"OS DISCRIMINADOS DA FARDA" Conto de: Flávio Cavalcante

OS DISCRIMINADOS DA FARDA

Conto de:

Flávio Cavalcante

No centro da cidade de uma imensa selva de pedra, encontra-se um restaurante muito freqüentado por turistas e pessoas de alto nível social. Turista entra e turista saí e quando isto acontece a casa e principalmente os garçons agradecem. E assim é a rotina do ambiente das guloseimas; casa cheia, caixa registradora lotada de grana e garçons satisfeitos com as gorjetas maravilhosas deixadas em agradecimento ao bom atendimento.

Como em todo lugar sempre existe discriminação. O chefe dos garçons é chamado por Lino e é considerado pelos garçons o terror do restaurante, pelo fato que não admitir erro em si tratando do atendimento ao cliente. Ele não aceita um bom e nem um ótimo atendimento tem que ser excelente e manda qualquer um profissional embora caso desobedeça a essa regra. Por causa dessa mania de perfeição acaba sendo odiado por muitos clientes de renda um pouco mais baixa, pois seu foco maior são os nobres que deixa um lucro exorbitante na casa. Entre estes clientes de baixa renda e que odeia o Lino, existem dois soldados que toda vez que saíam do trabalho faziam questão de almoçar naquele recinto e só pelo fato de eles chegarem ao local ainda com a farda, era atendidos por último e os garçons já eram orientados para isto. O fato já vinha se repetindo. O desdém para com os soldados era de chamar a atenção. Soldado Ézio e Soldado Júnior estavam se sentindo humilhado e eles sabiam que era ordem do chefe do garçons, dá desprezo por eles terem cara de pobretões. Mas eles não deixavam de ir ao restaurante, até porque gostavam do lugar. Já estavam até acostumado com o fato.

Um determinado dia ao sair do estabelecimento, o dois soldados foram surpreendido por um garçom que estava no estacionamento do restaurante e falou que tinha acabado de ser demitido, pois a meta da excelência, ele, não havia batido. E aí ele explicou como funcionava. Ézio ouviu aquela história trincando os dentes de raiva e xingou o chefe dos garçons de tudo quanto era nome. Com mais raiva eles ficaram quando o garçom falou que eles eram mal atendidos por ordem dele. Ézio, era mais despojado que Júnior e prometeu se vingar do malfeitor.

O garçom falou que não queria perder de ver a reação do Lino, pois sabia que os soldados iam aprontar lá dentro do restaurante e ele não ia perder a oportunidade de se vingar também. Pra completar a armação, o garçom comunicou que no fim de semana o restaurante ia estar lotado com a ilustre presença do governador do Estado e sua comitiva. Além de outros convidados importantes. Ézio e Júnior começaram a fazer planos. Malandramente eles resolveram ir ao restaurante paisano, pois o governador poderia prejudicá-los se soubesse que eles eram militares.

Chegou o fim de semana. Era por volta de três horas da tarde. O restaurante estava lotado e o estacionamento não comportava mais nenhum veículo. Musica ambiente tocada ao vivo por um pianista. Enfim, era uma tarde especial. No auge do almoço entram em cena os artilheiros paisanos com toda maldade na cabeça. O chefe dos garçons já ficou de olho nos convidados nada agradáveis. Assustado com a reação dos soldados, o Lino chamou o seu garçom mais experiente e pediu que desse toda a atenção aos dois; pois aquele almoço era um almoço que fazia uma enorme diferença na casa. E assim o garçom educadamente foi servir os soldados e perguntou se eles não gostariam de beber alguma coisa. Os dois pediram uma coca-cola litro e dessa vez sem demora alguma o garçom atendeu e gentilmente perguntou.

MAIS ALGUMA COISA, SENHOR?

O dois riram e retrucaram com deboche.

MAIS NADA NÃO, SENHOR...

O garçom afastou-se da mesa para atender a visitantes nobres; enquanto Lino estava num pé e outro preocupado com o que viesse acontecer. O seu subconsciente acusara que aqueles dois antigos freqüentadores do restaurante iriam aprontar. Ézio e Júnior perceberam o incômodo de Lino. Ézio pegou a coca-cola e bebeu vários goles no gargalo da garrafa sem respirar enquanto Júnior dava gargalhadas para chamar a atenção de todos. Inevitavelmente, a vontade do arroto foi seguido e o artilheiro anarquista não se fez de rogado. Explodiu com toda a sua fúria de prazer aquele sonoro e escandaloso arroto. O restaurante inteiro parou de olhos vidrados no espetáculo nada agradável. Júnior por sua vez, aproveitou que todos estavam prestando bem a atenção, não deixou passar a oportunidade de também mostrar o seu lado humorístico e arrancou a sua dentadura da boca, pegou um palitinho de dente e começou a palitar a dentadura que só fazia sorrir com um monte de dentes expostos para a platéia importante.

Moral da história. Ambos foram expulsos pelos seguranças do restaurante, mas ficaram aliviados pela vingança na hora oportuna.

- FIM -

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 21/04/2010
Código do texto: T2209867
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