"O ARROZ DE FESTA" Conto de Flávio Cavalcante
O ARROZ DE FESTA
Conto de:
Flávio Cavalcante
Arroz de festa é uma expressão muito usada no nordeste brasileiro, que quer dizer que alguém foi em alguma festa sem ser convidado. É comum em cidades de interior algumas festas localizadas em sítios. Festas de casamento e outras festividades são comuns com pessoas que moram em interiores e os convidados são muitos e as guloseimas são fartas.
A festa já começa na igreja. Todos os convidados chegando. O padre posicionado próximo ao altar, juntamente com seus dois ladinos coroinhas, Nildo e Ronaldo á espera dos lindos noivos, estes que não perdiam a festa depois do casamento por nada neste mundo. E tudo acontecia como um ritual. Os coroinhas ajudavam o padre na missa e depois acompanhavam os carros para a festa, mesmo sem ter nenhum convite. Chegavam à festa os dois de lambuzavam de tanta comida e bebida. No final, ainda pedia carona pra voltar pra casa. E assim levava a vida com muita alegria na maior farra. O padre sempre alertava os meninos que um dia eles podiam cair do cavalo. Que não estava certo eles irem pras festas de casamentos sem ter nenhum convite. E os coroinhas caras de pau não davam ouvidos ao que o padre falava.
Na cidade estava havendo uma epidemia de gripe e o Nildo, um dos coroinhas passou um bom tempo sem desfrutar das guloseimas das festas de casamento, deixando o Ronaldo sozinho, comendo e bebendo pelos dois nas mais diversas festas feitas nos fins de semana.
Um determinado dia, Ronaldo chegou a sacristia e foi abordado pelo padre que informou de uma festa de arromba. Era o casamento do ano na cidade. A filha mais nova de um deputado conhecido e filho da terrinha, ia dar o ar da graça de levar ao altar o casal de pombinhos, pois era motivo de orgulho para ele. O casamento era do consentimento dos pais. Na cabeça do Ronaldo já passava a idéia de não comer durante três dias para se fazer durante a festa. Afinal de contas, ele também queria deixar a sua marca registrada.
O padre pediu por tudo que ele não se metesse com aquele povo; pois ele já estava no comando daquela sinagoga há bastante tempo e conhecia a dedo um por um e se tratava de pessoas sem amor próprio e segundo alguns comentários que até matadores de aluguel eles eram.
Lamentavelmente o vício estava enraizado no sangue do coroinha e tudo que o padre falava, entrava por um ouvido e saía pelo outro. Imediatamente Ronaldo foi correndo á casa do Nildo comunicar a festa e disse que ele seria burro se perdesse. Nildo por sua vez, não estava em condições de saúde para fazer parte daquela façanha, mas a empolgação de Ronaldo fez com que ele esquecesse que estava gripado e febril.
Chega o dia tão esperado da festa. Era por volta de oito horas da matina. Ronaldo todo eufórico, louco pra que a cerimônia terminasse logo. Ele já havia arrumado até uma carona com um dos convidados da festa e logo deu um jeitinho de arrumar uma vaga neste mesmo carro para o compassa Nildo, que estava em um dos bancos da igreja todo encasacado. Era notório que o seu estado de saúde era precário.
Finalmente o padre abençoa os noivos e dá o parecer final daquela cerimônia de casamento. Repentinamente um dos irmãos da noiva falou em bom tom aos convidados que iria ter duas festas, uma na casa da família da noiva e a outra na casa da família do noivo. Todos vibraram com a notícia, inclusive os intrusos caras de pau.
Na casa da noiva os convidados nada convencionais foram os primeiros a se servirem. Comiam tudo que aparecia na frente e fincava no bolso muitos doces e bolos para levar pra casa. Exageraram á ponto de chamar a atenção de muitos na festa. Depois foram pra casa do noivo e lá repetiram toda inconveniência. Só que eles não contavam que um dos irmãos da noiva já havia observado o comportamento deles. Nos meados da festa dois irmãos da noiva se juntaram e acabaram abordando os coroinhas.
POR ACASO, VOCÊS FORAM CONVIDADOS?
A máscara caiu na hora, a cara dos dois vieram á baixo, engoliram seco e responderam.
NÃO. (Completamente sem graça).
Um dos irmãos sacou a mão na cara de Ronaldo e ele saiu correndo por entre os convidados, caiu no meio do salão, mas conseguiu escapar e ficou chorando na esquina, esperando o seu colega Nildo, que demorou pra aparecer. Este sofreu um pouco mais nas mãos dos irmãos da noiva. Depois de meia hora o Nildo chegou também na esquina chorando e reclamando do Ronaldo que havia tirado ele de casa para levar uma surra numa festa de casamento. Ronaldo retruca dizendo que ele foi por que quis. Ao chegar na igreja, dá de cara com o pároco que já estava sabendo do que aconteceu e logo deu a maior bronca nos coroinhas teimosos, dizendo que foi bem feito.
SE CONSELHO FOSSE BOM, NÃO DAVA, SE VENDIA.
Mas parece que foi um santo remédio. Nunca mais os coroinhas quiseram se meter em festa sem ser convidados.
- FIM -