O açúcar que faltou ao pão ou O Pão de Açúcar que pedrou um coração.

A decepção estampada na expressão de incredulidade pegou a todos de surpresa. Até o motorista do táxi que de nada sabia, parecendo compreender o drama e a seriedade daquele momento ímpar, viveu com ela a emoção de um sonho a muito acalentado que se desfazia em lágrimas de desilusão e desconforto.

Era como se o açúcar que faltava ao pão de pedra que se materializava bem ali a sua frente derretera e se transformara em lágrimas salgadas que caiam aos borbotões dos olhos daquela que, por muitos anos, alimentara o sonho de ver de perto o objeto de sua idolatria. E por isso ali naquele momento ela relutava em acreditar que aquele monstro de pedra, feio e sem graça, que a sua patroa e o motorista do táxi teimavam em apontar, fosse o seu idealizado Pão de Açúcar.

De dentro do táxi procurava naquela paisagem nova e impactante para ela, uma saída para manter intacto o seu sonho. Não, não podia ser ela com certeza não estava olhando para onde eles estavam apontando.

A esperança de ver de perto o Pão de Açúcar, que sempre a fascinara e intrigara, era tudo o que ela queria naquela cidade que o povo chama maravilhosa. Fora somente por esse motivo que aceitara o convite da Dona Arly e Seu Marco de vir morar por uns tempos com eles no Rio de Janeiro.

Ela sempre ficava olhando as fotos das revistas e pensando como gostaria de ver de perto um pão daquele tamanho e ainda por cima de açúcar.

Ai! Devia ser mesmo uma belezura! E então crivava a patroa de perguntas sobre aquilo que ela pensava ser a coisa mais interessante do mundo.

Imaginar um pão feito de açúcar daquele tamanho que ela via nas fotografias enquanto tirava a poeira daquela montanha de revistas e livros que encontrava por todos os cantos da casa dos patrões, para ela já era um deleite. Ainda por cima ver de perto, até tocar, quem sabe poder provar um pedaço daquele imenso pão, era bom demais para ser verdade! Pensava ela enquanto teimava em não acreditar no que estava tendo que ver. É dona Arly parece mesmo que alegria de pobre dura pouco! E a dela estava a se desfazer ali ante aquela visão torta.

Visto na revista era lindo demais! E fora por aquela visão idealizada que ela se apaixonara. E era aquilo que ela esperava encontrar. Mas a doce ilusão glacê com que confeitara o morro dos seus sonhos estava agora a se desfazer bem diante dos seus olhos. E isso ela não podia aceitar.

Fora essa ilusão que a impelira a aceitar vir passar uma temporada aqui no Rio, encarar o desconhecido, vencer o medo de avião, aceitar a mudança temporária de vida. E agora ela se sentia traída. Era ruim, pensava ela, aquele morro feio, sem graça ser o meu Pão de Açúcar! Deve haver algum engano! Isso agora já é demais!

Mesmo diante da confirmação da patroa, que a fora pegar no aeroporto a caminho de sua nova casa, e do desavisado e atônito motorista de táxi, que sem querer ajudara a desfazer aquele sonho, ainda relutava em aceitar a dura realidade que para ela parecia o maior dos absurdos e era a maior decepção da sua vida.

Se desfazendo em prantos ante a realidade dos fatos que a obrigaram a enxergar, bem ali a sua frente, com outros olhos o que ela fantasiara em sua imaginação à distância, ela pediu a sua patroa para mandar o táxi dar meia volta e colocá-la dentro de um avião a caminho do seu Ceará de onde nunca devia ter saído!

Agora triste e se sentindo traída voltava para casa trazendo na bagagem, que nem chegou a ser desfeita, um sonho a menos e uma desilusão a mais.

Sem mel nem cabaça, como se diz por aqui. Sem pão e sem açúcar. De volta para o fel da dura realidade que é o seu dia-a-dia na cidade grande.

Que Deus a guarde e conserve.

Amém!

Alena Ajira
Enviado por Alena Ajira em 25/04/2010
Reeditado em 24/06/2015
Código do texto: T2217925
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