NINA ROBERTA, A DEVASSA.

Nina Roberta não perdia uma oportunidade. Colocava filhos no mundo sem pestanejar. Avessa a casamento, gostava mesmo de “ficar” e quem chegasse primeiro conseguia. Naturalmente, desde que tivesse cacife pra isto. Namoradeira

como tudo faz crer, tinha seus momentos de “incerta” que ninguém poderia imaginar por onde andava. Tanto fazia ser de dia como de noite, Nina não se segurava quando o fogo lhe subia as partes pudendas. Não sei se nestas ocasiões ela escolhia os namorados com tanto rigor, mas tudo indica que sim haja vista a beleza de seus filhotes como o Zé Basílio.  O que se sabe de concreto é que, mesmo sendo bandoleira, namoradeira, Nina tem um “ficante” oficial que se chama Arthur, assim mesmo com “th”. Ele parece um rei, tamanha é a sua formosura e encantamento, em que pese já não ser mais um brotinho. As “gatinhas” não o deixam em paz, mas ele parece mesmo resignado com a relação difícil com Nina. Às vezes se encontra no mesmo espaço físico, mas nem se conversam. Quem não os conhecer, dificilmente saberá que são namorados, embora a gente admita que sejam casados. Quem vê Zé Basílio e olha para Arthur, sabe logo que se trata de pai e filho, embora a gente não veja gestos de carinho entre eles. Provavelmente, Zé Basílio tenha mesmo puxado à mãe, pois Nina é fria e calculista. Várias vezes Arthur esboçou um carinho, mas ela salta sobre ele com “quatro  pedras na mão”. Outro dia, numa destas investidas, foi ferido levemente nas costas. Há quem diga que em “briga de marido e mulher, não se mete a colher”. Talvez por isto, os amigos ficam por ali, mas ninguém se mete. Arthur faz a linha “come quieto”? Pode ser, mas Nina não abre mão dos seus bordejos noturnos, mesmo quando está amamentando uma nova cria. Ela dá sempre um jeitinho de passear pelas redondezas, nas “barbas” de Arthur.

 Atualmente, Nina só tem se preocupado com a Bebel. Esta é seu mais novo bebê, pois Zé Basílio nestes dias já deve ir atrás das “gatinhas”, haja vista seu perfil de galã. Vai, certamente, puxar à mãe na vadiagem e na sodomia. Ele, o Zé, está como costumamos dizer, no “canto”.  Mas se entende muito bem com sua irmãzinha  Bebel: passam horas a fio brincando, rolando no chão, praticando “esconde-esconde” pelos cantos da casa. Nina, no papel de boa mãe, várias vezes tem que intervir com rispidez, enquanto Arthur ignora totalmente a criação e educação dos seus filhotes. Merece um adendo: Nina, justiça seja feita, é uma excelente mãe. Abre mão até das noitadas enquanto suas crias estão sob seus cuidados. Amamenta, bota pra dormir, protege. Mas tão logo eles fiquem durinhos ela não paparica e pega pesado. Começa a estimulá-los à luta, como que os preparando para o mundo “cão” que vivemos. Neste sentido, o pai Arthur não dá pitaco, pois ser um pai ausente talvez seja sua maior virtude. Mas devemos dar os devidos descontos, porque ele já não é tão jovem e, talvez por isto mesmo sua esposa busque noutros telhados ou terreiros, na busca de todo seu instinto aventureiro. Na verdade, Arthur faz um pouco do papel de “corno cuscuz” – aquele que sabe de tudo e abafa.  Coincidência ou não, sempre que surge uma nova gestação, os filhotes quando nascem são o focinho do velho Arthur. Nesta ultima “gravidez”, Nina arrombou a boca do balão: deu luz a quadrigêmeos. Todos parecidos com a mãe e o pai. Mais com o pai do que com ela, como neste caso em que apenas uma, a BEBEL, puxou a mãe. Os outros três são a cara do pai e isto deixa a vizinhança sem entender, diante da fama de Nina e das suas já conhecidas noitadas sempre desacompanhadas do marido.

Essa personalidade forte de Nina provavelmente tenha origem na sua infância. Era menina de rua e foi adotada por uma família de classe media na região metropolitana do Recife. Na ocasião estava cheia de doenças, faminta, suja, com  hematomas em todo o corpo. Cuidada pela família, logo se recuperou das doenças, ganhou peso e ânimo de viver. Isto logo a  levou a cair na farra. Não demorou muito e engravidou do primeiro que apareceu. Acreditamos que Arthur ainda não tinha se interessado por ela. Esse perfil de frieza  e  frivolidade de Nina talvez sirva para seu enquadramento psicogático. Isto nos ajuda a compreendê-la em sua chatice, frieza e abusos. Mas ela é assim e dá pouca importância aos que falam dela.

Ainda se recuperando da sua ultima gravidez de quatro filhotes, Nina já foi pega buscando namorados lá fora. Desta vez, ela foi cedo demais à esbórnia e isto nos levou a tomar a providência drástica: fazer laqueadura nela! O marido Arthur nem disse sim nem não, muito menos pelo contrário. Como quem cala consente, marcamos no CVA – Centro de Vigilância Animal da Prefeitura do Recife e, na hora marcada, ela foi submetida aos procedimentos cirúrgicos cabíveis. Atendimento de gente: não lhe faltando carinho, atenção e desprendimento da equipe de profissionais: Veterinários e auxiliares cuidaram de tudo. Ficamos do lado de fora, na anti-sala e pudemos perceber a dedicação daqueles profissionais com os “bichos”. Ficamos imaginando: “minha gata Nina foi tratada como Gente, enquanto muita Gente no SUS é tratada como Bicho”. Claro que com todo respeito aos “bichos”...

Nina já se recuperou da cirurgia. Bebel ainda mama nas suas tetas e Zé Basílio gosta de dormir encostado na mãe. Arthur, com visíveis sinais de velhice, fica sempre em cima do muro dormindo, ou no capô do primeiro carro que estacionar por perto. Certamente, livre de novas barrigas, Nina vai reinar, deitar e rolar com todos os gatos da vizinhança e adjacências. O pior é que quando nos vê, corta caminho, como que sabendo que fomos nós quem a levamos para ser laqueada. Problema dela, pois agora vamos ter uma folguinha, posto que ela a cada três meses colocava novos gatinhos no mundo. Na media de quatro por barriga, todo ano em torno de novos dezesseis gatos Nina botava no mundo, sem sequer procurar saber quanto custa um quilo de ração.
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