A Garota da Faculdade      
 
 
 
            Conheci Luiz Eduardo no início das aulas na faculdade. Um cara gente boa, simpático e di(per)vertido. Não podia ver passar uma mulher. Era fixação mesmo. Engraçado, para não dizer louvável, é que ele não tem uma preferência: alta, baixa, magra, negra, amarela, loira... foi mulher, o bicho se entrega, corre atrás, cerca, devora e descarta.
            Isso mesmo, descarta. E não pensem que isso é fácil para ele, cansei de ver o caboclo sem saber como findar o relacionamento, todo preocupado, sentido, mas ele vai lá e, como ele mesmo diz, pega sua alforria.
            O cara é um quarentão bem resolvido, na verdade, quase bem resolvido. Às vezes nos utilizamos de algumas frases prontas, ditas aos montes por aí, mas no fundo não nos representa na totalidade.
            É que, apesar do bom emprego, de amar o trabalho, família e amigos, o seu coração continua um lugar, como posso dizer, semelhante a um camping, acho que essa definição cai bem, posto que pessoas vem e vão, estão de passagem, é tudo lindo, mágico, mas não ficam. Ele sempre diz que as mulheres que passaram na sua vida até agora, foram todas fascinantes, umas tatuaram-lhe a alma, outras apenas lembranças...
            E qual é problema? Vocês podem estar se perguntando. O problema é ele, ninguém mais (segundo suas próprias palavras). Não sabe o que acontece, vive apaixonado todos os dias, vinte e quatro horas, mas se desapaixona com uma velocidade impar e, quando menos espera, cá estar de novo apaixonado. Desconfia que a vida o premiou dando-lhe oprtunidades de colos diversos, bocas diversas, um ícone entre os solteirões, um conquistador nato, muitas vezes invejável sua desenvoltura com as mulheres, ele conseguia ser aquilo que cada uma precisa no exato momento, como se tivesse um mapa, uma bola de cistal, sei lá...
            Mas... Tchan, tchan, tchan...! Não é que o destino agora resolveu lhe pregar uma peça.
            Ela já tinha cruzado com ela por quatro vezes: a primeira, no dia da matricula da faculdade, meio de relance, apenas uma troca de olhar e silêncio; a segunda, dois dias depois num hiper mercado da cidade, sem troca de olhar, apenas ele a viu e a seguiu por algumas gôndolas, mantendo uma distância e, claro, silêncio; a terceira, novamente na faculdade (como é uma faculdade a distancia, tem-se aulas apenas um dia na semana, sexta-feira) e o cara vibrou pelo fato de ela ter aula no mesmo dia que ele, trocaram olhares mais efetivos, percebeu que ele também despertou sua atenção, mas silêncio; a quarta vez, na cantina da faculdade, enquanto comprava um suco de graviola com leite, ela esbarrou nele (mentira, ela ia passando linda com sempre e ele, inexplicavelmente, deu uns passos para trás até atropela-la), uma idiotice sem tamanho, mas que valeu uma troca de olhar a apenas 50 centímetros de distância um do outro ( na verdade um metro e meio) e outra vez silencio...
            Eu, sentado na mesma cantina, espectador daquela cena, vi meu amigo Luiz Eduardo parecendo um adolsecente.
            Veio decidido e me disse: “Que isso, preciso por um fim nesse silêncio! Vou procurá-la, está na hora (tinha passado) de me aproximar e conversar. Nem parece que sou eu – Duda Guerreiro!”.
            Que codinome ridículo, meu padim cicço!
            Bom, guerreiro ou não o cara foi mesmo e a encontrou, sentada lendo um livro, parou de bate-pronto e começou a reparar com calma, a viu desnuda, sem aquela calça jeans e a blusa verde, sem os brincos e colar, sem a pele negra, os cabelos pretos e lisos, sem os olhos também negros como a noite que embala os amores... Recuou... Recuou porque simplesmente sabia das suas fraquezas ou da sua covardia, afinal se conhecia bem ao longo desses quarenta e dois anos de vida... Sentiu-se diferente dessa vez, pairava um ar místico, um algo de composição como ocorre no encontro do rio com o mar. Percebeu que bastava se aproximar, perguntar seu nome e, até que ela respondesse, ele já teria gravado seu perfume, teria percebido com plenitude as nuances de seus olhos e boca, decorado suas curvas, ouvido a sintonia do seu coração e pronto, seria o suficiente para sua inseparável amiga insonia ficar repetindo em sussurros o nome dela noite a fora.
            Pois, então, essa é a realidade desse ex-gurreiro hoje: apaixonado por uma mulher que não sabe o nome, entre tantas outras coisas que ele não sabe, inclusive que não é paixão, mas amor.
            Prefere continuar assim, se dizendo apaixonado do que enveredar por caminhos que ele não sabe onde findam, acreditando ser algo passageiro.
             Quanto ao amor... Sei que ele alicerçou uma sólida construção onde outrora fora um camping, pois basta ver que tudo quanto este meu amigo viveu, agora não está lhe valendo. No fundo ele se sente uma criança sei saber lidar com algo de tanto valor.
            Como seu amigo só me resta continuar a ouvi-lo e encorajá-lo a se lançar ao mais intenso dos sentimentos.
 
             
Flávio Omena
Enviado por Flávio Omena em 22/05/2010
Reeditado em 15/06/2014
Código do texto: T2273556
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