Um giro pela África

Por causa da copa do mundo de futebol que aconteceu no ano da graça de 2010 na África do Sul, resolvi conhecer um pouco mais esse imenso continente.

Dizem ser o berço da humanidade, a motriz primeira, onde tudo começou. A chamada mãe África. Devo admitir que o meu fascínio pela África vem de há muito tempo. Então abrí um velho Atlas e dei um giro por lá. Entrei pelo Marrocos e não parei mais.

Me hospedei numa pensão chamada Camabatela dirigida pelo casal Mauritânia e Johannesburgo, ali fiz o meu Quartel General e parti para uma aventura bem singular.

Antes que alguém me pergunte, já vou logo antecipando:

Não saberia dizer com propriedade se é legal ser negão no Senegal, pra maioria deles parece que sim.

Fazer gambiarra em Gâmbia, é tão normal quanto é no Brasil.No Gabão há gabolas também, mas onde não há?

Na África há muitas regiões quentes, mas o Sudão parece uma sauna. Lá a gente mal sai do chuveiro e já está em estado de sudação. Haja sudário no Sudão!

Gana, é um país curioso. Muita gente de gana vi por lá, gente que não desiste por nada, está sempre na luta. Mas isso é notório em todo o continente.

Na Libéria, como passei muito rápido por causa da chuva, não sei dizer se as coisas por lá são liberadas ou não...

A jornada nem bem começava e eu já estava com um pouco de dor de cabeça, talvez pelas letras miúdas que me forçavam as vistas, além das variações de cores daquele mapa. Mas sendo o africano um povo prestativo,ouvindo a minha queixa, um deles me sugeriu:

-Tome um comprimido de Botsuana que a dor some, Saara. Tomei e saarou mesmo. É o doril de lá.

Depois de correr cada retalho colorido do mapa, voltei para o meu Q.G , lá na pensão Camabatela.

E foi lá que fiquei sabedor de uma história que começa assim:

Mauritânia era uma bela mulher africana, alta, esbelta, seios fartos, pele bem tratada, alegre e com um lindo sorriso de piano. Usava um par de grandes brincos de Angola e pulseiras de cordinhas coloridas.

Johannesburgo seu marido, acabrunhado que estava, declinou-me suas mágoas, sua história.

Disse-me que Mauritânia já não era a mesma de antigamente. Durante o dia não saía da academia . – Ela Somália, Somália , disse o homem dando com o punho cerrado sobre uma mesa.E prosseguiu: - E quando a tardinha cai ela já se prepara para curtir os Egitos da noite me deixando aqui num Chade cadeira. Vai sempre para o club Adisabeba coca-cola e lá se esbalda até de madrugada. Já não aguento essa vida! Além do mais ela quase sempre aparece com jóias, sapatos caros e vestidos novos. E quando lhe pergunto "de onde veio tudo isso?" ela diz que foi no bingo.

Analisando bem o fato, tomei a liberdade e lhe disse umas palavras com muito respeito:

- Amigo Johannes.... quer um conselho? Olha!, Namíbia humilde opinião, Quênia ou não Quênia trata-se de um caso de cornismo...melhor separar-se dela. Essa tal Mauritânia, me desculpe, não é Moçambique... nem aqui, nem lá, e olhe lá hein?

-Era isso que eu precisava ouvir, hoje tomo uma decisão! Obrigado amigo! Disse Johannes coçando o cocuruto.

- Que decisão? perguntei preocupado.

- Vou juntar seus panos da Costa do Marfim e mandá-la em bora...

Dito e feito. Depois bebericou um Chade Guiné Bissau pra espantar a zique-Zaire e comemorar a decisão tomada, porém, abusou na dose e acabou ficando pra lá de Marrakech.

Já quase noite ele acordou e ainda meio Mogadíscio resolveu espairecer. Entrou num Zanzibar ,o boteco de lá, tomou uma Níger com Burkina só pra espantar o Mali. Também não dispensou a famosa porção de Camarões.

Terminada a beberança e a comilança, pediu uma caixinha de goma de Madagáscar, atravessou a rua Luanda e sentou-se num Togo de madeira em frente ao mar e lá ficou quase uma hora ruminando, meditando, chorando, a ver navios.... Ele queria deixar Mauritânia definitivamente, mas não estava preparado pra isso. Não tinha coragem, parecia amá-la de uma forma doentia. À noite sentiu saudades e saiu correndo rumo ao Adisabeba coca-cola para lhe pedir perdão e implorar a sua volta como já fizera outras vezes.

Chegou até a ruela do estacionamento e lá, ficou Maputo da vida. O seu Cairo estava parcialmente no chão. Haviam lhe roubado o Toca-cds, o estepe, uns cds do Chico Cézar, um macaco e duas Rodésias.

Foi aí minha gente, que eu entendi porque as Rodésias haviam desaparecido dos mapas já há algum tempo tendo hoje outros nomes como Zâmbia e Zimbábue, respectivamente substituindo a Rodésia do norte e a Rodésia do Sul.

Sei que deixei de visitar outros países ali. numa outra oportunidade, com certeza o farei.

Ufa! depois dessa, meu Deus! fechei meu atlas pois já eram atlas horas, digo, altas horas.

Lá no quarto, minha esposa Argélia, cansada de me esperar, já dormia em nossa cama de Trípoli, sobre macios lençóis Casablanca.

José Alberto Lopes®

26/04/2010