Dia das Mães
Dia das Mães
Um fina camada de umidade percorria o estacionamento, um ventinho frio cortava a pele de Laura. O dia estava cinzento, úmido e frio. Seus sapatos estavam molhados, não tivera tempo de colocar as botas novas da última compra .Olhando para frente avistou o mercadinho ,daria tempo de comprar tudo para o almoço deste domingo,o dia das mães.Entrando no prédio ,desviou-se dos carrinhos ,balaios e pessoas indecisas a sua frente.Rapidamente percorreu os pequenos corredores amontoados de latas,garrafas,e potes de conservas.Um rapazinho magro,com sardas no rosto enfurecidamente registrava os preços nas embalagens,deveria estar com pressa para o turno acabar e passar a tarde de Domingo com sua mãe. Laura colocava latas de ervilhas,conservas de damasco ,figos e alguns pacotes de cereais,massas e pequenos biscoitos amanteigados.Seu cabelo estava preso numa rabo de cavalo e um mecha insistia em cair ao longo da face direita.Alguém passou a seu lado e deu-lhe um leve empurrão,os corredores eram estreitos e abarrotados de caixas com diversos produtos.A loja estava apinhada ,muitos deixaram para última hora os ingredientes do almoço do dia das mães.
- Tenho certeza que coloquei a torta no carrinho ! Olhe aí direito Raul ! Esganiçava uma senhora de uns sessenta anos aproximadamente a um enorme homem com uma boina escura enfiada na cabeça.-Você não colocou nada,vive achando que faz as coisas , só sabe é resmungar.Vociferava ele remexendo no carrinho cheio de compras.A fila estava comprida e Laura do seu lugar olhava a cena aflita lançando um olhar ao relógio do pulso._Preciso de ajuda aqui no caixa!Gritava a funcionária irritada,aquela manhã estava difícil ,o chefe dera folga para dois atendentes,ela sozinha não conseguia dar conta do fluxo de produtos que rolavam na esteira do caixa.-Já vou! Dizia do fundo do corredor o rapazinho sardento deslizando entre pacotes,caixas e clientes.
Passou-se mais uma hora e Laura conseguiu efetuar suas compras.A umidade passara e um vento secava as ruas.Dirigia seu carro mecanicamente enquanto ia repassando as tarefas de casa.Luiz deveria estar preparando a churrasqueira,Antônia arrumando os quartos e Lavínia organizando a sala .Ela daria conta da cozinha.Fez a curva devagar e colocou o carro em frente a um portão de garagem.Buzinou e logo apareceu uma jovem sorrindo ,
abrindo a porta foi levando para dentro da casa alguns pacotes.De dentro surgiu um homem deveria ter uns quarenta e cinco anos.Estava usando um avental de churrasqueiro e um boné com letreiros enormes. -Como demorou ein!O que houve? Parou para fazer o cabelo? Brincava ele.
-Da próxima vez você irá ok?Fácil falar quando não se enfrenta filas,pessoas resmungonas e tempo frio...Laura não gostava das brincadeiras de Luiz . Não tinha paciência para as ironias dele.
-Mamãe,os quartos estão limpinhos,arrumados e prontos para a inspeção.Disse uma jovem morena com uma franja comprida cobrindo-lhe os olhos.Antônia a filha mais velha,com seus dezoito anos e a mesma ironia do pai.Laura passou por ela indo direto a cozinha.Derramou o que tinha nos braços em cima de uma enorme mesa e subiu até o andar de cima.Antônia seguiu-lhe.-Você esqueceu os chinelos da vovó....a janela deve ficar fechada....onde está o cesto do crochê? Eu avisei que queria tudo pronto para ela...ditava a mãe olhando-a severa.
-Não sei pra que tanto cuidado,afinal vovó vem uma vez por ano e mal percebe o que mudou na casa ou em nós....resmungava Lavínia a outra filha na entrada do quarto.
Laura desceu e iniciou a organização do almoço,cada um foi para os seus afazeres.
