A MEDIDA CERTA

Na casa da Sra. Ana Maria morava a alegria. Ela era esposa do Sr. Josafá, um joalheiro, amavam-se e eram felizes.

Josafá, homem generoso e dedicado, conseguiu transformar Ana numa esplendorosa mulher. Mas a fatalidade um dia bateu na porta deles e o esposo de Ana sofreu um acidente automobilístico, vindo a falecer. Este episódio deixou-a viúva herdeira de uma fortuna considerável. Os anos passaram-se e ela sexagenária, ainda pensava em vivenciar um novo casamento, mas os pretendentes rareavam.

Certa vez, numa recepção na casa de uma das suas melhores amigas, conheceu Manuel, um jovem rapaz na flor dos seus 25 anos, pobre porém belo, aliás muito belo. A fogosa viúva, encantada pelo jovem, não perdeu tempo: convidou-o para um jantar em data próxima.

Já em casa, ao se recolher em seu aposento luxuoso, mirou-se no espelho e percebeu as marcas cruéis das rugas que denunciavam a sua idade. Ela então falou alto:

- Pagaria qualquer preço para rejuvenescer, só para atrair o Manuel.

De repente, da penumbra do quarto soou uma gargalhada estrondosa. Olhou ao seu redor, mas nada viu. Amedrontada com o inusitado, retrucou:

- Quem está aí? A voz respondeu:

- Então quer ficar jovem para conquistar o rapaz, hein? Façamos um pacto: rejuvenesço a senhora - vai ficar com trinta anos - mas daqui a vinte anos venho buscar não o seu dinheiro, mas a sua alma. É pegar ou largar!

Ana Maria, descortinando uma nova vida de frêmito amor carnal, não pensou duas vezes:

- Sim, dou a minha palavra!

- Combinado!... Ah! Ah! Ah!

A gargalhada da misteriosa criatura invisível foi diminuindo de intensidade até sumir completamente.

Em apenas alguns minutos seu corpo ficou uma cópia perfeita da bela mulher de trinta anos atrás. Surpreendida e radiante, ficou contemplando o belo corpo, denotando uma alegria jovial.

Na noite do jantar na casa de Ana, sentado numa confortável poltrona da sala suntuosa, Manuel aguardava ansiosamente pela dona da casa. Esta entrou deslumbrante, estendendo a mão para ele, completamente aparvalhado.

- Coma vai, Manuel?

Perplexo com beleza de Ana, a muito custo respondeu:

- Senhora, encantado! Muito obrigado!

Após alguns drinques, ainda temeroso, perguntou:

- O que fez para ficar com essa formosura?

- Perdi alguns quilos, por isso estou me sentindo ótima! - desconversou Ana.

No jantar à luz de velas, o rapaz já pensava numa maneira de faturar a beleza e o dinheiro da viúva.

De súbito, arriscou fazendo logo o pedido:

- Quer casar comigo?

- Sim, e o mais breve possível! - respondeu incontinente Ana Maria.

Casaram-se. A princípio, viveram uma terna lua de mel mas com o passar dos anos o Manuel foi ficando calado e sempre que tinha chance dormia fora de casa. Por intermédio de uma vizinha, Ana ficou sabendo do romance do seu marido com uma moça bem mais jovem que ela. Então veio o abatimento e a tristeza. Perto de completar os oitenta anos ficou doente. Chamaram o médico da família que não soube diagnosticar a causa da doença.

Depauperando em seu aposento, Ana lembrou do pacto que tinha feito há vinte anos atrás. Já estava completando o prazo... Foi então que ouviu aquela voz gargalhante e cínica. Voz que lhe era tão familiar:

- Vim buscá-la!

Ela, bem debilitada, respondeu:

- Não... Não me leve!...

A voz soou num tom grave:

- O pacto foi cumprido. Vamos, dê o último suspiro.

Ana deu o seu último suspiro e ficou imóvel. Era a rigidez da morte.

Ao término do funeral, Manuel ainda não entendia nada sobre a morte brusca de sua esposa. Mas deixa pra lá: tinha certeza, e isso era muito bom, que estava viúvo e ainda relativamente jovem e, o que era melhor ainda, com uma herança fabulosa!

Ana não sabia que dinheiro e nem pactos escusos não trazem felicidade. As pessoas não permanecem eternamente com o seu esplendor físico e, no final, partem sozinhas para sempre.

Varenka de Fátima
Enviado por Varenka de Fátima em 01/05/2010
Código do texto: T2230861
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.