Channel Nº5
Olho o relógio pela quarta vez e concluo que ele já não vai chegar.
Sinto uma pontinha de decepção e inexplicavelmente um desejo maior ainda por ele.
Todo meu corpo arde e pede para tocá-lo, sentir ele próximo, ouvir seu riso solto e sexy, ele sabe me seduzir, ele sabe usar os movimentos do corpo para atiçar meu instinto de loba, me vicia e some, me abandona saciada e volta quando menos espero, eu chamo e ele vem no minuto seguinte, ele chama e eu saio vestida de gueixa para saciar a fome que sinto por ele, mas o que mais a excita é que ele sempre me surpreende e eu adoro isso, não saber o que ele vai fazer no minuto seguinte.
Todos os homens que eu conheci antes dele eram tão óbvios, ele não.
Pressinto o sinal vermelho de “fuja enquanto é tempo”, mas algo nele me prende e me fascina como um imã, como um raio de sol aquecendo a pele, como vinho bom descendo pela garganta, deliciosamente viciante. Seco, forte, quente!
Sentimentos contraditórios, eu sozinha na mesa de uma restaurante esperando por ele, a dúvida da espera, a falsa indiferença porque ele não veio e o corpo sentindo a umidade ao pensar nele, a pele nua por baixo do vestido preto, salto alto vermelho e o Chanel nº5 misturado ao cheiro de sexo quando estou sentindo muito desejo como agora. Uma poção fatal! Veneno!
Pago a conta e saio como se nada estivesse acontecendo, um sorriso para o garçom.
Saio do restaurante sentindo olhos curiosos despindo meu corpo inteiro. Fico imaginado o que os homens vêem através de um fino tecido de seda, como funciona a mente masculina, gosto de imaginar o que pensam. Como desenham meu corpo através do tecido, eles jamais saberiam. Meu corpo guarda segredos que só meus amantes sabem e nem todos tiveram a sensibilidade de descobrir. Visto o casaco que estava na cadeira e me envolvo numa echarpe preta que tem o cheiro dele. Agora sinto saudade do corpo, da voz, das mãos e dos olhos dele. Os olhos dele me desnorteiam e me desafiam, ao mesmo tempo me fazem sentir amada, desejada. Ele me olha com um olhar de interrogação, não sei se retribuo, não sei se meus olhos têm a resposta que ele espera encontrar.
No táxi vez ou outra meus olhos cruzam com os olhos no motorista pelo retrovisor, deduzo o que ele pensa, porque eu penso o mesmo, talvez.
Meus olhos percorrem as ruas desertas, a luz fraca e misteriosa da madrugada e a chuva escorrendo pelo vidro da janela. Sinto meu corpo ansiando por um abraço forte.
Apenas um abraço. O abraço dele.
No hotel, abro a porta, acendo a luz do abajur, jogo a bolsa em cima da cama e vou caminhando em direção ao banheiro despindo-me ao mesmo tempo o vestido e a echarpe de seda, o casaco, o sapato vermelho vão caindo pelo chão até eu ficar completamente nua.
No chuveiro a água morna, o cheiro, o toque na pele macia e um só pensamento:
- Porque esse homem me excita tanto? Porque simplesmente não o descarto como faço com outro qualquer e esqueço que ele existe?
Volto para o quarto, nua, a pele ainda escorrendo gotas de água e os cabelos ainda molhados. Apago a luz do abajur e ainda absorta em pensamentos confusos, uma voz:
-Não acenda a luz.
Meu corpo reage instintivamente. Sei que é ele.
Em minutos sinto as mãos fechando uma venda em seus olhos e mãos percorrendo meu corpo suavemente, mas pressionando nos lugares certos, onde sinto mais prazer, ele conhece meu corpo: a nuca, as coxas, os seios, as ancas.
Mas algo me excita ainda mais, a voz está longe e as mãos estão agora no meio das minhas coxas. Não quero pensar, já não consigo. Entrego-me
-Quero você! Ele diz.
Sinto sua voz, sinto seu cheiro mais próximo e mais, até que seus lábios tocam os meus e sei que ele chegou, finalmente.
Não sei se a outra pessoa está assistindo a tudo, ou se foi embora, não sei se era um homem ou uma mulher, não sei.
Só sei que me perdi em momentos de prazer que nunca senti antes. Só consigo dizer:
- Você demorou tanto!
Amanhece e estou só na cama, um bilhete no travesseiro ao lado...
-Eu volto