Acabou
Chora Vaughan, embala meu fim de tarde. Megan Fox me descartou, previsivelmente. Palavras dela, "não tem como a gente conviver, voltar não é uma hipótese". Narguilé com vodka, energético com vodka no copo, uma pizza fria, Vaughan destruindo sua stratocaster, um vento frio, um por do sol. 302. Eis o retrato atual. Eu sou inteligente demais. A ignorância é uma bênção, dizia John Lennon, e eu concordava sem saber que a frase já havia sido dita na década de 70 por um gênio incompreendido. Inteligente demais, então serei eu um gênio incompreendido também? Outro gole, outra tragada, outra mordida, outro riff. A tarde vai se indo. Era início da tarde quando encontrei com ela, na sua casa, sua irmã, gato e cadela. E Ela. O olhar não foi desafiador como de antes, não foi olhar de assassina como outrora havia sido, como algumas vezes sentia que deixava parte do meu escalpo somente com aqueles lindos e profundos olhos negros me fitando, e me matando como que por divertimento. Não, hoje não foi assim. Hoje foi diferente. Hoje o olhar era de indiferença. Fazem 40 horas que não durmo. To precisando descansar. Mas fecho os olhos, e vejo, ouço, cheiro, toco ela... E então tudo se esvai na fumaça do meu narguile. Banco de bateria, verborragia. Superstition. Ceva gelando, vinho na espera, mas por enquanto, vodka e energético. Energético, fazem 40 horas que não durmo e continuo tomando coisas pra ficar ligado. Foda. Aquilo foi um baque. se tu fosse mais burro, talvez a gente pudesse ficar junto. Então tá, vou fumar crack pra destruir meu cerébro, e aí tu me aceita de volta? Segundo Ela, meus pensamentos que saem depois de cada porre, que é quando eu efetivamente boto as coisas pra fora, deveriam ser gravadas, pois o ouvinte não consegue acompanhar o raciocínio, e é preciso de consulta e estudo posterior. Coisas de fundamento, que as pessoas deveriam ouvir. Então tá, eu sou um profeta, comprovado que sou Zaratustra, devo andar descalço pelas praças das metrópoles pregando a verdade universal. Esse é o meu destino? Eu só queria ficar contigo.
Rodrigo Lorenz Mallmann, muito prazer.