Onde esta seu Voton?
É impossível identificar o que me fazia sentir-se tão desprezível naquelas noites. Andava aquela maldita casa mais de dez vezes, canto a canto. Levantava-se do leito para que fizesse um leve barulhinho, para que assim talvez ela pudesse acordar e importar-se comigo, indagar-me sobre o porquê não durmo; o porquê não estou lá ao seu lado.
Escrevia sempre como o de costume, e quem sabe este costume tornou-se tão costume quanto freqüente e devido a isto não o dava o devido valor, não eu, todavia ela, e uma parte adentro que era o leitor de meus vocábulos.
Inúmeros assuntos pendentes e filosofias a discutir-se. Assuntos ruins, que de ruins tornaram-se horríveis, de horríveis sórdidos e de sórdidos, meus. O sentimento é de languidez, não há mais álcool, não há anestésico, não há como afugentar-se da realidade. Todos dormem e canso-me de velar seus sonos. Ainda que a pluma da tinta e as suaves picadas entre uma letra e outra, acorda-se alguém, não, eles sabem que escrevo e que por escrever perdi minhas palavras para com eles.
À noite arrasta-se. Odeio-me e não a ninguém para contestar este meu próprio ódio, e se mato-me? E se morro?
Consome-me a carne saber que ainda restam horas, até que alguém acorde e se predisponha a ler este desprezo, elogiar a sua estética, os signos, o texto. A análise necessária nunca é feita e sempre esquecida. Há tempos aguardo um dialogo que não ocorrerá. Há tempos espero-a para confabular indo além de seu falso laconismo.
Sabe como me sinto? Sabe como estou quando escrevo? Sabe qual é meu ódio quando escrevo? Sabe qual é o meu amor?
Questões solúveis – pó, meu pó – dor, minha dor - alma, minh’alma – morta, morta – adentro. Que bom que vives a viver...