Previsões

Digitei vagarosamente as últimas letras que insistiam em fugir-me da memória e salvei o texto. Fiquei ali imóvel por alguns instantes observando as letras estáticas. Meu mundo cabia ali dentro daquela tela colorida, recheada de personagens e histórias fantásticas. Cheia de heróis, bandidos, príncipes e princesas. Demorei a decidir-me por ir deitar. O sono não vinha. Desmanchando lençóis, pensamentos confusos e obscuros tomaram-me de assalto. Minha companheira fiel das madrugadas chegara mais cedo que de costume. A insônia tomava-me em teus braços e insistia em não largar-me. Angústia, inquietação e uma amarga sensação de incapacidade. Mais uma vez a lembrança aterradora se fez viva em minha mente. A imagem carcomida da velha cigana projetou-se diante de mim como num passe de mágica. Cinco anos são mais do que suficientes para que uma mera visita à cartomante seja facilmente esquecida. Mas só agora eu me dera conta que aquilo que a cigana me vaticinara tornava-se real sem que eu percebesse. Senti um frio estremecer-me por dentro...

A televisão ligada, às três da madrugada, exibia cenas que eu custava a enxergar. Minha vida havia tomado um rumo que em muito se assemelhava com minha televisão. Ficava o dia todo falando com as pessoas, e à noite, onde o silêncio anuncia minha solidão, desperdiçamos palavras com o vazio solitário do meu quarto.