- Imaginava...
... ouvir o zumbido da neve caindo lá fora enquanto acendia o segundo Gitanes que encontrei num maço ao lado da cama. Mona deixou o copo de tremblement de terre sobre o criado-mudo e deitou-se com a cabeça aninhada na curva do braço. Quem era ela além de Mona? Uma pergunta que escolhi não ter resposta, melhor assim – Era só uma français prostituée. Uma prostituta francesa que me embebedou e soube tirar dinheiro de mim com uma facilidade surpreendente.
“Tremblement de terre...” Mona murmurou sentando-se e pegando o copo “Sabe quem misturou absinto e conhaque para ter isso aqui?”.
“Você?” Perguntei. Ela soltou uma gargalhada jogando a cabeça para trás, o pescoço longo projetando-se.
“Não, não” Disse levantando-se “Nem imagina?”. Fingi pensar enquanto ela me tirava o cigarro. “Não sei, Lautrec?”.
“Eureka... Henri Marie Raymond de Toulouse Lautrec... Monfa”. Falou me abraçando, a agitação dentro de mim agora estava menor, diminuta. Pensava numa forma de desaparecer. Faltavam dois dias para o Natal. Tentava imaginar onde estariam todos os outros... Imaginar Maurício a caminho de Paris. Desaparecer parecia o mais sensato a se fazer, pegaria um voo para o Brasil na véspera de Natal.
“É estranho” Comecei virando-me para ela. “Nunca me imaginei tão bem em um quarto...” Hesitei percebendo que o comentário poderia ofendê-la.
“O que? Em um quarto com?”.
“Nunca estive com uma...” Gesticulei esforçando-me para não parecer muito idiota. Ela sorriu balançando a cabeça.
“Conhece a velha história...” Ela pousou os lábios sobre os meus – “De sempre haver a primeira vez pra tudo na vida?”. Assenti.