É Deu Certo
Gosto de correr, por que fazer atividade física ajuda o cérebro a produzir uma substancia que dá sensação de alegria, a Endorfina, em algum momento você já deve ter ouvido falar dela... Também ajuda a manter meus músculos firmes e flexíveis, com menos estrias... Sei que noventa por cento das pessoas que me criticam quando estou correndo é por que queriam estar na minha pele, ter a minha coragem, então acredito que me admiram por isso.E o motivo maior é que quando estou correndo, tenho o prazer de estar comigo mesmo, posso pensar e refletir sozinha, sem interferências de terceiros, se quero pensar em algo, ando vagarosamente, se quero não pensar em algo, corro rapidamente!
Fazia mais ou menos um ano que eu não corria, ou caminhava e decidi voltar à por os pés nas ruas... Na segunda semana que havia voltado a correr, já tinha atingido cinco quilômetros sem pausa para descanso. Para mim uma grande vitória, estava caminhando para tomar fôlego, e com meus pensamentos radiantes, quando ia atravessar a rua e me deparei com três motoqueiros, sou uma mocinha comportada, mais ou menos correta e não correspondo com pessoas do tipo que gosta de mexer com toda garota que passa, então não costumo nem se quer ouvir comentários de motoqueiros na rua.
Mas este dia foi diferente, quando passei, um dos motoqueiros perguntou:
- Quer uma carona?
- Obrigada, mas estou correndo!
- Te garanto que se vier comigo chegará mais rápido em seu destino!
Quis responder a ele que fazia atividade física, e não seria útil chegar mais rápido da forma dele, mas sei lá arrisquei jogar um pouquinho de charme, sei que não podemos confiar nas pessoas, e todo o blá, blá, blá que você deve estar pensando, mas é que aquele dia eu estava completamente diferente aos demais.
- Você nem me conhece e me oferece carona? E se eu for uma ladra?
- Nem precisa usar a arma, pode levar meu coração contigo, já é seu!
Depois daquelas palavras, meu Deus, já se fazia muitos e muitos anos que não ouvia uma cantada tão barata e cafona, de verdade, não achei cafona! Achei foi romântica! Tem dias que estamos assim, né!?! Igual adolescente, qualquer bom dia, já soa romântico...
Então decidi aceitar a tal carona... Na verdade fiquei foi curiosa para conhecer aquele homem, que me convidava a soltar as amarras da perfeição e me entregar a uma loucura de amor. Chegamos próximo a minha casa, eu desci, e meio sem jeito falei:
-Obrigada! Até que foi muito gentil da sua parte, eu estava realmente cansada...
- Desculpa gatinha, mas não aceito um obrigada assim, pelo menos três beijinhos para agradecer...
- Estou toda Suada, não é jeito de se conhecer uma pessoa, talvez a gente possa combinar de se ver um outro dia e conversar...
- Claro, eu não vou insistir. Obrigada pela companhia!
- Tchau!
-Tchau, vou esperar você amanhã!
Sai dali toda tremendo, meu Deus que loucura! Já sou uma mulher crescidinha, não posso cometer atos tão inconseqüentes... Mas até que foi bom! Faria tudo outra vez!
Cheguei em casa, com sorriso no rosto, contei que consegui percorrer cinco quilômetros sem parar, e isso me deixava eufórica! Fui ao banho! Ninguém poderia saber que havia conhecido um motoqueiro no caminho de casa...
No dia seguinte, fiz questão de sair no mesmo horário, corri, corri, corri. E no mesmo lugar parei para descansar.
Ele não estava lá, só os outros dois amigos dele. Que pena! Queria vê-lo! Meio desanimada, continuei andando como se as coisas estivessem normais... na próxima cruzada, parei para ver se vinha carro e ...
- Oi atleta, nós esquecemos de nos apresentar!
Meu sorriso foi involuntário, e inevitável. Claro, me entregou!
- É verdade!
- Gostou de me ver?
- É gostei!
- Você vem comigo, ou vou ter que empurrar a moto?
Subi na moto e fomos a diante...
- Minha mãe disse que é perigoso falar com estranhos, você não tem medo?
- Não seja por isso, meu nome é Rodrigo, e o seu?
- Larissa! Bom assim sendo, não somos mais estranhos né!?!
Uma semana nesta rotina, e eu já sabia um pouquinho da vida do Rodrigo, todos os dias, eu corria cinco quilômetros e deixava a evolução para mais tarde...
