Idiossincrasia do Poeta
Os dois amigos conversavam animadamente sobre o poeta Mario Quintana.
Riam gostosamente quando se lembravam das “tiradas” do velho poeta, como daquela vez em que perguntaram a ele o que achava de uns certos intelectuais do cinema novo. Foi moda, após uma sessão de cinema, um grupo muito selecionado permanecer no recinto do cine para as discussões intelectuais sobre o filme. E estes “intelectualóides” enxergavam ângulos e mais ângulos sobre a história do filme. Inventavam ângulos, descobriam ângulos novos, viam ângulos secretos. Uma loucura! Perguntaram ao poeta sobre esses intelectuais. A resposta veio imediata: - São uns angulistas!
Um dos amigos chegou a lembrar que o Mário tinha suas idiossincrasias, uma delas, muito conhecida, era de que quando queria encerrar uma conversa muito chata ele começava a falar “Tá?”, “Tá?” E se o interlocutor não entendesse, ele emudecia e não falava mais.
- Ah! então ele bancava o inhô, na Câmara?- fala um dos amigos
- Inhô, na Câmara?
- É, vou contar a história para você entender. Muito antigamente, lá em Mato Grosso, em uma cidade chamada Rosário-Oeste, foi eleito vereador um roceiro do local, que mal sabia falar. Era conhecido como “seu Inhô”. O homem, com medo de “pagar um mico”, simplesmente permaneceu nos quatro anos de vereança na Câmara sem dar uma palavra . A expressão pegou na cidade e até hoje ela é muito usada pelo pessoal. Todo cara “caladão” era logo chamado de “inhô, na Câmara”.
Realmente, muitas vezes o nosso poeta emudecia, dava uma de “inhô, na Câmara”. Na maioria das ocasiões, no entanto, revidava as bobagens que ouvia, como naquele caso do político ignorante, que querendo agradar, se dirige ao poeta e diz: - Gosto muito dos seus versinhos. E Quintana, agradecendo: - Muito obrigado pela sua opiniãozinha.
Pergunta o amigo, que desconhecia a história do “inhô, na Câmara: - cara, o que você acha que o poeta, se fosse vivo, iria comentar sobre esse papo nosso, será que gostaria ou daria uma daquelas respostas inteligentes e acachapantes em cima da gente?
- Não sei, não! É melhor, na dúvida, ficar inhô, na Câmara, tá?, tá?
- Tá!