Olhos Abertos
"Há na vida, maior dívida, que na vida, a vida que deste em vida?"
Só. Era assim que se sentia.
A quanto tempo estava com os olhos abertos fitando o teto? Não saberia dizer.
No que estivera pensando mesmo? Já esquecera.
Tinha vindo ao hospital para um exame de rotina, qual não fora sua surpresa quando o médico, após a examinar, pediu sua imediata internação.
Com certeza deveria ser engano, já que não sentia incomodo algum, sequer uma dor de cabeça, logo o médico a dispensaria.
Perdeu a noção do tempo, há quanto tempo estava no hospital, gostaria de saber, tinha a impressão de estar a horas.
E seu marido e seus filhos, por que não vieram? Será que não foram avisados? Quando a informaram de que seria internada, pediu a atendente que fez a sua ficha que os avisasse, inclusive a seus pais.
Bom era melhor se acalmar, pensar em outras coisas, em comida talvez, não lembrava de ter almoçado, mas não sentia fome, sede também não. Estranho não tinha a sensação de frio ou calor. Engraçado, não ouvia som algum, deveria ser noite.
Tentou mexer a cabeça, mas não conseguiu, mantinha-se imóvel, fitando sempre o mesmo ponto. Será que estava anestesiada? Não lembrava de ter tomado nenhum remédio.
Espera aí! É mesmo lembrava agora, após a sua internação o médico veio até o quarto, conversar com ela, o que era mesmo que tinha dito?
Ah! Estava com um tumor maligno, no cérebro em estado avançadíssimo, era urgente a sua remoção. A operação seria muito delicada mas a equipe era muito competente, que ficasse tranquila e confiante que tudo daria certo.
Então era isto, deveria estar sedada e no pós operatório, por isso não conseguia se movimentar.
Percebeu uma coisa inusitada, seus olhos mantinham-se abertos, suas pálpebras não cerravam, como era possível? Sera que estaria dormindo, sonhando, sempre olhando o branco do teto.
De repente seus ouvidos captaram um som, eram vozes, que alívio.
Oh! Que é isto? O branco do teto estava se mexendo, enrugando.
Não, não era possível, sobre o branco enrugado do teto, apareceu uma pessoa deitada, perplexa descobriu que não era o teto que estivera olhando, mas a si própria deitada na cama coberta com um lençol, apenas seu rosto descoberto para que alguém a reconhecesse.
Atônita viu seu marido chorar e o ouviu rezar dizendo o quanto a amava, logo seus filhos juntaram-se a ele e a todos, seus pais. Juntos rezaram, fazendo com que uma calma e uma paz enorme, tomasse conta de seu espírito cerrando suas pálpebras, finalmente.