Bruna/Kátia... Ambas perdidas no amor...
Um rosto doce, de que a vida era como se desejava... Sem ambição, era apenas uma menininha que acreditava no amor. Ah! Não era essa utopia. Pois ela lia nos livros, ouvia nos rádios as novelas cheias de romances. Ela sabia que poderia ser real. Uma menina doce, assim como seus jeitos meigos, que se perdia nas ruas ao brincar e cantar, alto cantava... E assim ela sonhava...
Menina de bochechas rosadas, de olhos como diamantes, brilhavam sem igual... Seu nome era Bruna. Bruna a menina que sonhava sem medo. Mas o tempo passa depressa. E ele mata todos os sonhos, até mesmo os daquela pobre menina. Dez anos haviam se passado, beirava seus 25 anos. Corpo maravilhoso, amante de muitos homens, havia se perdido em muitas estórias 'calientes', havia se tornado a maior rival de muitas mulheres casadas. Era agora, Kátia. Teu nome, Kátia. A despertar os desejos mais quentes, os sonhos mais acalentados pelos homens da região. Era ela a cobiça de todos. Pequena cidade do interior há muito tempo atrás, vivia uma linda dançarina de Cabaré. Unhas vermelhas e grandes, que arranhavam as costas de todos seus homens, diziam gostar, mas era perigoso ao chegar em casa, tendo que esconder arranhões, e chupões em seus pescoços, ficando assim em dias quentes todos cobertos, e perto de sua morada, todos sabiam que tais homens haviam passado há pouco tempo pelas mãos e corpo da bela Kátia. Escondera seu nome, pobre coitada. Tinha ainda bochechas rosadas, mas não havia mais pureza. Ela se perdera no caminho para casa. Tão nova e já havia perdido teus pais. Sozinha morava até conhecer Estevan, chefe ou amante, quem sabe os dois?! Ambiciosa, alimentava relações perigosas, era o prefeito, o xerife, soldados, todos haviam tido pelo menos uma relação com aquela fogosa mulher. Mulher dos cabelos encaracolados castanhos, que deslizavam pelo seu corpo, num balançar que fazia ritmo aos seus quadris. E fascinava, aos homens; e constrangia, as mulheres. Kátia, que vislumbrava apenas o dinheiro. Era isso que movia as pessoas agora, era isso que fazia você ser respeitada e sonhava todos os dias, com a certeza de que mudaria de vida, se casando com um ótimo pretendente. Havia um único medo. Apenas uma única coisa a atormentava. Ela sabia, que a beleza e todas aquelas curvas um dia acabariam, e dariam lugar às rugas e manchas. E a velhice logo chegaria, e a deixava cada dia mais preocupada. O amor, já não lembrava. E quando perguntavam o que ela achava; desconversava. Era feliz do modo que vivia, dizia ela. E as pessoas debatiam. Não havia sobrado nada daquela menina doce que andava pelas ruas a cantar e sorrir. Ela não tinha, mas nada, não carregava consigo sequer uma lembrança, fez ela questão de apagar de seu consciente tudo o que vivera, há alguns anos atrás. E seu dia era comum, como o de outra mulher qualquer. Ao dia, dormia, descansava, cuidava de sua beleza. A tarde fazia compras e saia às ruas para se exibir. Ah! Isso poucas mulheres faziam! À noite, trabalhava, dando prazer aos homens da região, que ia até o bar, beber, rir e se divertir com os amigos, e querendo algo mais iria até a pequena pensão que existia atrás deste, para se satisfazer, pagando um alto cachê pelos serviços. Kátia não era a única menina que trabalhava. Existiam algumas outras, mas muitos quando não poderiam se deitar com Kátia, iriam com outras. Quando achavam melhor não ter marcas no corpo, também. Ao bater o sino da igreja às 18 horas, estava ela pronta para se entregar, claro que só o corpo, o coração havia esquecido em algum lugar, bem longe dali. A alguns anos de distância. Estevan, chefe de Kátia, era o primeiro a querer ter prazer, e eram todos os dias a mesma coisa. Às 18 horas, entrava ele no bar, a puxá-la pelo braço e a levava até o quarto que havia atrás do bar, uma pequena pensão. Talvez, essa fosse a pior hora que existia durante todo o dia. Ela gritava, e jogava objetos, apenas escutava-se do lado de fora isto. Poucos minutos depois tudo estava calmo, e ela ficava lá. Durante mais alguns minutos. E quando voltava havia lágrimas nos olhos e marcas em seus braços. Vermelhidões em suas pernas, e um profundo olhar de tristeza. Assim era toda à noite.