-Deste jeito, nunca vou poder competir, não passo dos cinco quilômetros...
- Ei, mas não existe nada mais importante para você que a competição, e a corrida?
Eu sabia bem o que ele queria ouvir, mas resolvi não agradá-lo com minha resposta, fiz me de desentendida!
- É existem muitas coisas importantes para mim, e competir é uma delas, ter metas é bom para nos motivar a viver, sabia?!? E eu tenho as minhas.
- Gosto desse seu jeito, sabia!
O tempo foi passando, e eu fui conhecendo e me deixando conhecer, Pelo desconhecido motoqueiro!
Um mês nos encontrando, resolvi contar em casa, que havia uma pessoa em minha vida, marcamos então um jantar.
- Amanhã vou sair, vou encontrar com um garoto que conheci correndo, combinamos de jantar no “Raízes da terra”, me ajuda a arrumar minha roupa?
Eu nunca pedia conselhos às minhas irmãs ou à minha mãe sobre a roupa que deveria usar, sempre me virei sozinha, mas como não sabia como contar ao pessoal lá de casa que teria um encontro com um desconhecido, e não queria que o pessoal fosse invasivo, queria apenas informá-los. Fazendo-os participar, talvez fosse a melhor maneira... não guardava segredos da minha mãe, até por que isso é impossível, mas também não queria detalhar...
No dia seguinte sai no mesmo horário, mas não de roupa esportiva, confesso que fiquei com medo do Rodrigo não me reconhecer. Então nos encontramos e fomos jantar... Ficamos mais conversando que comendo... Contei a ele dos meus sonhos e planos inalcançáveis, contei que estava desempregada.
Ele me contou sobre seus planos e sonhos para o futuro, sobre seus três irmãos, sobre seu emprego de Office boy.
Rodrigo, um homem dois anos mais velho que eu, e com uma simplicidade admirável, minha família iria gostar de conhecê-lo, apesar de não aceitarem sua profissão...
Como eu gosto das coisas feitas de um jeito certo, Quando decidimos que nosso relacionamento seria sério, pedi que colocássemos aliança de compromisso, não que eu seja ciumenta, mas queria que fosse realmente sério!
Combinamos de conhecer um a família do outro, em respeito às nossas famílias. Lá em casa estavam loucos para conhecer o Rodrigo, já na família dele, a mãe não podia acreditar que a menina que deu bola para um motoqueiro queria algo sério.
Conheci a família hilária de Rodrigo e gostei muito deles, minha família também gostou do rapaz que estava comigo, mas insistiam que ele já estava um tanto velho para ser Office boy, e que eles sonhavam com alguém mais estudado, para viver comigo... Sou filha mais nova, então todos em casa tentam sonhar com o que é melhor para mim...
A partir de então começamos a correr juntos, todos os dias a noite, a corrida começou a fazer parte da vida de Rodrigo Também.
Dois meses juntos, a empresa que Rodrigo trabalhava, me chamou para fazer uma entrevista, na minha área, passei e comecei a trabalhar lá... Mas não podia deixar as pessoas saberem que eu e Rodrigo estávamos namorando...
Trabalhávamos juntos, mas não podíamos expressar nosso sentimento em momento algum, isso até que era fácil para mim, pois cresci aprendendo a separar momento de lazer com momento de trabalho sério, mas para Rodrigo isso já estava virando castigo!
Eu havia interrompido meu curso na faculdade, por que estava desempregada e não poderia pagá-lo, quando voltei ao trabalho, voltei para faculdade, e conversava muito com Rodrigo para ele ingressar em uma também.
Fizemos uma orientação Vocacional, eu gostava bastante do que fazia , mas resolvi acompanhar meu namorado, acabei por descobrir que poderia ser mais feliz se fizesse um outro curso, em uma outra área de atuação, e Rodrigo descobriu o gosto por odontologia, mas já se achava velho para iniciar um curso como tal, então decidimos juntos que ele faria o curso técnico, enquanto eu me formava, depois nós dois juntos tentaríamos uma vaga na universidade federal e faríamos a faculdade juntos... Assim fomos dando seqüência nos estudos. Rodrigo conseguiu uma vaga de Operador de telemarketing, em uma empresa perto de onde trabalhávamos, e começou a trabalhar uma carga horária de seis horas diárias, eu permaneci na empresa que estava, no departamento contábil.
