VIDA CAIPIRA
A casa é de pau-a-pique e fica lá no meio da serra onde o mato cresce alto, tem jaqueira, tem pitanga, abacaxi e feijão. Muito pouco, é verdade, para alimentar toda a família do caboclo Juvêncio que tem sete filhos, mulher e sogra, pai doente, já velhinho, esperando o dia de finar... Só dois filhos são crescidos e prontos para ajudar na capina: é o Zequinha, de 12 anos e o Joãozinho, de 10 anos. As meninas, Maria e Margarida, de 9 e 7 anos e dois meninos pequenos, de 5 e 3 anos, Martinho e Zizinho e ainda um neném de colo, de 9 meses, a Lindinha.
Juvêncio pita o cigarro de palha feito por ele mesmo, cospe no chão, depois olha o céu, abana o chapéu, desanimado. Muito calor, muita seca, nada de chuva, morre tudo, boi adoece, cabrito morre, aves voam para longe. Tudo quebra, galho seco estalando todo, queimando, com perigo de incendiar até...
Quando chove é demais, alaga tudo, enche as valas até cobrir, ensopa toda a horta, mata as plantas também. E a casa fica úmida, chão de terra, barro batido, socado. Vale a pena rezar? Prá quê? Se pedir chuva, vem demais,se pedir sol, torra tudo! Êta vida de pobre! Mas há sempre uma esperança. Um dia tudo se afina, tudo se equilibra, tudo se combina.
Quando a mangueira fica florida, a jaqueira carregada, a goiabeira cheia de frutos amarelinhos e o feijão preto dentro da vagem já começando a estalar! A Isabel faz angu de fubá fresquinho, abobrinhas cozidas com arroz, cheiro verde, e o mel tirado das abelhas prá botar no inhame e tudo o que é bom. Nem se fala! Dá até água na boca! Êta sorte, vida boa! O cabloco nesse dia fica feliz, mais animado, a criançada toda vibra de satisfação. Até dão festa para os vizinhos. Felicidade, ô! Ela vem um dia, vai embora noutro dia, mas volta sempre quando a fome se vai! Deus abençoe o cabloco brasileiro!
(Vide página Poesia referente a Vida Caipira: Choro de Caboclo)