Eram onze horas quando a campainha tocou,Lavínia descendo de cabelo molhado foi direto a porta,dando direto com uma senhora de idade avançada,com cabelos acinzentados,um rosto expressivo e enormes olhos verdes.-Bom dia menina!Não aprendeu ainda que cabelos molhados e rua não combinam?Dizendo isto entrou na sala olhando em volta.Carregava uma maleta de viagem e uma bolsa de uso aveludada bordada com miçangas .Sentou-se numa poltrona ao fundo da sala e olhou firme em direção a cozinha._Vejo que sua mãe ainda não está com tudo organizado,eu avisei que chegaria as onze...e seu pai?Deve ter preparado a churrasqueira não?Lavínia deu um sorriso e levou a bagagem para cima ,Antônia e Luiz apareceram e ficaram na sala conversando e respondendo as várias questões domésticas.Na cozinha Laura terminava os últimos retoques.O relógio da parede parara e Luiz havia sumido,as meninas deveriam estar se aprontando,estranhava o silêncio.A chaleira apitava enfurecidamente avisando de sua desorganização.Ao fechar a geladeira a ponta de sua camisa prendera-se na cadeira e ao se virar um prato com molho foi ao chão.O barulho dos cacos de louça deve ter chegado a sala pois todos apareceram na porta e uma voz fina e ferina soou: -Como sempre ! Laura ajeitando-se disse um olá mamãe desajeitado e limpando a bagunça sorriu pedindo desculpas.Laura e a mãe não se acertavam muito bem,desde a adolescência.Para ela a mãe era uma pessoa exigente,severa e muito crítica.Para a senhora a filha era descuidada,descompromissada e desajeitada como o pai.Casara-se com um homem fraco e tinha duas filhas fúteis.Dona Leni, assim chamada pelas amigas.Vovó Leni , pela família
e Lenicía pelos mais íntimos, aos quais sua filha e netas não faziam parte.Havia criado Laura sozinha,pois o marido havia morrido cedo de uma doença contagiosa e nunca se casara para não ter que dividir o teto e os dividendos de sua profissão com outro incapaz como ela vivia comentando as amigas.Era respeitada pelos vizinhos e amaldiçoada pelas netas e genro.Muito temida pela filha.Laura conseguia enfrentar tudo,menos a censura do olhar materno.Este almoço era uma provação e deveria correr tudo bem.Teria que ser assim.
Na mesa do almoço estavam todos silenciosos comendo devagar e esperando.Quem iria afinal iniciar a conversa.Antônia mordiscava uma batata e de soslaio observava a mãe.Esta cortava um pedaço de carneiro e cuidadosamente colocava-o no prato da mãe.-Suas mãos não estão cuidadas Laura!Lembre-se que elas são o cartão de visitas de uma pessoa.Letícia! Coma devagar...não sei porque tanta fúria mocinha.-Luiz você deveria ter assado melhor este carneiro....Assim ia Dona Leni , fazendo suas observações quanto aos deveres domésticos de seus familiares .Luiz sorrindo respondia-lhe:- Claro vovó Leni ,irei já já resolver isto,afinal nossa vovó merece o melhor .Seguindo com o carneiro até a churrasqueira e dando uma piscadela a Lavínia.
-Velha horrorosa ! Resmungona ! Pensava a jovem.Não entendia como a mãe permitia esta situação.Bastava a avó chegar e sua mãe desmoronava.Ressentia-se com a fraqueza materna.
-Mamãe conte-nos os seus planos?Sua próxima viagem?E suas aulas?Laura tentava aliviar a tensão.A mãe respondia com um jeito falsamente chateado a cada questão, de vez enquanto pegava uma medalha que carregava no peito e relembrava seus tempos de professora de artesanato da paróquia de seu bairro.Dona Leni era hábil artesã.Tentara ensinar Laura,mas esta nunca tivera jeito para trabalhos manuais,preferia os números,equações,gráficos.Dona Leni achava isto profissão masculina.Já as netas tinham puxado suas habilidades,mas não as praticavam por provocação,sabiam muito bem como irritar a avó exigente.
-Este almoço poderia ter sido melhor Luiz se o carneiro não estivesse ainda vivo...resmungava a senhora revirando a carne ainda crua -Laura,cuidado com o sal ,isto me faz mal....
-Vamos a sobremesa! Fiz aquele doce de damasco com calda de figo mamãe...e seu chá preferido.Delicadamente Laura colocou uma enorme travessa com a sobremesa e um pequeno bule de chá fumegante . “pelo menos a sobremesa ela não reclamará”.Pensou Antônia.”Será que ficará muito tempo!?”Remoia a jovem.