Já se fazia dois anos que namorávamos, e eu já estava para concluir meu curso, Rodrigo chegou todo cheiroso, perto de mim e me fez um convite para jantar em um restaurante com músicas clássicas... Apaixonei!
Chegando lá Recebi um buque lindo de rosas vermelhas, arrepiei até o cabelo do dedão do pé, estava muito encantada, sempre sonhei com essas coisas românticas, e Rodrigo sempre me surpreendia com seus encantos... Junto às rosas havia um ursinho segurando um cartão e um par de alianças.No cartão dizia:
Vou pedir uma só vez, Por que quero uma resposta positiva na primeira tentativa!
Casa comigo?
Quanta singeleza e ternura! Eu não me agüentei, antes de responder, olhei nos olhos dele e você já pode imaginar como foi minha resposta, né!?!
Não éramos noivos ainda, mas como nós nos formaríamos no fim do ano, resolvemos que iríamos noivar aquele mês e já prepararíamos para nos casar no próximo ano. Minha família ficou toda animada, e a família dele também...
Ajeitamos as coisas e no início do ano nos casamos, foi uma festa Simples, porém espetacular! Já casados, eu tinha recebido uma promoção na empresa e Rodrigo estava Trabalhando como técnico em um consultório odontológico, pela manhã e como operador de telemarketing à tarde, uma correria. Estávamos decididos entrar para um cursinho e ingressar na universidade federal, para isso Rodrigo precisaria largar um dos empregos. Ele optou por largar o emprego de operador de telemarketing. Com muita correria e vontade, Trabalhávamos durante o dia e estudávamos a noite, Nos fins de semanas dedicávamos juntos aos estudos. No fim de dois anos Passamos na universidade Federal, Eu no curso de Letras e Rodrigo no curso de Odontologia, assim que recebemos os resultados, estávamos eufóricos, e decidimos que queríamos aumentar a família. Não sabíamos que isso seria mais difícil que passar no vestibular, não tinha preferência, só queríamos um bebê, eu torcia por um casal de gêmeos, por que, não criaríamos filho único, e como eu não sabia o que queria, teria os dois.
Iniciamos a faculdade, e veio a surpresa, para nós e nossa família, Um bebê estava chegando!
Nove meses, muita correria, eu trabalhava com contabilidade, fazia cursos de especialização na área Fiscal, Cursava letras, e arrumava um tempinho para escrever, correr... Mas um bebê, não tinha arrumado o tempo ainda!
Quando nasceu, Uma linda Menina: Alline!
Rodrigo estava bobo, parecia uma criança diante de um presente almejado! Eu nem sei descrever a sensação. Ter um bebê nos braços é muito gostoso, mas ter o seu Bebê nos braços, quem é mãe sabe do que estou falando!
Confesso que foi uma escolha errada que fizemos, não tínhamos tempo, mas depois da escolha feita, encaramos as dificuldades como conseqüências, e Fizemos o melhor que podemos.Terminei minha faculdade e saí do emprego de contadora, decidi investir em letras, Recebi um convite para dar aulas em uma faculdade, aceitei. Rodrigo, quase não para em casa, trabalha em dois consultórios, é muito requisitado.
Tentei três anos o concurso da Receita Federal, passei na última tentativa, e diminuí minha carga de trabalho, Quero dedicar o Máximo de tempo para minha princesa.
Estávamos hoje brincando de lego, tento ensinar à ela que não devemos apegar ao perfeito, pois erros acontecem a cada dia, devemos estar preparados para repará-los... Mas minha pequena só tem quatro anos, vou precisar ensinar durante muito tempo, para que ela aprenda.
Rodrigo, o Office boy, está contente por ter conhecido uma garota que gosta de correr, hoje levantamos uma hora mais cedo para que todos da família possam caminhar juntos, ele anda muito atarefado e hoje é o nosso aniversário de casamento, não me ligou ainda, Qualquer mulher, se chatearia por não ter sido lembrado essa data, mas acho que ele tem o direito de esquecer... Enquanto ele não chega, vou escrevendo sobre nós!
A campainha está tocando, vou atendê-la,quem será a essas horas?
Bom nossa conversa vai ter que ficar para mais tarde, pois acabei de receber um buque de rosas vermelhas, com um ursinho segurando um cartão... Parece que já disse isso antes né?! Mas é que algumas coisas boas na minha vida tem se repetido com o passar do tempo...
Tchau, foi um prazer contar a vocês sobre a loucura de uma vida de quem gosta de correr riscos...
Depois eu conto mais!