Diário 1 (Diego)
É difícil contar muita coisa de min.
Nasci dia: 12/07/86, as vinte e trés horas e quarenta e oito minutos.
Talvez o dia mais feliz do meu pai. O quinto entre oito irmãos e o primeiro a ter um menino como filho.
Naquela quarta-feira ele estava viajando com seu caminhão de carga para fazer uma entrega de soja a algumas cidades daqui. Mas voltou para me ver assim que terminou o trabalho.
Minha mãe sempre me disse que meu pai só pode me ver cinco dias depois de eu ter nascido e na primeira vez que ele me viu, ele estava eufórico e não parava de sorrir.
Nunca acreditei nisso.
Na primeira vez que ele me viu,ele tinha preça.
Preça de ter seu melhor amigo nos braços, preça de sentir o cheiro do filho que já avia nascido a tanto tempo.
Ele não conseguia acreditar no fato de ter perdido tanto tempo da minha vida, não conseguia acreditar que seu filho já estava a cinco dias naquele mundo sem um pai para mostra-lo.
Ele me abraçava com tanto cuidado. Era possível ver o medo que ele tinha de sem querer “quebrar” aquele bebê tão pequeno.
Mas mesmo assim eu podia sentir firmeza nos braços dele. Podia me balançar para qualquer lado que quisesse. Eu sei que nunca me deixaria cair.
Os braços do meu pai emitiam um calor e um conforto incrível e um cheiro embriagante que deixava qualquer pessoa que encostasse sua cabeça nele, sentir uma paz e uma alegria indescritível.
Aquele cheiro.
Ninguém conseguia sentir conscientemente aquele cheiro, ao menos que se esforçasse bastante e mesmo assim, não conseguiria dar nome aquele perfume natural que ele tinha.
Seu primeiro filho.
Meu pai mais do que ninguém queria me ver crescer, queria ver o filho dele ser a melhor pessoa do mundo e prometia com palavras mudas ser o melhor pai também.
Ele se esforçou para cumprir cada uma de suas promessas. Mas eu não pude ser a melhor pessoa do mundo... E ele jamais conseguiria ser o melhor pai também.
Depois de alguns anos, mostrou que jamais poderia ser se quer um pai...
[continua...]