Breve conto de amor.

Ele era ele mesmo. Acho que isso me interessou. Não me importei em ser ou não corrupto. Político, médico, advogado. Na realidade, não me lembro nem o que era. O que me incomodou foi o sorriso e o brilho nos olhos, ao mesmo tempo sinceros e falsos, ao mesmo tempo convidativos e repulsivos. E amei aquilo nele. Era como ver um espelho e ele sabia disso. Mas... não sei, não importa.

Segui, clichês, sentei ao lado dele, clichê, pedi um Martini (rosé, por favor), clichê, ele sorriu e falou que era por conta dele, clichê. Eu agradeci. Conversamos e, talvez por medo de escutar o nome de uma profissão indesejada, nem nos perguntamos no que trabalhávamos. Ele passou horas falando sobre a beleza dos meus olhos, ou do copo de cristal, deveras não há diferença. Senti uma breve idéia se formar, e todos os meus sentidos me incitavam a isso. Pedi licença, fui ao banheiro. Retoquei a maquiagem, voltei. Fomos embora, chamei-o para subir e ele subiu. Claro, sem compromisso, como quem quer conhecer a casa onde vai morar se tudo der certo. E sem compromisso nos amamos e a cada hora eu estava mais envolvida.

Breve história de amor, quando percebi que o fim estava próximo, mas não o meu fim, o fim daquela fantasia de bar, que começou 6horas atrás, resolvi terminar do meu jeito. Disse a ele que tudo havia sido lindo e que só tinha um jeito de continuar lindo, ao menos na minha cabeça. Dito isto, peguei uma faca e cravei-a no peito, no pescoço, na cabeça. Matei-o. Não, não me arrependo. Amo-o hoje, morto, quando sei que não pode me decepcionar. E quando calei todas as vozes que me diziam para amá-lo. Calei essas vozes porque agora realmente o amo. Morto e cristalizado junto com todos os momentos bonitos.

Aline Fall.

Eduarda Daibert
Enviado por Eduarda Daibert em 23/05/2010
Reeditado em 23/05/2010
Código do texto: T2274394
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