Todos foram tomar o café na entrada do pequeno pátio ,onde Luiz fizera um jardinzinho ao qual era orgulho de Laura.Ela até havia pintado um velho banco de madeira e uma mesinha que havia achado num mercado de pulgas.Ás vezes ela se atrevia a pintar madeiras,ferros ,mas isto era raro,apenas como forma de relaxamento.Laura era engenheira de uma pequena firma de alimentos.Acomodou a mãe numa poltroninha delicada que Antônia havia forrado no ano passado .Sentando-se no pequeno banco de madeira encostado a parede do muro que circundava o pátio da simples casinha do bairro residencial.Laura e Luiz adoravam a casa,o bairro,a sua vida,viviam bem,entendiam-se com as filhas ,tudo ia bem,mas precisavam urgentemente de ajuda ,e esta deveria ser de Dona Leni.Este almoço era importante para ambos,pois se algo desse errado,seus planos seriam frustrados.Dona Leni possuía duas casas,uma delas ficava no litoral e quase não era usada,alguns anos fora alugada,mas depois ela acabou desistindo do aluguel.Certa vez emprestara a Laura para passarem um verão,as meninas ainda eram pequenas,mas numa noite Luiz pegara no sono e esquecera o aquecedor ligado,por pouco a casa não incendiara. Dona Leni proibira-os de voltarem lá após este incidente.Luiz precisava de dinheiro a firma onde trabalhava estava com contenção de despesas e alguns colegas dele haviam sido demitidos,ele tinha um projeto e conversando com seu chefe este ficara interessado,para esta sociedade Luiz precisava de uma certa quantia que com a venda da casa do litoral o ajudaria.Dona Leni sempre mencionara que a casa seria de Laura e a outra ela doaria a uma entidade para fundos assistenciais onde o artesanato fosse praticado.O casal, portanto queria antecipar a herança de Laura.
A louça era lavada na quente água que escorria de uma reluzente torneira ,as mãos de Antônia esfregavam os pratos e talheres como para purificá-los das observações pontiagudas de sua avó.Gustavo logo chegaria e iriam até a casa dele,o namorado havia feito uma letra nova para a banda tocar no show da escola .Lavínia estava ao telefone,umas amigas iriam ao cinema.À tarde deixaria o casal a sós com a avó.Um tímido Sol surgia entre as nuvens.Laura olhou o céu,será que ela entenderia.....
-Mamãe precisamos conversar...vamos até lá em cima,quero-lhe mostrar o que Lavínia anda fazendo com o crochê.No andar de cima ,haviam quatro quartos e um banheiro.O de trabalhos ficava no centro e suas paredes eram cobertas por um delicado papel de parede com pequeninas flores roxas e folhagens esverdeadas. Ao fundo , um grande baú de madeira envernizada cercado por duas cadeiras estilo medalhão.No centro do quarto um redondo tapete feito de crochê,trabalho de Lavínia e uma poltrona estilo mamãe ao qual repousava um cesto de onde se via um trabalho de crochê inacabado.-Mas que lindo acabamento...Lavínia esta melhorando cada vez mais.....dizia a velha senhora acarinhando os pontos na linha aperolada.Ainda bem que as meninas puxaram a mim....pois você com seus cálculos de álgebras e gráficos não é capaz nem de fazer uma bainha......Laura deixou sua mãe sentada na grande poltrona e apoiou-se numa velho armário repleto de materiais artesanais.Não sabia como iniciar o assunto.-Bem vamos logo a questão!Quanto vocês precisam?Detesto estas situações....Os olhos de Dona Leni firmes e prontos a resolução.-Necessitamos da venda da casa da praia mamãe.Luiz está prestes a se tornar sócio e somente assim poderemos melhor nossa situação,há o perigo de demissões.....as palavras saiam a galope ,sentia-se pesada ,uma dor no estômago a incomodava.-Você vai torrar a casa Laura?!Se eu bem me lembro ele torrou o último carro ,o barco e agora a minha casa.....Está na hora deste homem aprender a se virar não concordas?A casa é a sua segurança e a das meninas....lembre-se disto.-Eu sei mamãe,por isto peço-lhe... ajude-nos. Se Luiz perder o emprego teremos que vender esta casa,e perderíamos muito mais....Dona Leni examinava os pontos do trabalho , erguendo-se foi até a janela dali avistou Luiz limpando a churrasqueira , assoviava uma melodia .-Eu avisei a você que ele não seria grande coisa.Quase vinte anos juntos e o que conseguiram?Está decidido minha casa eu não vendo.-Mas ela é minha!Você mesmo disse.Desesperada Laura gesticulava ,chegava a ser infantil em sua atitude.Fechou os olhos e respirou fundo,sua mãe observava uma caixinha pintada a mão,Antônia a fizera quando tinha oito anos,fora um presentinho a ela de aniversário.-Você sempre teimou comigo,não é Laura.....pois bem ,a casa realmente é sua,mas ainda não morri ,portanto possuo direito sobre ela.Seu marido sempre será este infeliz,mas é um bom homem,sem dúvida ele cuida bem das meninas e adora você,coisa que seu pai nunca o fez....faremos assim, eu darei a casa a vocês, em troca você me dará as meninas.Elas irão para casa comigo, cuidarei da formação delas.Possuem talento,não puxaram a você.
