CONVERSA DE GÊMEAS





Num mundo arredondado, onde o calor e amor se faziam presentes, quatro mãos pequeninas se entrelaçavam no meio de uma conversa corriqueira:

- Até que enfim, Carolina. Chegou a hora de conhecermos o planeta de que falavam tanto. Finalmente vou ficar livre dos seus pezinhos no meu rosto. Qual de nós vai sair primeiro? Tomara que seja você. Ouvi umas vozes lá fora. Tive impressão de que elas tremulavam de frio. Eu não sei bem o que é sentir frio. Você sabe? Mas pelo tom de voz acho que não é muito bom não. Aqui está tão quentinho...

- É, Fernanda, também acho que o mundo lá fora não vai ser tão aconchegante quanto aqui. Contudo, estou curiosa para conhecer nossa mãe.  Até me lembrei da história do casulo e da lagarta. Será que iremos nos transformar em borboletas também?

- Não sei, não vi nenhum par de asas por aqui. Você viu? Borboletas não voam? Mas falando da mamãe... coitada, não é Fernanda? Não deve ser nada fácil ficar tanto tempo descansando. Nós, aqui dentro, até que nos divertimos. Você ouviu quando ela disse que nosso quarto já está pronto? Dois berços, ela disse. Mas para que dois berços? Não estamos muito bem em um só, aqui?

- Entrar no planeta, Fernanda, deve ser mais ou menos como ‘CAIR NA REAL’. E cair na real deve ser uma coisa meio complicada, você sabe como é...

- Vem cá, Carolina. Agora que está tudo aprontado por lá, o que significa que nosso tempo por aqui está acabando, olhe bem para mim, embora aqui seja muito apertadinho. “Você acha que sou seu espelho?” Eu olho para você e vejo um pouco de mim aí. Você também se vê aqui?

- Bem, Fernanda, somos semelhantes sim, na aparência. Na essência, não. Não se esqueça nunca disso: EU sou EU e VOCÊ é VOCÊ. Sempre será assim.

- Ora, Carolina. Quem disse isso fui eu. E já faz algum tempo...

- Ei! Chegou o dia? Chegou a hora? Fernanda, espere... não me deixe aqui sozinha. Estou indo também. Não foi o que combinamos? Eu por você, você por mim e TODOS por NÓS!



Heleida Nobrega, 6 de setembro de 2006, por ocasião do nascimento de minhas netas.
heleida nobrega
Enviado por heleida nobrega em 09/04/2010
Reeditado em 15/08/2011
Código do texto: T2187796
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