Viver minha vida primeiro
Estava contando o dinheiro que ganhei pelo ultimo mês de trabalho.
- Quinhentos, quinhentos e cinqüenta, seiscentos, setecentos, setecentos e vinte. – eu conto em voz alta, pois senão me perco, olhei para a cardeneta na qual iria colocar as dividas as quais teria que pagar peguei a caneta Bic a minha direita e coloquei na primeira linha “água”, na segunda “luz”, na terceira “gás”, na quarta “bicicleta”, e depois olhei novamente o dinheiro, como eu poderia gastar o dinheiro de um mês inteiro de trabalho para pagar coisas pelas quais já usei? Isso e muito ridículo, mas bom se quero ser um homem honesto, não é? Olhei para a cardeneta, com a caneta ainda na mão, ao lado da palavra “água” marquei R$ 24,00, logo abaixo ao lado de “luz” R$ 52,00, olhei para as letras em forma de garrancho, nunca fui muito bom em caligrafia, olhei novamente para os meus setecentos e vinte reais que estavam do meu lado esquerdo e acima da cardeneta os boletos que teria que quitar, eu não conseguiria, não agora, eu não teria muito dinheiro de sobra, o Maximo para comprar a comida, e ainda havia me esquecido de colocar o telefona, logo que pensei nisso automaticamente minha mão se moveu e colocou logo abaixo da palavra “bicicleta”, “telefone”, olhei novamente para o papel, “bicicleta”, eu ainda estava pagando uma coisa que eu comprei a três meses, e nem tinha usado ainda, comprei só porque estava em promoção, a propaganda bonita dizia “compre esta bicicleta pela metade do preço e ainda financie em dez vezes no boleto bancário” nem me importei se iria usar mas eu fui ate a loja no outro dia e me endividei, nem pensei que durante dois meses eu ainda teria que pagar a televisão, que esta na estante da minha sala, e eu nem tempo tenho para ver televisão quanto mais andar de bicicleta, eu sei e muito ridículo, eu trinta e três anos, na verdade estou fazendo trinta e três anos hoje, e acho que merecia um presente alem do que minha mãe vai me dar, mas não eu tenho que pagar a bicicleta que eu não uso, olhei novamente para o meu salário de um mês trabalhando duro, e para a cardeneta, me movi para colocar o que teria que pagar de gás, mas não consegui, me levantei, olhei para meu dinheiro, peguei todo o meu salário, fui ate meu quarto, da quitinete que eu moro, peguei min há mochila coloquei todo o dinheiro no bolso da frente, peguei duas camisetas, um calção e uma calça do meu guarda-roupas, pegeui na gaveta algumas roupas intimas, e meias, peguei meu tênis, e um chinelo Havaianas do chão e coloquei tudo na mochila, sai de casa sem me preocupar em trancar, se quiserem levar aquela porcaria de televisão não tem problema, peguei a bicicleta que deixo logo na frente de casa, subi e sai andando, fuik ate a bicicletaria, um homem alto e extremamente forte me atendeu.
- O que quer? – ele perguntou.
- Trocar. – respondi fazendo um sinal para a bicicleta.
- trocar por uma mais nova? – ele perguntou desconfiado avaliando meu produto de troca.
- Não – eu disse obstinado.
- Então? – ele ainda mais desconfiado.
- Uma mais velha, mas que funcione. – eu respondi.
- Hum, ele esta quitada? – ele perguntou me avaliando agora.
- Não. – eu respondi. – faltam sete, oito parcelas de trinta e três reais. – e a bicicleta custava exatamente a minha idade.
- Não sei não. – ele disse.
- Eu só quero trocar, e dou cinqüenta reais. – eu implorei.
- Eu te dou uma que vale cinqüenta. – ele disse.
- Uma de cem. – eu barganhei.
- Uma de setenta. – ele disse.
- OK. – eu respondi.
- Certo deixe ela ai, e pegue a que esta encostada ali na parede. – ele disse me apontando uma bicicleta vermelha, bem cuidada, mas antiga, bem mais antiga que a minha.
- Certo – fiz o que ele disse, peguei a bicicleta, e tirei na mochila cinqüenta reais, entreguei na mão do homem, ele pegou, e me olhou eu sai da bicicletaria em direção a avenida que cortava a cidade e era a ligação da pequena cidade que eu morava com a cidade vizinha, duas horas de carro, quanto será que eu gastaria de bicicleta?
Continua.