Segundo transe (Nunca acordar?)
O alicate apertava cada vez mais sua coxa. Fazendo a pele branca de Bianca passar de vermelho a um roxo enegrecido.
Segurava o colchão com as unhas e mordia os lábios com força para evitar que algum grito ecoasse pela casa (Se você gritar alguem pode ouvi e chamar a policia).
As lagrimas escoriam pelos olhos e o sangue pelo lábio. “A quantas horas estava da quele jeito?”, “porque não conseguiu evitar tudo isso?”. Era fácil para ela. Sempre soube lhe dar com as pessoas, sempre estudou para isso, sempre cresceu analisando os outros pra poder se defender de coisas ridículas como essas. Mas foi inevitável, algo a levou a isso, algo a levou a essa dor, só não queria culpar ninguém, queria culpar a si mesma por isso (Eu me deixei levar. Eu aceitei isso).
O sangue agora também escoria de sua coxa e a dor cada vez mais forte tornava inevitável os gemidos e a respiração acelerada do agressor.
“Prazer”
Era ridículo saber que alguem sentia prazer com aquilo, que sentia prazer com tanto sofrimento.
“Ridículo”
Estava usando muito esta palavra nos últimos anos.
“Ridículo”
Será que tudo no mundo estava se tornando ridículo, ou ela já avia usado tanto aquela palavra que sua mente já não tinha mais noção verdadeira do significado?
“Palavras”
(Somente um conjunto de sons que nos obrigam a entender o mundo de uma forma padronizada, impedindo que aceitemos novas formas ou idéias que não se encaixem com tais padrões, e nos fazendo aceitar qualquer coisa que nos é imposta, contanto que por minima que seja se enquadre com tais conjuntos de regras que já tenhamos recebido.)
“Silencio”
(O homem não e mais capas de entender as coisas por instinto ou sensações. Está acomodado demais e agora só entende as “regras dos padrões” que são baseadas somente nas palavras)
“Silencio”
(Até mesmo os sons não são mais compreendidos pelas pessoas. Se um som não se enquadrar com uma palavra ou escrita já criada, ele simplesmente é ignorada ou vista como “incorreto”)
“Incorreto”
(Quando as pessoas colocam algo como “incorreto”,simplesmente acham que não é necessário e o ignoram, conseqüentemente se algo que é ignorado surge de surpresa, é visto com espanto ou medo...As pessoas tendem a destruir tudo aquilo que temem ou as surpreendem de uma forma que as fação perder mesmo que por um momento o controle da situação.)
“Raiva”
-Não acredito que to pensando nisso, numa hora dessas.
Bianca soltou o alicate e a pele devagar se desgrudou dos dentes da ferramenta, causando um ardor que a fez respirar fundo. Limpou o sangue dos lábios com a linguá e com os dedos limpou o sangue que escoria da ferida na coxa e os levou a boca.
A Mais de trés anos ela vinha fazendo isso e apesar de tentar se tratar,de alguma forma, sempre se via fazendo a mesma coisa pela manhã ou antes de dormir.
-Você tem que parar com isso menina!-Bianca falava olhando para o alicate que a observava mordendo os lábios e se arrastando disfarçadamente para mais um beijo.- Suas pernas estão ficando todas marcadas!-O alicate deitou sua cabeça nas coxas de Bianca e com carinho as acariciou com os lábios, depois mostrou suas intenções, passando a linguá entre as feridas já cicatrizadas.
Bianca deu um leve gemido e quase cedeu ao sádico beijo, mas a razão a puxou de volta com uma corda que foi lançada por cima de seu pescoço, quase a sufocando e a lembrando de suas obrigações.
Olhou para o relógio e viu que já passava das dez.
-Você tem trabalho a fazer menina, eles estão precisando de você!
Estava atrasada para o trabalho, seu primeiro paciente chegaria em quarenta minutos ao seu consultório e ela ainda nem avia saído de casa.
-Um bom psicologo não pode deixar de atender seu paciente.
Bianca riu ao se ver naquela situação.