Sou mendigo, mas não sou pobre

Quem me dera lhe contar, do tanto que fiz e de um tudo a aproveitar. Sou mendigo, mas sou nobre, também sou rico, mas sou pobre. Em devaneios eu te conto, pois agora sei quem sou. Sou do barro, sou da terra, sou João, o catador!

Tanto pego e pouco largo. Já vivi muitos só de ler. Já chorei e já sorri, vendo o tal do alvorecer, me pedindo pra parar: esqueça os outros, veja você.

Mas como posso eu deixar de perceber que sou mendigo, mas duma coisa eu me digo, tem muitos, mais pobres que eu. Em tanta coisa que vou lendo, para o meu tempo passar, vejo tudo, calmo e sereno, pois de nada tenho pra dar.

Mas, os que tanto têm só pedem esmola, nunca vivem seu agora e amanhã já a tardar. Sua sina se concreta, nem vaselina ejeta, o mal que a si fizeram, nem meu Senhor pode ajudar.

Escolheram o livre-arbítrio, pensando que de um tudo pudera alcançar. Só esqueceram que sua alma é a primeira a contemplar. E na hora que o juízo chega, não tem choro, nem manteiga, que pudera suavizar. Pois sua escrita já ta feita, agora é só assinar.