Entre Irmãos: O Desaparecido (PRIMEIRA PARTE)
Eram três as figuras que caminhavam por aquela rua gelada. A noite já havia caído há muitas horas, e Londres estava com um ar ainda mais casual. O tapete branco que a neve fizera era pontilhado rua acima pelas pegadas daqueles sujeitos. Param antes de uma esquina quando um quarto homem saiu de uma cabine telefônica.
- Tenho suas informações – disse secamente o homem que havia aparecido – mas haverá um custo, é claro.
Um dos três homens estendeu uma maleta.
- Cinco mil libras.
- Ótimo – completou o quarto dos sujeitos com um sorriso torto – aqui está – e lhes entregou um grande e amassado envelope. Virou-se e foi embora.
Os três indivíduos ficaram olhando ele se afastar.
- Está cada vez mais complicado encontra-lo. Espero que quando encontrarmos o Carlos esteja tudo bem com ele – comentou o mais alto do grupo, olhando para o envelope. Na sua cabeça passaram mil imagens do grande amigo que há muito havia desaparecido.
Voltaram até o hotel onde estavam hospedados e se reuniram em torno da mesa. Dias antes, após verificarem que Carlos tinha desembarcado na capital inglesa, voaram até lá e contataram um velho conhecido e ex-agente da Scotland Yard para que conseguisse alguma pista do amigo desaparecido. O resultado daquele trabalho estava dentro do envelope sobre a mesa.
- Pietro, abra você – pediram.
Encontraram uma foto preta e branca com data e hora. Como constataram, a imagem fora feita por uma câmera do aeroporto, e mostrava, nitidamente, Carlos sendo puxado pela mão por uma mulher. Era morena e mais baixa do que ele, mas certamente causava espanto. Devia possuir grande poder para conseguir dominar Carlos daquela forma. Ainda mais por saber que ele não tentou gritar por socorro.
- Miserável! – vociferou Fábio, que era o mais alto do grupo, socando a mesa – nosso colega deve ter sido muito maltratado, vejam a expressão dele! – na foto, Carlos sorria levemente – Deve estar sob o efeito de uma mágica muito poderosa – colocou o rosto entre as mãos e ameaçou chorar.
- Temos de encontrá-lo o mais rápido possível, rapazes – disse Pietro enquanto polia com a camisa seu soco-inglês comprado mais cedo.
- Acho que sabemos onde ele está – interrompeu Milton, que estava sentado um pouco mais longe dos outros dois examinando o envelope, enquanto retirava um pequeno papel lá de dentro – temos aqui um endereço... e um telefone.
Enquanto o telefone chamava, os três discutiam. Fábio iria apenas ouvir quem atendia a chamada. Pietro argumentava que estava tudo errado, que não deveriam ligar, mas sim ir procurá-lo no endereço informado. Milton concordava com Pietro, e dizia para Fábio as coisas terríveis que ele sofreria caso falasse algo no telefone.
- Alô – uma voz familiar atendeu.
A expressão de dor era nítida no rosto de Fábio. Havia reconhecido a voz de seu amigo desaparecido e um forte impulso para que respondesse crescia cada vez mais.
- Alô – repetiu.
Não disse nada. Nem um pio. Estava se superando. Iria agüentar, pensava.
- Alô-ô? Quem está aí? – Carlos perguntou, não deixando dúvidas a Fábio de quem era.
- CARLOS! CARLOS É VOCÊ! MEU DEUS!? – Não se contendo mais, explodiu. Sentiu um chute na perna. Depois ouviu Pietro lhe desaforar.
Contudo, não houve mais resposta. O telefone ficara mudo depois que Fábio chamou por seu amigo. Que grande erro, culpava-se em pensamentos. Agora, provavelmente revelara ao captor que sabiam onde encontra-los. Precisavam ser rápidos e ir até lá antes que Carlos fosse arrastado para outro lugar.
- O QUE ADIANTOU FALAR!? ME DIGA!? – gritava Pietro do banco de trás do carro.
- Eu pensei que ele responderia! Mas acho que não deu tempo – Fábio desabou em lágrimas.
- Não chore irmão. Iremos encontrá-lo a qualquer custo – o terceiro do grupo tentou consola-lo enquanto dirigia.
Os motivos que entristeciam Fábio eram fáceis de compreender, pois eram os mesmos sentimentos que assolavam os outros dois. Era um final de semana quando Carlos sumiu. Os quatro trabalhavam para uma agência brasileira responsável por investigar e combater o sobrenatural, caso ele viesse a representar perigo. Eram especialistas da DICCE (Divisão de Investigação e Combate a Casos Extraordinários), e conseguiram folga naquele fatídico final de semana para beber e colocar os assuntos em dia. Mas Carlos não apareceu nem pode ser encontrado. Descobriram, dias depois, que ele havia viajado. Não deu notícias nem deixou recado algum. Resolveram investigar e perceberam que havia mais alguém junto com ele, pois todas as passagens que compradas eram para dois lugares. Algo estava errado. Informações do alto comando da DICCE diziam que ele havia sido capturado por, provavelmente um vampiro de alta periculosidade. Vampiro, pois viajavam somente a noite. Alta periculosidade, por que conseguira capturar o brutamonte Carlos, que já havia participado a mais de cem assaltos a covis de vampiros. Depois disso, saíram em busca do amigo. E naquela noite de inverno descobriram o paradeiro exato de Carlos. Fábio havia sido mal sucedido na ligação, e agora estavam desembarcando, fortemente armados, do carro alugado que Milton pilotara até o endereço indicado.
CONTINUA