MÃE, TEM A PALAVRA A DEFESA!
O julgamento já se encaminhava para o seu período final naquele Tribunal. As chances de absolvição eram quase zero. Todos comentavam que o garoto de treze anos de idade , que estava sendo julgado naquele momento seria indubitavelmente condenado à prisão.
A mãe do garoto estava totalmente desesperada sem saber o que fazer para que o seu filho não fosse condenado. Não tinha mais para quem apelar,quando adentrou ao tribunal, um sujeito com o aspecto de um caipira, e ela, ao vê-lo, sentiu em seu coração de mãe, uma pequena réstia de esperança e foi procurá-lo. Contou-lhe sobre todo o ocorrido e pediu-lhe pelo amor de Deus para que ele a ajudasse pois, todas as esperanças já tinham ido embora e seria ele a última e pequenina chance que lhe restava.
Aquele senhor caipira, permaneceu calado durante todo o transcorrer da parte final daquele julgamento. Todas as testemunhas foram ouvidas. O Xerife foi ouvido. O acusador público do condado fez as suas últimas considerações. De repente ouviu-se a voz do Juiz : AGORA TEM A PALAVRA A DEFESA!
Todos esperavam que o advogado, que participava normalmente do julgamento, se levantasse. Mas não foi isto o que ocorreu. O senhor caipira quem se levantou do seu lugar e se dirigiu para a tribuna do julgamento, para espanto de todos ali. Ninguém imaginava que aquela pessoa se prestasse a defender uma causa praticamente perdida ali naquele tribunal, embora fosse bastante conhecido, nas suas atuações, defendo e acusando, dependendo do contexto.
Encarando cada jurado e cada pessoa, ali presente no recinto ele começou o seu discurso de defesa.
Vejamos o discurso.
Senhor juiz, senhor acusador, senhores jurados. Já faz bastante tempo quando este fato ocorreu comigo,quando da minha vinda para esta grande cidade, procedente do meu Estado de Indiana e já era noite ou quase noite. Eu já estava exausto da minha longa jornada. Fazia frio e nevava muito. De repente, já quase sem esperanças de encontrar abrigo para pernoitar naquela noite, avistei uma pequena luz ao longe, e, seguindo essa pequena luz, cheguei a uma pequena cabana e bati na porta. Um senhor humilde a abriu rapidamente e pediu-me para que eu entrasse logo,antes que fosse acometido de uma doença grave, sem nem mesmo perguntar quem eu era, de onde vinha e para onde ia. Deu-me agasalhos quentinhos e uma gostosa sopa para que eu a saboreasse. Lembro-me bem.À mesa havia crianças brincando ao redor da chama de uma lâmpada a óleo, e , sentada à beira de uma lareira simples,havia uma mulher com uma criança no colo.
Senhores jurados, naqueles poucos dias em que convivi com aquela família, foram-me de grande felicidade, pois ali havia muita harmonia, apesar das dificuldades vividas. Eram trabalhadores honestos.
Senhores jurados, a mulher que ninava aquela criança, ainda bebê , é aquela senhora que está sentada ali, assistindo a este julgamento e a criança é este jovem adolescente que vocês querem mandar para a prisão.
Senhores jurados, vocês acham que uma criança criada no seio de uma família como essa, que eu mencionei, criaria um monstro para a sociedade? Que o transformaria em um assassino! Este garoto na idade em que deveria segurar um lápis e um caderno para aprender a ler e a escrever, tinha que segurar um instrumento de trabalho, que deveria ser segurado por um adulto!Mas não, estava sendo segurado por ele,uma criança. É constatado que nestes trabalhos escravos nos ranchos do nosso país, é uma coisa vergonhosa e os capatazes são verdadeiros feitores! E foi um deles que tentou espancar o garoto que dada a falta de proporção de idade e tamanho, se defendeu com o que tinha ás mãos, neste caso, um forçado (espécie de gancho para feno) e, ao jogar este forçado em sua defesa, não contava que aconteceria uma fatalidade,vindo a assassinar o então agressor .Senhores jurados peço que apenas seja feita a justiça , verdadeira em nome dos Estados Unidos Da América.
Tenho dito.
Veredicto final: Absolvido! Imaginem a alegria daquela mãe.
Este senhor caipira, anos mais tarde elegeu-se Presidente dos Estados Unidos da América, libertou os escravos, acabou com a guerra de secessão, e , ainda como Presidente,foi assassinado em seu camarote ,quando assistia a uma peça teatral de comédia. Estou falando de Abraham Lincoln. Este conto foi tirado de uma coletânea de
narrativas do Reader's Digest, cuja leitura, fazia parte das minhas leituras na adolescência e inclusive nós encenamos este conto em uma peça de teatro para os dias das mães no Centro Cívico Rui Barbosa, do Centro Educacional Santa-Mariense em Santa Maria da Vitória. Esta reprodução foi realizada através da minha memória, já que não tenho mais este livro.
Escrito por Luxfé.