DIÁRIO DE UMA ENFERMEIRA II
Hoje cheguei um pouco mais cedo ao plantão,
Tinha a intenção de rever um paciente que,
Assumi por conta própria de ele cuidar
É um senhorzinho que ali fora abandonado
Por sua família, no qual nunca o vem visitar.
Ele não se locomove, não fala, não esboça qualquer
Reação, totalmente estático, parece vegetar em cima
De um colchão, sua saúde requer cuidados e atenção.
Mas, qual a minha surpresa não o encontrara na observação,
Fora removido, confesso... Ter ficado um tanto quanto triste e
Ao mesmo tempo aliviada.
Ver o sofrimento daquele homem, que não poderia eu curá-lo.
Contudo... Tentava amenizar a sua dor.
Porque sentir-me aliviada
Porque o que os olhos não vêem... o coração não sente.
Por alguns momentos ele vinha em minha memória,
Lamentei e pensei... o que será daquele pobre homem.
Gostaria poder fazer mais do que o necessário, mas, tudo me é
Precário, deparo com dificuldades, falta tudo, material, medicamento,
Humanidade, solidariedade.
No meio a dor e sofrimento você encontra o descaso, tento na medida.
De o possível ajudar, mas sinceramente, às vezes me falta até o básico.
Recorro aos responsáveis e ouço: você não pode fazer
Milagre... Saio por vez revoltada.
Numa conversa com uma amiga, discutíamos o fato,
Manifestei minha frustração quanto a minha profissão.
Falei-lhe: acho que escolhi a profissão errada, aqui não
É o meu lugar.
Ela concordou, afirmando-me: você se envolve demais,
Isso não é bom, deixa-se levar, quer fazer, quer brigar
E adotar a todos, esquecendo que esta é a nossa realidade.
Pensei... Será que estou errada,
Ou o correto seria...
Todos pensar como eu.