DIÁRIO DE UMA ENFERMEIRA II

Hoje cheguei um pouco mais cedo ao plantão,

Tinha a intenção de rever um paciente que,

Assumi por conta própria de ele cuidar

É um senhorzinho que ali fora abandonado

Por sua família, no qual nunca o vem visitar.

Ele não se locomove, não fala, não esboça qualquer

Reação, totalmente estático, parece vegetar em cima

De um colchão, sua saúde requer cuidados e atenção.

Mas, qual a minha surpresa não o encontrara na observação,

Fora removido, confesso... Ter ficado um tanto quanto triste e

Ao mesmo tempo aliviada.

Ver o sofrimento daquele homem, que não poderia eu curá-lo.

Contudo... Tentava amenizar a sua dor.

Porque sentir-me aliviada

Porque o que os olhos não vêem... o coração não sente.

Por alguns momentos ele vinha em minha memória,

Lamentei e pensei... o que será daquele pobre homem.

Gostaria poder fazer mais do que o necessário, mas, tudo me é

Precário, deparo com dificuldades, falta tudo, material, medicamento,

Humanidade, solidariedade.

No meio a dor e sofrimento você encontra o descaso, tento na medida.

De o possível ajudar, mas sinceramente, às vezes me falta até o básico.

Recorro aos responsáveis e ouço: você não pode fazer

Milagre... Saio por vez revoltada.

Numa conversa com uma amiga, discutíamos o fato,

Manifestei minha frustração quanto a minha profissão.

Falei-lhe: acho que escolhi a profissão errada, aqui não

É o meu lugar.

Ela concordou, afirmando-me: você se envolve demais,

Isso não é bom, deixa-se levar, quer fazer, quer brigar

E adotar a todos, esquecendo que esta é a nossa realidade.

Pensei... Será que estou errada,

Ou o correto seria...

Todos pensar como eu.

Cristina Siqueira
Enviado por Cristina Siqueira em 23/04/2010
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