-Mamãe...elas querem fazer faculdade,Antônia quer ser médica e Lavínia adora desenhar....Dona Leni abriu a porta do quarto ,olhou-a e calmamente e falou:-Você também tem faculdade..e o que conseguiu? Eu com o meu trabalho artesanal possuo o que necessitas.....pense e depois me diga o que decidiu.....
A noite estava fria,o vento acalmara e Luiz ao lado roncava cadencialmente. Suas filhas estavam dormindo.Laura tentava ler um relatório,mas sua mente disparava até o quarto das meninas.Como resolveria isto...Antônia e Lavínia....Luiz...até quando sua mãe ditaria o seu destino.Lembrava-se do namoro com Luiz,do casamento,do primeiro emprego, das aulas na faculdade.Sempre fora boa nos estudos e adorava sua profissão,em casa era uma boa mãe,cuidadosa com sua família,mas totalmente incapaz no que se referia a sua mãe.Se aceitasse as regras dela desta vez prejudicaria muito mais que o futuro do casal, as meninas já não suportavam as manias da avó e agora a odiariam,o que ela não queria de forma alguma,apesar das dificuldades entre mãe e filha,amava-a e sabia muito bem o quanto fora difícil a ela após a morte do pai sobreviver sem um bom emprego e estudo.Graças as suas excelentes habilidades artesanais pudera lhe dar um razoável conforto e uma boa educação.Concordava com ela em algumas situações quanto ao seu marido,mas também sabia que ele fazia o máximo que podia,Luiz não conseguira terminar os estudos médios mas era um homem dedicado.Laura precisava decidir-se e logo.O relógio marcava três e meia .A madrugada fria seguia silenciosa.Da janela uma enorme Lua prateada iluminava a noite.Laura desceu as escadas e foi direto a cozinha,um copo de leite a faria dormir .Ao passar pelo quarto da mãe ouviu um ruído.Chegou-se a porta ,encostou o ouvido a ela ,não ouviu nada ,seguiu para o quarto.
Amanheceu um dia ensolarado e o frio havia diminuído. O sino da igreja badalava anunciando o culto.Antônia abriu a janela e correu ao banheiro,seguida de Lavínia que iniciou a bater na porta gritando palavrões,elas brigavam pelo banheiro,um ritual matutino.Luiz preparava o café.Laura arrumava o quarto.A manhã prometia ser bonita e calma.Um pardalzinho saltitava no banquinho do jardim e um gato peludo o espiava atento de cima do muro.
-Mamãe! O café está pronto!Laura bateu de leve na porta e entrou.Sua mãe estava deitada,coberta por um felpudo cobertor.Laura chegou-se a ela e delicadamente acariciou uma mecha do seu cinzento cabelo.Ainda dormia,devagar puxou a coberta e percebeu um papel caído ao chão.Abriu-o e uma grafia bonita surgiu dele ,a medida que lia sua fisionomia mudava e aos poucos lágrimas iam deslizando por sua face.Puxou a coberta e abraçou a senhora chorando e pronunciando súplicas.Luiz subiu ,ouvira o choro ,seguido pelas meninas.Lavínia pegou o bilhete e leu em voz alta.Nele sua avó dizia que aquela seria a sua última visita,pois sabia que estava muito doente , fora lá se despedir e deixar a eles como presente uma doação ,já que a casa onde vivia iria para uma entidade e que fizessem com esse presente o melhor.Pedia a Laura perdão pelas manias e que dedicasse a meninas o mesmo cuidado que ela tivera consigo.Sabia-se ser uma mulher difícil ,mas se não fora assim ,Laura não seria a ótima mãe e esposa que era.Abençoava a todos e dizia ter orgulho da bela família que formavam.Soubera sim o quanto fora difícel para eles o início ,mas tinha certeza que a amavam e respeitavam seus princípios.Fariam de tudo para não perderem sua herança e conseguiriam melhorar a situação financeira e obter um futuro melhor as meninas.O bilhete terminava com uma assinatura perfeita e bonita.
Laura em prantos sacudia a mãe ,esta inerte.Luiz desceu e foi direto ao telefone,as meninas chorando abraçaram a mãe.
