"O DANÇARINO FELIZ" Conto de: Flávio Cavalcante

O DAÇARINO FELIZ

Conto de:

Flávio Cavalcante

Ed andava meio cabisbaixo com essas tempestades que passam em nossa vida, que na maioria das vezes chegam a esquentar veemente a nossa cuca. Parece que quando estamos passando por esse momento, o mundo desaba em nossas cabeças. Tudo anda pra trás, nada dá certo. Tudo e todos ficam contra a gente; enfim, vira um caos, a nossa vida muda de mal pra pior. Mas sempre depois de uma tempestade, o sol volta a brilhar novamente, contudo, nem todo mundo tem a propriedade de encarar o problema como uma nuvem passageira.

Ed é do tipo de homem que encasqueta com qualquer coisa e bastou acontecer essa fase ruim, pra ele entrar num verdadeiro redemoinho de preocupação, desespero e tensão. A depressão foi inevitável e o que ele queria mesmo era se afastar de tudo e de todos.

Trancafiou-se dentro de sua casa sem querer ver absolutamente ninguém. A nuvem negra parecia não querer largar do seu pé e Ed por sua vez, já estava entrando em parafusos. Quando saída de dentro do quarto era para no máximo ir á esquina comprar um jornal, um pão e corria pros braços do seu leito o resto do dia. Parecia um doente em estado terminal; um cachorro acuado com o vírus da raiva.

Alguns amigos tentaram de alguma forma se passar por psicólogos e deu-lhe bons conselhos, a fim de tirar o amigo daquele estado deplorável, mas não obtiveram muito êxito. O que Ed queria mesmo era viver no seu mundo de solidão e de preferência sem ter ninguém por perto pra impedir dele viver aquele momento único e de tristeza profunda.

As coiçadas eram certas quando os amigos de Ed, iam visitá-lo e ele tinha que por obrigação fazer sala a um monte de “psicólogos conselheiros que ditavam regras do que ele deveria e não deveria fazer na sua vda. Aquilo irritava intensamente o rapaz e o seu sistema nervoso ia á pico.

Remédios pesados para dormir, ele tinha de estoque e quase que por obrigação de tomar; pois, todas as noites nessas fases de suplício, eram insones.

Num determinado dia de crise, Ed, não estava vendo mais sentido para a sua vida e resolveu cometer um ato de covardia em cima dele próprio. Amanheceu chorando muito, fez uma carta para a sua família e seus amigos explicando o motivo de sua atitude que nem ele mesmo sabia o porquê e saiu sem comentar para onde ir. O plano macabro já estava traçado e Ed foi direto ao centro da selva de pedra. Entrou num dos prédios mais altos da cidade, pegou o elevador e subiu para o último andar. Na cobertura tinha acesso a uma escada o levaria á uma sacada praticamente de queda livre, para facilitar o trabalho de manutenção daquele penhasco. Na subida da escada tinha uma imensa placa com dizeres alertando o perigo e que aquela subida era exclusivamente para pessoas autorizadas, o que não foi obedecida e Ed acabara de encontrar o local propício para saciar sua fome de loucura. Ed pôs os pés no parapente e quando já estava no ponto de se jogar, olhou para baixo e viu um dançarino feliz que dançava um frevo como ninguém e o pior; o homem era desprovido dos dois braços.

Aquilo chamou a atenção do Ed, fazendo-o abrir aquele sorriso de felicidade. Aquilo fez explodir de suas entranhas uma nova esperança de vida; pois aquele homem dançarino feliz, acabara de salvar a sua vida.

Desistindo da façanha, Ed, não se conteve de tanta felicidade e desceu pelas escadas do prédio, esquecendo até que lá tinha elevador a fim de cumprimentar o dançarino ladino feliz.

Chegou ao térreo com um palmo de língua pra fora de cansaço e quando chegou perto do cidadão, Ed foi tentar dar um abraço, mas lembrou que aquele anjo de sua vida era desprovido dos membros. Tentou de várias formas agradecer ao homem responsável por sua vida, mas o dito não dava trégua e rebolava, sorria, gritava e até chorar chorava e com muito sacrifício, Ed conseguiu finalmente agradecê-lo com um grande abraço apertado.

MUITO OBRIGADO, MEU AMIGO. VOCÊ ACABOU DE SALVAR A MINHA VIDA. EU ESTAVA LÁ DE CIMA DESTE PRÉDIO, QUERENDO TIRAR MINHA PRÓPRIA VIDA, POR CAUSA DE UM PROBLEMIINHA TÃO BANAL E VI VOCÊ SEM OS DOIS BRAÇOS E NESSA ALEGRIA TODA... NÃO ME CONTIVE... VIM AQUI LHE AGRADECER.

O aleijado não conseguia parar de pular o seu carnaval e retrucou de imediato.

EU LHE AGRADEÇO. MAS O MEU PROBLEMA NÃO É FELICIDADE, NÃO, MEU AMIGO.

Retruca o aleijado tentando se explicar para o Ed, que sem entender arregalou os olhos e perguntou.

E É O QUE ENTÃO?

Sacando-lhe uma resposta sangradora o aleijado retrucou olhando bem dentro dos seus olhos.

EU TÔ É COM UMA COÇEIRA NO RABO E NÃO POSSO COÇAR...

MORAL DA HISTÓRIA, POR MAIOR QUE SEJA O NOSSO PROBLEMA, SEMPRE EXISTIRÁ ALGUÉM EM SITUAÇÃO PIOR QUE A NOSSA.

- FIM -

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 21/05/2010
Código do texto: T2269878
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