Colecionadora de bulas.
Estou explorando esse novo gênero textual, espero que gostem, apesar da pouca prática!
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Quando completei doze anos, e estava entrando para quinta série, conheci várias meninas e meninos que colecionavam uma diversidade de coisas.
Como tudo é motivo para garotas e garotos desta idade formar um Clube, resolveram montar um clube de colecionadores que se reunia na hora do recreio.
Tinha uma porção de clubes na escola, e eu nunca podia participar, pois morava bastante longe e nunca podia me reunir com as garotas. Eu usava óculos, gostava de ler e tirava boas notas em matemática, isso era suficiente para afastar as garotas do meu convívio, elas achavam que eu só sabia falar de estudo.
Não colecionava nada ainda, mas quando iniciou o clube, eu resolvi que iria participar e me aproximar das meninas da classe. Comecei tentando colecionar Ursinhos de pelúcia, não deu certo, Figurinha também não achei graça, pensei em colecionar livros, mas não caberiam na minha estante pequenina e dividida entre meus irmãos, pensei , pensei e não encontrei algo interessante para colecionar. A professora de português vivia inventando, e pediu para a gente levar para um trabalho na escola uma Bula de remédio e uma receita. Iríamos estudar alguns gêneros literários.
Foi aí que me interessei. Minha mãe já colecionava receitas de pratos deliciosos, como gosto de ser original, optei por iniciar minha coleção de bulas.
Passava todos os dias após a aula na farmácia perto de casa e conseguia umas e outras de medicamentos diferente, quando tinha repetido, jogava fora a mais velha, uma amiga que trabalhava no posto de saúde do nosso bairro também sempre me dava as que conseguia no trabalho, meus tios compravam remédio de pressão entre outros, também conseguia com eles.
Passei a colecionar também, crônicas de jornais e revista; resenha de filmes da página de cultura; Fotos de flores, cães, gatos, peixes... E Calendários.
Colecionava tanta coisa que começou a faltar espaço, antes ter colecionado livros! Mamãe sempre dizia:
- Você fica juntando esse monte de tralhas, só para fazer bagunça!
Meus irmãos sempre implicavam e diziam que não tinha lugar para mais nada...
Entre caixas e caixas, eu guardava minha coleção de cultura!
Minha coleção foi ficando gigantesca, e aumentou também meu conhecimento, Amo colecionar conhecimento! Entrei para o Clube, não sabia se estava empolgada por entrar em um clube, ou por me motivar conhecer novos medicamentos e seus nomes.
No clube se falava de tudo, da professora de matemática, da aula de educação física, do aluno novato que usa óculos e tem sarda. Mas não se falava sobre a coleção. Quando entrei, não preenchi nenhum formulário, mas precisei dizer às pessoas o que colecionava:
- Como faço para entrar no clube?
- O que você coleciona?
- Cultura
- como assim coleciona cultura?
- Coleciono Bulas de remédio, Crô... Fui interrompida! A risada foi geral.
- Você é realmente louca. Com tanta coisa para colecionar e você coleciona Bulas? E o que você faz com essas bulas?
- O clube é para quem gosta de colecionar, por isso seja bem vinda!
Senti uma certa ironia, mas entrei assim mesmo!
Saí do clube antes de completar duas semanas que tinha entrado. Achava que as pessoas entravam em um clube por que tinham objetivos semelhantes, então não entendi o porquê do clube. E na hora do recreio eu precisava ler as bulas, e separar por gênero, função, em ordem alfabética... Recortar as crônicas e resumos dos jornais... Não sobrava tempo para participar do clube!
Fazer parte de um clube que não faz parte de você é o mesmo que não fazer...
Semanas mais tarde, tinha um monte de meninos e meninas perguntando se eu queria trocar as bulas repetidas, com as deles.
Vai entender!