em cada casa uma experiência, eu presumo. Precisa sustentar sua família. Não tem filhos, mas tem sobrinha com filhos. Penso uma coisa comigo: deve abastecer a família em troca da moradia. Negócio nada justo, porém necessário para essa senhora com mais ou menos sessenta anos e sem expectativa melhor. A vida é injusta, mas ela sorri. De vez em quando me conta uma novidade. É bastante educada e me deseja feliz Natal e feliz Ano Novo em dezembro.

Sou bastante simpático a essa senhora insistente que parece levar ao pé da letra as palavras bíblicas “pedi e dar-se-vos-á”. Ela tem uma certeza estranha ao parar no meu portão. Talvez venha me ensinar um novo modo de vida, menos apegado e de mais esperança.

Oswaldo Eurico Rodrigues
Enviado por Oswaldo Eurico Rodrigues em 01/06/2010
Código do texto: T2292387
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