No funeral muitos amigos de Dona Leni compareceram ,o pároco da igrejinha,parentes e alguns amigos do casal.Laura estava sentada em frente ao caixão e pensando o quanto perdera e como sua mãe havia sido justa e prudente em suas ações.As meninas do outro lado sentiam-se culpadas por nunca serem carinhosas com a avó que a elas assustava com seu jeito enérgico.Um senhor de redondos óculos iniciou um pequeno discurso sobre o excelente trabalho de Dona Leni na paróquia ensinando crianças , adolescentes e adultos nas atividades artesanais.Nas feiras dominicais e nos casamentos e batizados aos quais sempre fazia questão em organizá-los .Todos estavam se prontificando a sair do culto em direção ao cemitério quando entrou um rapaz ,deveria ter uns trinta anos,usava um casaco de lã e calças de brim escuras.Trazia consigo um ramalhete de flores.Possuía olhos verdes ,intensos,queixo firme e um nariz fino,lembrava alguém.Olhou Laura e as meninas.chegou-se a elas -Sou Felício.Sou seu irmão.Laura ficou olhando-o estava tão longe que aos poucos ia decodificando o que aquele bonito rapaz lhe dizia.Ouviu-se um burburinho,alguém elevou a voz e Luiz pediu a todos que deixassem Laura e o rapaz sozinhos.As meninas saíram com o pai e os dois permaneceram sentados na pequena sala .-Minha mãe sempre ia me visitar na clínica ,mas eu quis fazer uma surpresa a ela e resolvi vir vê-la.Pronunciava ele pousadamente com uma voz serena e aconchegante.Laura olhava-o era parecidíssimo com sua mãe,tinha o mesmo jeito de revirar o cabelo e aquele olhar penetrante.-Como ela nunca me falou de você?Murmurou perplexa com sua capacidade de falar frente aquela surpresa.Só conseguia ouvir sua voz dizendo:-Mamãe?! Ela iria contar,mas antes preferiu vir aqui e depois iríamos nos apresentar,pois estava muito doente,mas pelo visto você já sabia.-Eu?!Nunca!como assim?Laura ia atirando as palavras ao mesmo tempo que olhava onde estava sua mãe incrédula.-Mamãe me teve e escondeu de todos por que meu pai era casado e nunca soube de mim.como na época ela havia conseguido o emprego na paróquia preferiu esconder-me de todos ,uma velha amiga de infância me cuidou .Quando ela descobriu que estava doente resolveu contar a todos.Mas pediu-me que esperasse.Quando saí da clínica ,resolvi vir aqui e ajudá-la.-V0cê estava numa clínica?Laura perguntou passando os dedos pelas têmporas uma dorzinha começava a latejar.Onde estava Luiz?E as meninas?Sentia-se tonta ,o rapaz falava olhando-a como a mãe com aqueles olhos verdes fixos.Era médico.A mãe pagara seus estudos com ajuda do pai de um antigo aluno dono de uma empresa de tintas.Em troca fizera o enxoval e a organização de casamento da filha caçula do empresário.-Mas por que esperou tanto tempo para nos contar?!A dorzinha descia pelo centro da testa.-Porque ela sabia que seria um choque.Luiz entrou ,seu rosto refletia preocupação.-Precisamos ir! Saíram todos e o funeral terminou.
A noite na sala ,sentados e calados,olhavam-se atônitos.Só o rapaz estava calmo.Observava as fotos das meninas e do casal.-Então vocês são as menininhas.Sei que sabem trabalhar tão bem como ela o fazia.Eu também sou bom,mas resolvi utilizar meu talento na medicina.Então o que vocês farão quando terminarem os estudos?Dizia isto enquanto olhava os retratos na parede.Antônia o observava e percebeu que ele era como a avó,inquisidor e persistente.-Bem eu vou passar dois dias aqui e logo irei ao litoral,ficarei na velha casinha,farei algumas reformas lá,pretendo usá-la ,já que com a morte de mamãe alguém deve cuidá-la e como sei que vocês não irão se importar,já que fizeram um bom trabalho nesta,sem dúvida muito bem cuidada .Luíz soube que você é bom em eletricidade.O que achas em dar uma passadinha lá no próximo fim de semana.Laura você poderia dar umas dicas quanto aquele velho quartinho.Pensei em fazer um estúdio.As meninas poderiam também colaborarem com seus dons...Luíz seu cortador de grama é muito bom.....no próximo final de semana o tempo estará firme,li no jornal ......
Violetta