Logo depois se recuperava, se descontraía depois de alguns drinques que os freqüentadores ofereciam. Ela bebia, gargalhava, e depois de alguns cruzares de pernas e abraços apertados, ela era conduzida para o quarto mais próximo. E era assim todas as noites. Primeiro algumas lágrimas, depois altos sorrisos, sempre esbanjando inveja. Nessa noite ainda, por um homem que se recusava a pagar o feito de uma das amigas de Kátia, por dizer que não havia se satisfeito, quebrara cadeiras e garrafas, e foi expulso do bar, quase que morto, pois apanhara de Estevan e seus 'amigos'. A confusão foi feita, e as mulheres gritavam, os homens bebiam mais ainda. E muitas das brigas eram compradas, podemos dizer assim, pois quanto maior confusão, mais os homens bebiam, e se excitavam. Quinze dias depois do ocorrido, chega na cidade um rapaz bem vestido, que causara muitos suspiros entre as mulheres, embora tenha dito ser de uma família boa, era um Zé Ninguém, sem ter onde morar, vivendo na pensão do lado oposto a que Kátia trabalhava e morava. Fernando, um rapaz de bom caráter, belo, esguio e de olhos verdes, parecia não existir, tamanha a beleza. E as mulheres da pequena cidade enlouqueciam, mas apenas uma mulher o enlouquecia, era essa Kátia. A primeira vez em que foi ao bar, viu Kátia novamente sair chorando, enxugando suas lágrimas com as costas da mão. Ela fingia que não o via, ele a olhava ela virava o rosto, ele se fascinava. Mas ela sabia quem ele era. Um pobre rapaz, que não tinha um lugar para cair morto. Ele, sensibilizado com as lágrimas que insistiam em correr pela face dela, foi até onde estava sentada. E ela o olhou de maneira insignificante. E disse apenas: "Você tem dinheiro para pagar? Então saia daqui!" E foi só isso. Ele abaixou sua cabeça e saiu. Foi pela porta afora, com olhar mareado, olhando o chão. E as mulheres sem entender, a chamavam de louca, pois se ele não tinha dinheiro, paciência. Ele era belo, como os deuses gregos, como havia dito Gessy, que dizia ter lido em algum lugar sobre deuses gregos. Naquela noite ela não havia tido muitos clientes, e fora embora mais cedo. Na sua cama, ao olhar para o teto, lembrava de apenas um olhar, era sim o de Fernando.
Aquele olhar meigo, que se apiedava da situação em que ela se encontrava. E nunca ninguém tinha se importado. Ele em sua cama também, se lembrava com um sorriso no rosto, daqueles olhos tão tristes. E não se encontraram durante dias. Embora fosse uma cidade pequena, ele trabalhava na contabilidade de uma pequena empresa, e ficara dias em casa. Kátia andava todas as tardes pelas ruas, tentando encontrar aquele que havia se apiedado dela. Ela trabalhava e ao termino da noite ia para sua janela. Ele ia para a dele, mas não se encontravam. Ele a chamar por ela, ela a chamar por ele. E faziam os dois, juras de amor. E Kátia não se lembrava de como fazer, mas fazia. Ela não sabia o que era, mais sentia. E algumas lágrimas rolavam da face de ambos, mas era apenas alegria, saudade. Na noite seguinte, Fernando estava apto a ir ao bar onde Kátia trabalhava, pois agora juntara dinheiro para ter uma noite de amor.
Na noite seguinte, Fernando chegou ao bar, pediu um drinque, e esperou até que o sino batesse. Kátia, vinha de seu quarto chorando, e quando o olhou, simplesmente havia secado todas aquelas lágrimas. Como nunca antes. Ele a chamou, e disse que havia dinheiro para pagar. Então do sorriso fez-se o pranto, e no rosto dela via-se uma grande decepção. E não tinha sequer brilho. E não tinha sequer luz. Ela o levou até seu quarto e então o olhou dentro dos olhos.
