A Chuva, Beethoven e Eu (mini conto)

A chuva veio um pouco tímida de início, pouco a pouco, como anunciando o andante de uma sinfonia. Lembra a obra Egmont Overture, de Ludiving v. Beethoven opus 84.

A verdade é que tanto a alma, quanto a terra ansiam por ela. Depois de um longo período de aridez a humidade refresca. As notas musicais formam ondas dentro de mim. Viajo como invadida por bolhas de sabão. O crescer da voz dos instrumentos de sopro revelam um segredo; bendita é a alegria do momento. Tranquila! Um suspiro profundo responde no peito a voz dos violinos. Volto a pureza da consciência dos humanos, antes de nomear tudo o que viam. Olho o sol e a chuva sem verbalizar, Acomodo a minha voz interior. Deixo os instrumentos falarem por mim.

Nuvens derrubam suas lágrimas. Recolho uma a uma. Um relâmpago, um trovão. A orquestra vibra. A alma dorme.

Um jardim de cores e perfumes eu atravesso junto com o som da melodia.

A angústia de fora morre aos pés da paisagem. Liberto o inconsciente. Desdobrada; a lucidez aplaude a vida.