"O MILAGRE" Conto de: Flávio Cavalcante

O MILAGRE

Conto de:

Flávio Cavalcante

Adoro contar causos que foram fatos presenciados por mim. Este foi um dos mais impressionantes que vi em toda a minha existência.

Aconteceu no Rio de Janeiro no ano 2000. Assim que cheguei á cidade maravilhosa em busca de novos horizontes na minha área profissional. O primeiro passo foi procurar um local pra morar. Como tudo no começo é de uma dificuldade homérica, achar um imóvel pra alugar sem ter conhecimento algum, é como achar uma agulha no meio de um imenso palheiro. Assim aconteceu comigo.

Conheci o senhor Júlio um bom samaritano de noventa anos de idade, que cuidava de alguns apartamentos de um amigo dele. Depois de um papo sincero seu Júlio olhou em meus olhos e viu que eu era um cidadão de bem e em nenhum momento se fez de rogado. Me alugou o apartamento sem nem pedir fiança. Fiz minha mudança naquele mesmo dia.

Seu Júlio era um velhinho, que para a sua idade era muito ágil nos negócios correlacionados aos apartamentos de seu amigo. Era notório o seu estado físico e fazia jus a idade que carregava.

Todas as manhãs eu saía para trabalhar e lá estava seu Júlio, sentando em sua cadeira de balanço lendo a bíblia e este fato se repetia todos os dias que eu saía pra trabalhar.

Seu Júlio carregava uma espécie de câncer de pele em sua face que dava pena até olhar pra ele. O sofrimento do velhinho era grande, apesar de não comentar com ninguém; mas por mais que ele quisesse esconder a dor da carne e da alma, ele não conseguia. Via-se notoriamente que ele não estava nada bem. Mesmo assim, não largava a sua fé em Deus; e transmitia isso nas suas leituras diárias da sagrada escritura.

Já havia se passado seis meses mais ou menos que eu morava no apartamento e nos tornamos amigos neste decorrer de tempo. Seu Júlio já adorava conversar comigo. Dizia ele, que eu sabia ouvir os mais velhos. E ali ele lamentava o que as pessoas falavam á respeito de sua doença. Até chorar ele chorou de tristeza e disse olhando para a Bíblia como em oração.

“MEU DEUS. É UMA CRUZ MUITO PESADA QUE ESTOU CARREGANDO. JÁ TENHO NOVENTA ANOS E LHE PEÇO QUE SE FOR DO MEU MERECIMENTO, ME LEVE DE UMA VEZ, OU ME CURE DESSA DOENÇA TERRÍVEL. EU CREIO NA SUA PALAVRA.

Aquelas palavras ainda hoje soam nos meus ouvidos como uma grande lição de vida e de humildade. Depois desse contato com ele, fui trabalhar a partir desse dia, não vi mais o seu Júlio durante uma semana.

Num domingo eu estava em minha janela quando o avistei e ele acabou fazendo um gesto que queria falar comigo. De imediato fui até ele, que já foi logo me dizendo.

VOCÊ ACREDITA EM MILAGRES, MEU FILHO?

Falei que acreditava, até porque acredito nos mistérios da vida e a nossa vã filosofia jamais vai poder decifrar. São coisas de outra dimensão.

Então ele disse que há uma semana atrás assim que eu saí para trabalhar, depois daquele oração feita, aconteceu um milagre na vida dele. Quando chegou a noite, arrumou sua cama e deitou. Sentiu um incômodo mesmo antes de deitar. A ferida em seu rosto parecia esquentar muito. Ele chegou até pensar que estava com febre alta. Ao deitar, segundo ele, só lembra que virou de lado e a partir daí, ficou completamente imobilizado. A temperatura da ferida subiu tanto que parecia vir seu rosto fervilhar. A sua visão parecia sumir aos poucos até que chegou um certo ponto que ficou completamente cego, mas sentiu uma mão pesada pressionando a ferida de um jeito que ele gemia muito de dor até dormir em sono profundo.

No dia seguinte ele acordou sem se dar conta que a dor havia sumido. Levantou disposto, tomou o seu café matinal e depois ele pôs a sua cadeira de balanço como fazia de costume para ler a sua bíblia.

O portão de sua casa vivia constantemente fechado no cadeado até pela sua própria segurança. Visto que o velhinho já passara dos noventa anos e morava apenas com seu filho que vivia fora trabalhando.

Era mais ou menos oito horas da manhã quando chegou um homem trajado de branco, parecendo um médico. De feição angelical, barba e cabelo grande. Parou em frente ao portão e disse.

BOM DIA, SEU JULHO. O SENHOR ESTÁ MELHOR?

Ele ficou sem entender como aquele homem sabia o nome dele se ele jamais havia visto em algum lugar. Mesmo assim usando da educação falou pro cidadão que estava bem melhor. E o homem perguntou se podia entrar. Seu Júlio não viu problemas nisto e acabou consentindo que o rapaz de branco entrasse. Ele entrou e disse que não ia demorar. Mandaram ele entregar uma pomada pro velhinho e que ficasse tranqüilo que ele ia ficar bom.

O rapaz sem falar mais nenhuma palavra deu bom dia e saiu, abriu o portão e fez menção que ia embora. Boquiaberto com o acontecido, seu Júlio, lembrou de perguntar o nome do rapaz e retrucou.

EU SOU GABRIEL...

– Disse o homem de branco e foi embora. O mais impressionante foi que seu Júlio levantou pra tentar saber a respeito do dito cujo e quando tentou abrir o portão estava fechado no cadeado. Seu Júlio ali mesmo, caiu de joelhos ao chão, chorou muito e agradeceu a Deus por lembrado dele.

Seu Júlio usou a pomada, toda aquela ferida cicatrizou e para admiração de seu médico que falou com todas as letras que aconteceu um milagre na vida dele; pois, segundo os últimos exames, o velhinho já estava com seus dias contados. Seu Júlio nunca foi evangélico; apenas ele gostava de ler a bíblia toda a manhã e segundo ele foi a palavra do senhor que o curou daquele mal que estava acabando com a sua vida; e hoje seu Júlio ainda vive e nem parece que estava com algum problema no rosto.

- FIM -

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 19/04/2010
Código do texto: T2207365
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