_ Vamos começar logo isso! _ disse ela, virando o rosto.
_ Eu não quero transar com você!
_ Como?
_ Eu não quero... Tudo o que eu quero agora é que você converse comigo.
E então do pranto nasceu um sorriso. Ambos riam de suas estórias, umas inventadas, outras exageradas. Mas sinceras. Porque assim queriam, desejavam que fosse, embora não vividas. E combinaram de conversar outras vezes. Ele havia pagado pelo tempo que havia gastado, e nem sequer um beijo. E nem sequer um abraço. O sorriso que saia dos lábios de ambos, eram sinceros.
Assim, foi por dias. Conversavam na feira, no mercadinho. Na padaria. Se encontravam no salão de beleza. Porque não deveria, jamais saber, Estevan do que acontecia. E viraram amigos. E algum tempo depois amantes. Numa tarde chuvosa, raro de se acontecer ali. Todas as portas fechadas. Kátia que se encontrava na rua, foi até a pensão onde Fernando se encontrava, e ali passara a tarde. Chegara toda molhada. Soltando os cabelos, que antes estavam e um coque, destruído pela chuva. Entrou no quarto de Fernando, e tirara a roupa. Esta falava de amor, e ele escutava apenas. Até que não mais do que de repente, eles se beijaram freneticamente, e seus corpos, agora nus, se encontravam. E em meio aquelas curvas estonteantes ele se encontrava, e se completavam, em perfeita simetria. Em perfeita sintonia, ritmo frenético, um vai e vem incansável. Em beijos e sussurros calorosos, despertaram ambos uma paixão que pareciam adormecida, no mais profundo íntimo de ambos. E haviam se entregado. Ambos, um ao outro. Viravam amantes, companheiros. Mas o tempo passara rápido demais. E ela percebera que não poderia estar ali, ao lado dele, havia todo um futuro, e que ele não poderia dar a ela. Ele dormira em teu colo, e aos poucos ela ia se desvencilhando, até a saída. Ela havia decidido sair por aquela porta afora. Deixando ele dormir, sozinho, naquela cama antes quente, agora tão fria. No mesmo dia, Estevan havia sentido falta de sua mulher, Kátia. Assim a chamava. E então, ao vê-la entrando pela porta, batera nela ali mesmo. No bar, na frente de todos. E não se sabe como, Fernando chegava logo atrás dela. E uma grande briga havia começado. Entre socos e pontapés. Cadeiras que voavam, e gritos desesperados das mulheres. Até que sem tempo, Estevan gritou."Kátia casa comigo, daqui há pouco tempo!" Fernando então parou, e assim foi agredido por Estevan, cortando seu rosto. E algumas gotas de sangue a mostra. Fernando foi ao chão. Sem poder pensar, falar, chorar. Simplesmente vegetou por algum tempo. Nada fazia. Nada poderia fazer. Kátia apenas chorava. E Fernando apenas perguntou, "Porque?" E Kátia a dizer que era o melhor para seu futuro, logo estaria velha e não mais poderia trabalhar. Precisava ser sustentada. Não amada. Amor não enchia barriga, não sustentava. E ela então entrou. Fernando no dia seguinte foi embora, com sua mala, cheia de lembranças. Sem olhar para trás. Kátia, alguns meses depois se casara com Estevan. Agora, há marcas por todo seu corpo. E no coração uma grande ferida. Fernando ela não esquecia, mesmo que passado tantos anos, ela não esquecia. De Fernando, nada mais se soube. Alguns boatos rondavam e ainda diziam ser cafetão, assim como Estevan.
Diziam que ele vendia mulheres, seus corpos. Mas não se sabe ao certo. E tudo acabou assim. Estevan agora morto. Kátia ou Bruna, não se sabe também. Não havia restado nada das duas mulheres que embora vivessem no mesmo corpo, tão distintas eram.
Vivia sozinha, amargando o passado, pelas suas escolhas erradas, com marcas e rugas, com um coração que nunca foi inteiro.
Que ainda amava Fernando. E este ainda a amava.