FETICHE
FETICHE
“Sei que eu sou bonita e gostosa
e se que você me olha e me quer...
Eu sou uma fera de pele macia,
Cuidado, garoto, eu sou perigosa...”
Era uma pessoa aparentemente bonita. Aparentemente porque só se podia julgar o seu aspecto físico, e creio que a beleza se refere a algo mais. Estatura mediana, cabelos prateados, com um leve tom de grisalho, olhos verdes claros, pele acobreada. Seus trajes eram simples, assim como se podia imaginar da pessoa, devido à sua postura.
Estava encostada na estrutura metálica do ponto de ônibus, bastante distraída. Imaginei se realmente esperava um coletivo, pois poderia, da forma como estava, facilmente deixá-lo ir-se sem se aperceber. Alguns rapazes a olhavam, descarada ou disfarçadamente, como sempre acontece na relação homem-mulher. O interessante é que se podia perceber é que ela, na sua simplicidade e displicência, atraía a curiosidade também do sexo feminino. As mulheres a olhavam, de maneira mais disfarçada e, por isto, não se sabe se era de admiração, inveja, desprezo ou qualquer outro sentimento.
De repente, sobressaltei-me, pensando que estaria agindo como todos e, se fosse flagrado, ficaria extremamente envergonhado. Porém, não consegui desviar os olhos. Principalmente quando ela, sutilmente, consertou a alça do sutiã. Era como se se encontrasse a sós, no seu quarto. Parecia que um ar gélido açoitava a todos do sexo masculino, pois via-se claramente o desconforto físico de todos. A ingenuidade da mocinha contagiava por inteiro todo o grupo. A sensação era, visivelmente, de desconforto ou prazer, variando de pessoa para pessoa. Curiosidade, simplesmente, não creio.
Alguns rapazes se tornaram mais explícitos, chegando mesmo a assoviar. Ela, não se dando conta, sentou-se e cruzou as pernas. Os relegados ao ostracismo pela sua nova posição trataram logo de mudar de lugar. Todos agora viam e se deixavam ver. Ela revirou sua mochila e, para surpresa de todos, sacou um pirulito. Com os lábios em forma de biquinho, retirou-o do invólucro, calmamente. Alguns rapazes davam bicota, tentando chamar a sua atenção, ou mesmo apenas chamar a atenção.
Ela cruzou as pernas, o que deixou sua pernas mais descobertas que o rosto. Levou sensualmente o pirulito aos lábios, e ficou num vai-e-vem sensual, os olhos presos na imensidão. A língua passeava ao longo de toda a superfície do doce, lasciva, mas deliciosamente. Gostava cada pedaço visível do mesmo. Mudou a posição das pernas, ainda cruzadas. Fingiu puxar a mini-saia, como se fosse possível. Fez o maior esforço, nada conseguiu de concreto. Uma alça de sua blusa, tipo baby look, escorregou ao longo do braço, e ela, prontamente, num gesto de pudor, voltou-a ao lugar onde nunca deveria ter estado.
Sem mais nem menos, um dos rapazes, dos mais afoitos, destacou-se do grupo e caminhou para o lado da mocinha, passos largos, decidido. Todos suspenderam, o mais que possível a reação, principalmente pelo fato de ela não o estar vendo. O ar pesado, quase que mensurável, trazia um quê de suspense, tal qual o melhor filme do gênero.
Parou em frente à mocinha que, inocentemente, ergueu-lhe os olhos. Ela piscou atrevidamente e sorriu-lhes. Ninguém se sentiu brindado, tal era o clima. Ele então, suavemente, tomou-lhe o braço, alisou-lhe os cabelos. Ela se levantou e ele, carinhosa e sensualmente:
__Já chega, amorzinho. Vamos procurar outro local. Aqui já não me satisfaz.
E se foram, braços dados, deixando a platéia inebriada com tal inesperado espetáculo. Incrível: não havia frustração no público.
02/07/05