"ABUSO DE AUTORIDADE" Conto de: Flávio Cavalcante

ABUSO DE AUTORIDADE

Conto de:

Flávio Cavalcante

Era uma sexta-feira véspera de um feriadão. Uma blitz da polícia Federal em frente á escola agropecuária de Satuba em Alagoas; mais ou menos trinta minutos da capital (Maceió). Na beira da pista em frente ao colégio, muitos alunos esperavam condução pra voltar para casa. A movimentação era grande e muitas pessoas passavam por aquele lugar exatamente para um descanso prolongado no feriadão.

A blitz era realmente um pente fino e os policiais não deixavam passar nem pensamento. O sargento que estava comandando a operação era do tipo bicho do mato. Reprovava qualquer irregularidade que viesse acontecer e não tinha conversa, o veículo era guinchado mesmo sem dó e nem piedade. Quando parava um veículo mostrava terror para o condutor querendo intimidar só para mostrar que ele era a lei. E fazia coisas absurdas, atrasando a vida de muita gente que passasse pela mão dele.

Nesse dia a fileira de veículos era grande e os condutores se estressavam; pois, tinham uma longa viagem a fazer e estava impedido de curtir o feriadão por causa de conversa fiada do sargento que ficou famoso pelos seus atos de abuso de autoridade. O condutor quando sentia a necessidade de passar no local já dava um jeito de saber se estava havendo a tal blitz e quem era que estava no comando. Se fosse o dito, dava-se o jeito de pegar outro itinerário para não ter aborrecimento.

Assim era a vida dos condutores que saíam de Maceió para um fim de semana em outra cidade. O itinerário contrário que eles tinham que enfrentar era o dobro da quilometragem e esta façanha implicava em um prejuízo violento para o bolso dos condutores. Ouviram-se comentários que ele conseguiu escapar da morte duas vezes. Já tentaram armar uma emboscada pra ele, mas por sorte dele mesmo, conseguiu escapar. Um dia é caça outro dia é do caçador, assim que muitos condutores falavam.

Exatamente nesse feriado ele pagou o preço de sua marra. Em uma das fileiras de carro ele cismou com a cara de um senhor que estava com a esposa, dois filhos e um pequeno cachorro que a família levava em viajem. O sargento foi grosso, e ordenou que abrisse a mala do carro. O cidadão educadamente abriu. O marrento abriu a mala do condutor e propositadamente espalhou a roupa, desarrumando as malas, dizendo suspeitar de ter droga no veículo. Até então, o cidadão condutor, ficou calado sem dizer uma só palavra. Depois de ter revirado tudo da mala do veículo ele debochadamente falou. Ta ok. Agora pode seguir viajem. O cidadão o chamou e lhe interrogou.

TUDO BEM. AGORA POR FAVOR, DEIXE A MINHA MALA DO JEITO QUE O SENHOR ENCONTROU. ARRUMADA.

Aquilo soou no ouvido do marrento como uma front e já respondeu aos berros querendo intimidar o educado condutor.

VOCÊ ESTÁ NERVOSO, MEU AMIGO. SÓ PEDI PRA DEIXAR A MINHA MALA DO JEITO QUE O SENHOR ENCONTROU.

Disse o cidadão liberando toda a paciência do mundo. E mesmo assim o sargento entendeu como um desacato a uma autoridade. Chamou o guincho e deu voz de prisão ao cidadão.

É ASSIM QUE VOCÊ TRATA OS CONDUTORES? ABUSANDO DO PODER?

O cidadão se dirigiu ao sargento, mantendo a conduta do respeito. Nesse estado o sargento já falou em tom de querer partir para agressão. Simplesmente, mantendo toda a calma do mundo, o condutor se afastou um pouco pegou o seu celular e começo a falar ao telefone. Pouco tempo depois chegou ao local algumas viaturas da polícia federal e o sargento marrento ficou sem entender. O condutor humilhado era general do exército e deu-lhe a maior lição de moral, ordenando que arrumasse sua mala e que exigia que fosse arrumada no mínimo detalhe. O marrento arrumou umas três vezes a mala e o general falou que não estava bom. Ordenou que pedisse desculpa a cada um condutor parado e fez questão de acompanhá-lo a cada veículo. Depois chamou uma das viaturas e ordenou que o prendesse. O algemaram e levaram-no em cana para a felicidade geral dos condutores. Até chorar o sargento marrento chorou, mas não teve choro que o livrasse da cadeia. O general acabou com a blitz e ordenou que o trânsito fluísse novamente.

- FIM -

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 25/04/2010
Código do texto: T2218683
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