O encontro

De forma escusa, o jovem plebeu, com suas rústicas roupas de camponês, entrou com seus homens pelas paredes escuras do castelo onde tochas iluminavam o caminho. "Cuidado com os homens do rei", disse ele a seus comparsas. Percorrendo os longos corredores de escuras pedras eles chegaram ao salão central onde uma grande festa estava sendo realizada. Jovens nobres e suas donzelas, dançavam o som de violinos.Diferentes dos outros locais percorridos, o salão estava totalmente iluminado por incontáveis velas colocadas em vários candelabros por todo o recinto. Uma farta mesa de iguarias estava posta a um canto do recinto. O rapaz, parou em frente à mesa e saboreou um alimento e cada célula gustativa do seu paladar dava-lhe a imprensão de que fora feito por anjos, jamais por mãos humanas. Eram deliciosos doces, biscoitos e frutas, totalmente livres de qualquer química, visto que nesta remota época da Idade Média tais produtos não existiam e conferiam àqueles alimentos um sabor especial, inigualável.

A chegada dos forateiros causou tumulto por todo lado. As criadas correram até suas amas tentando protegê-las e escondê-las em outras salas do castelo.

Mas a jovem de cabelos negros e cacheados, que emolduravam um rosto de pele mais alva que a neve e grandes olhos negros, viu-se à frente do jovem que prendeu-lhe o olhar e paralisou-lhe os movimentos. Naquele instante mágico de encontro de duas almas em perfeita sintonia, viram-se como que acorrentados um ao outro por profundo sentimento mútuo que lhes inundava o peito.

O jovem não conseguia ver ou ouvir qualquer outro ser que não aquele que estava à sua frente. Nem mesmo o apelo dos amigos que imploravam para que deixassem rapidamente o local antes que os guardas reais os alcançassem, era capaz de tirá-lo do estado em que se encontrava. Estava preso. Preso pelo sentimento do amor que o havia levado àquele local para o encontro que nunca mais queria ver desfeito.Era tamanha a pureza que emanava daquela jovem que o intruso não mais queria afastar-se dela. Sentia-lhe como alguém que não era humana mas um ser divino de elevação espiritual não encontrada na terra. Não queria mais partir mas deixar-se viver a eternidade daquele instante.

Puxado por amigos que não desejavam vê-lo morto, teve que sair contra sua vontade da presença daquela que representava toda sua motivação para viver. Nem mesmo importava se agora morreria, havia tido o instante divino do encontro com o verdadeiro amor.

AQUI VAI, OUTRA PARTE, ESCRITA EM OUTRO DIA, OUTRO MÊS, OUTRO ANO...

A amiga a chamou para um café. O papo estava bom, o lanche gostoso. Mas, a melhor sensação foi quando ele chegou. Ela estava de costas e quando se virou deparou-se com seu olhar penetrante, que sorria para ela, feliz em vê-la tão perto. Ele esperou o abraço e o beijo de cumprimento, que não veio. Ela não conseguiu se aproximar, tamanha era a vontade de se jogar em seus braços. Também estava feliz em tê-lo por perto, depois de tanto tempo sem o ver e com saudades...Então ele sentou-se à mesa. Dividiu com ela o biscoito com trouxe. Queria mesmo era mordiscar sua boca... Cada palavra que ela dizia, ele bebia embriagado. A amiga, fingiu não perceber aquela tensão entre os dois, e tentou continuar o papo tranquilamente. Mas sabia que a outra o achava encantador, inteligente e queria mesmo que mais ninguém estivesse ali, somente os dois.Por fim, ela se levantou para ir embora. A amiga a acompanhou. Ele se levantou, aproximou-se e mais uma vez esperou o contato que não veio...ela o temia...ou melhor, temia que percebessem o quão estava caída no domínio dele. Disse apenas um tchau tentando ser o mais displicente possível...ele a acompanhou, quase a implorar que o tocasse, um simples aperto de mão, um suave beijo no rosto...mas ela se virou e foi. E ficaram assim...somente na dor do desejo não realizado e a espera de um novo encontro.