NA ERA DO RÁDIO

Era 1940 em Macapá, a vida precisamente se desenvolvia sob o batuque do Marabaixo no Curiau, a busca da água para mitigar a sede no poço do mato, as lavagens de roupa no igarapé das mulheres e ao som suave das conversas dos compadres e comadres. Quando chegou de repente o primeiro rádio na cidade, mais precisamente na casa do senhor Reginaldo, que não se contendo em si de alegria mandou chamar os seus amigos Miranda e Francisco para juntos festejarem a transmissão do bondinho da saudade oriundo de Belém do Pará pela P.R.C.5.

Logo, logo se espalhou no mercado central que na casa do Reginaldo havia rádio. Então desde as sete da manhã, todas as quintas-feiras se via gente de todo lado rodeando a casa dele para ouvir as novelas e outras programações rotineiras, acabando-se com o sossego naquela casa.

Houve até um grande momento, que aconteceu quando, o intendente e o prefeito, não se fazendo de rogado foram à casa de Reginaldo para também ouvirem as transmissões feitas nele vindas de Belém do Pará, pois até naquele momento ainda não havia em Macapá uma rádio, que explorasse a sua própria programação.

Assim se ouvia, as programações como: “A novela O Direito de nascer”; Alô, alô Interior, Paulo Ronaldo show, a patrulha da cidade, com a consciência do Braguinha, dentre outras programações e vinhetas consagradas tipo: “ Alô, alô interior”; “Urucu paco papa papaco hoje eu quero a mulher do macaco, o rei leão...”; Ou então, “ é uma tristeza, uma felicidade ouvir o meu nome na patrulha da cidade...”

E foi sob essa égide que tanto o intendente como o prefeito se animaram e sensibilizados fizeram na praça da cidade uma pequena programação, que culminou com a homenagem ao senhor Reginaldo com a medalha do território.

Sucesso a parte, que veio quebrar a rotina da cidade de dormir cedo fez com que se ouvisse as programações até quando o sono batesse. Houve situações de separações por causa do danado do rádio, bem como inúmeras discórdias sobre o futuro.

Enquanto poucos sonhavam em ter um rádio, a maioria se preocupava mesmo em ir à casa do Reginaldo bater uma prosa e ouvir a voz do Brasil, para conhecer um pouco de tudo, que acontecia no país. Foi ai que numa noite enluarada, cujo mar sereno adormecia no seio do rio, entre a pedra do Guindaste e o trapiche Eliezer Levir, sem muita gente na rua, o dono do rádio foi tomado pelo sono. Assim no silêncio da madrugada, alguém sorrateiramente, antes da brisa, chegou a frente da casa do senhor Reginaldo. E certificando-se, que não havia ninguém por perto, tão pouco estava aquele fuzuê, de uma multidão de pessoas para ouvir as noticias, foi pé ante pé chegando e adentrou a casa, onde só a rede fazia a companhia daquela voz vibrante do locutor da terra Zé Maria Coelho, vulgo garotinho, em seus primeiros estágios na rádio em Belém, qual sem querer já prenunciava o surgimento de uma rádio em Macapá e da formação de um Estado.

Como era de costume naquela localidade, portas e janelas abertas, qual favorecia a entrada apenas da brisa do rio Amazonas e das pessoas para conversar tomando aquele cafezinho, Martel o ladrão invadiu o asilo inviolável de Reginaldo e sentindo que todos estavam “ferrados no sono”, mesmo para não correr o risco de acordar alguém gradativamente desligou o rádio, colocando embaixo do braço dizendo: - Boa noite senhores ouvintes, por insuficiência de enérgia em nossos transmissores ficaremos fora do ar temporariamente... Chiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... E nunca mais se viu o rádio, sendo decretado a partir daí o dia do rádio no Estado.