ASPIRANTE AO SUCESSO
Cessara a chuva. O vento sudeste limpou o céu. Os reflexos dos raios solares sobre as gotículas espalhadas sobre o gramado, defronte a estação ferroviária, imitavam diamantes.
Rosvaldo aguardava ansiosamente na plataforma, o trem que o levaria à Curitiba. Na espera, curtia o perfume das flores, o cheiro da terra molhada, que agradavelmente impregnaram suas narinas.
Os sentidos dos interioranos são parecidos aos dos pintores ou poetas. Captam na natureza uma riqueza de detalhes, odores, sons e imagens. Sim, com singular sensibilidade, conseguem visualizar pormenores nos microorganismos que, normalmente, passam despercebidos a maioria dos viventes. Os citadinos de grandes metrópoles estão mais preocupados em gestar fábricas de preocupações. Ignoram as benesses oferecidas pelo paradoxal modus vivendi simplista do campônio. Máxime, daquele ser que está afastado das parafernálias tecnológicas impostas pela famigerada globalização, TV, Internet, Celulares, iPoid, DVD...
Rosvaldo desperta de suas elucubrações e consulta o relógio. Fica ainda mais ansioso, o trem está com um atraso de mais de quarenta minutos. Teria descarrilado? Chegaria em tempo no seu destino? Queria estar bem repousado, pois no dia seguinte deveria apresentar-se para uma entrevista pela manhã num comércio de grãos na capital paranaense. A lida com cereais é sua especialidade. Estava concorrendo a uma vaga de comprador de mercadorias. Apanhou do bolso da calça o papelote onde estava gravado o endereço da firma, Av. República Argentina, bairro do Portão. Sentiu um frio na espinha ao pensar na possibilidade de não ser contratado. Se isto acontecesse, sabia que iria terminar seus dias igual ao seu pai; pobre e no cabo de uma enxada.
Quem havia indicado seu nome era o prefeito de sua pequena cidade, que conhecia sua competência na área de grãos. Sua madrinha, irmã de seu pai, havia lhe arrumado uma pequena importância para as primeiras despesas. Em sua cidade não havia oferta de emprego. Com sacrifício conquistou o mínimo que uma comunidade carente oferta; estudos. Sempre fora esforçado, viajava em lombo de mula, quinze quilômetros diariamente do pequeno sítio de seu pai ao povoado mais próximo. Com sacrifício concluiu o segundo grau. Na biblioteca da cidade ele era um dos leitores mais assíduos. Tinha adquirido um disciplinado hábito de leitura. Adquiriu auto-confiança. Tornou-se mais exigente consigo próprio. Espantou-se com sua ousada maneira de se sobrepor às mesmices dos jovens de sua idade que, frustrados, se lançavam de cabeça ao alcoolismo ou outras drogas. Aprendera nos livros de que só poderá ocorrer vitória em qualquer empreendimento, ao elemento que se dispuser competir e para esta competição há necessidade da existência de uma férrea decisão em ser aquilo que o japonês chama de Itchiban, ou seja, o número um, o melhor.
Encheu os pulmões com o ar despoluído e sorridente, mentalizou: “Vou conseguir. A vaga oferecida será minha!” Encheu-se de esperança e principalmente de orgulho por crer em si próprio.
O apito do trem que se aproximava da estação faz novamente Rosvaldo interromper seus devaneios.
18/8/2006