Estória de caminhoneiro (parte 1)

Se houve uma estória tão subliminar quanto a do óleo roubado, eu não sei. Ouviu-se falar que o caminhão estava ali, parado há, mais ou menos, três dias. Segundo boatos, o dono deixou-o no posto de gasolina e voltou pra Goiás, sua terra natal; de lá contactava o fretista do posto, todos os dias, para ver se estava tudo certo com seu caminhão.

Cada litro de óleo diesel equivale a dois reais e seis centavos. Foram roubados cem litros de óleo que , supostamente, valem duzentos reais.

O roubo aconteceu por volta das seis da manhã. Um homem, somente um homem, somente um "ladrão solitário", carregou cinco barris, um a um, com capacidade para vinte litros, para o outro lado da pista? (trata-se da Via Presidente Dultra, em São Paulo; são dois lados à direita , divididos por uma cerca, indo no sentido Rio de Janeiro, e mais dois lados à esquerda, também divididos por uma cerca, voltando pra São Paulo capital). Como é que o "Ser solitário" não foi pego nessa travessia? Foi a pergunta que não se calou...

Se esta estória lhe parece estranha e confusa, não se preocupe ela pareceu muito mais pra mim, quando foi contada, pelo "nosso amigo" Paraíba, no mesmo dia em que o crime aconteceu, só que a noite:

"- Vocês que estão acampados aqui do lado desse caminhão não ouviram um barulho estranho essa manhã? Roubaram óleo do caminhão branco, mas eu não estou nem aí... se o dono do caminhão fosse responsável estaria aqui, cuidando dele. Eu conheço ele, num sabe? mas eu se fosse ele não sairia daqui, deixando meu caminhão sozinho. Eu só estou perguntando pra se, por acaso vocês verem alguém mexendo no meu ou no do meu camarada aqui, que nos avise. Porque eu eu não sou de deixar quieto... Roubaram sessenta litros de óleo. O fretista ali, falou que o cara que roubou era caminhoneiro e agora está afundado nas drogas. Vai vender! de certo. Todo o óleo, por um e cinquenta o litro e vai ganhar uma boa grana.

Esse lence de drogas é tenso, cara. Tinha um conhecido meu, que tomava aquelas pílulas pra não dormir, duas três noites seguidas. Viciou, e se deu mal. A maioria dos acidentes com caminhoneiros acontece por causa disso. As pílulas deixam o cara fora de si, quando vê: caiu no barranco.

Você veja só que eu tenho um amigo, posso até te apresentar ele, o cara foi viciado em pó. Tinha dez funcionários que trabalhavam pra ele, um monte de caminhão, e tal. Vendeu tudo, pra comprar drogas.

Droga é pra acabar com o cara. (...)Mas então tá bom, qualquer coisa é só dar um toque..."

E foi nessa mesma noite que o dono do caminhão saiu "correndo" de Goiás à São Paulo, depois de saber do roubo, pelo telefone, com o fretista.

Chegou pela manhã. Cansado da viagem:

"- Mas como é que o cara vai conseguir arrancar o óleo daqui? Só se foi alguém próximo. Meu patrão vai ficar louco. Vou ter que pagar uma nota...

Ei, alguém viu o óleo que eu botei aqui?"

É a pergunta que não cala mais...

Paula Mathias
Enviado por Paula Mathias em 08/05/2010
Reeditado em 08/05/2010
Código do texto: T2245253
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