Como LIDAR com Crianças e Jovens

Como lidar com Crianças e Jovens

(Celito Medeiros )

Um adulto tem certos direitos entre as crianças, os quais as crianças e adultos modernos tem certa tendência de ignorar. Um adulto bom e estável, com amor e tolerância no coração, é aproximadamente a melhor terapia que uma criança pode ter.

A principal consideração na criação de crianças é o problema de treiná-las sem destruí-las. Você deseja criar seu filho de tal maneira que não tenha de controlá-lo, a fim de ele estar em plena posse de si mesmo a todo tempo. Disso depende seu bom comportamento, sua saúde, sua sanidade.

As crianças não são cães. Não podem ser treinadas como são os cães. Não são itens controláveis. São --- não esqueçamos este ponto --- homens e mulheres. Uma criança não é uma raça especial de animal diferente da do homem.

Uma criança é um homem ou uma mulher que não atingiu o crescimento completo.

Qualquer lei que se aplique ao comportamento de homens e mulheres aplica-se às crianças.

Você gostaria de ser puxado, arrastado, de receber ordens e ser impedido de fazer o que desejasse fazer?

Claro, você se ressentiria (ficaria brava). A única razão de uma criança não se ressentir é devido ser pequena.

Você quase mataria alguém que o (a) tratasse, um adulto, com ordens, contradições e desrespeito.

Pois isto se fizessem quando você era criança, era assim que se sentiria.

A criança não contra-ataca por não ser suficientemente grande. Em lugar disso, enlameia o chão, interrompe seu sono, quebra coisas, resmunga e destrói a paz do lar.

Se estivesse em igualdade com você, quanto ao assunto de direitos e deveres, não iria a esta “forra” (se cobrar). Esta "vingança” é padrão (acontece com todas) às crianças em se tratando de comportamento infantil.

Uma criança tem direito ao seu autodeterminismo (poder de escolha). Você diz que, caso não seja impedida de puxar coisas para cima de si, correr para a rua, sair dali, etc... etc... irá se machucar!

Ora, o que você, como adulto, está fazendo para que aquela criança viva em lugares ou ambientes em que possa se machucar?

A falha é sua, não dela, caso quebre coisas à sua volta. Torne seguro o lugar onde isto possa ocorrer!

A doçura e amor duma criança só são preservados enquanto ela puder exercer seu próprio (dela) poder de escolha (autodeterminismo). Você interrompe isso e, num certo grau, interrompe a vida dela.

Há só duas razões pelas quais o direito de uma criança de decidir por si própria tem de ser interrompido --- a fragilidade e perigo do ambiente e você.

Você faz com ela as coisas que lhe foram feitas, a despeito (desgosto misturado com raiva, provocado por uma decepção ou amor próprio ferido) do que lhe fizeram ou você pensa fazer.

Quando dá algo a uma criança, é dela. Não é ainda seu.

Roupas, brinquedos, aposentos ou quarto, enfim, o que foi dado a ela, deve ficar sob controle exclusivo da criança. Se não lhe fizer isso, ela rasga a camisa, quebra o brinquedo, desarruma a cama, enfim, faz tudo errado, porque fizeram o errado a ela.

Você gostaria que alguém lhe desse um presente e depois ficasse lhe dizendo o que fazer com ele, dali por diante, vezes seguidas, o que fazer com seu presente ou até querendo puni-lo se não o cuidasse bem?

Claro --- você se ofenderia, mandava-o para aquele lugar, quebraria o tal presente na cara dele! (Se não fizesse algo pior).

Bem, a criança mexe com seus nervos quando faz algo parecido, mas ela possui, claro, as defesas dela. Tal defesa é de qualquer criança.

É vingança.

Ela chora. Atormenta. Quebra as coisas. “Acidentalmente” derrama o leite. Estraga, de propósito, as coisas que lhe “deram” e que agora lhe estão fazendo tantas cobranças e advertindo-a com tanta freqüência.

Por quê?

Por estar lutando por seu próprio direito de possuir coisas (autodeterminismo), e fazer sentir seu próprio peso (que ela existe) no ambiente. Que também pode ter decisões! Por isso deve combater controladores de si.

Ao criar seu filho ou filha, deve evitar treiná-lo para ser um animal social. Seu filho começa sendo mais sociável, mais enobrecido que você.

Num tempo relativamente curto, o tratamento que recebe o revolta muito. Esta revolta pode ser intensificada até ser difícil continuar tendo-o por perto.

Mas, você o faz assim. Será barulhento, descuidado com suas coisas, pouco asseado, constantemente perturbando algo ou alguém. --- Em resumo --- qualquer coisa que o incomode.

Controle-o, domine-o e perderá seu amor. Perderá para sempre quem você queira ou pensa dominar.

Controlar e possuir, faça com seus negócios ou sua ocupação. Não com quem você de fato ama. Liberar geral também não é o caminho!

Outra coisa é o assunto de contribuição. Você não tem o direito de negar a seu filho que ele o ajude em algo.

Um ser humano só se sente capaz e competente enquanto lhe é permitido contribuir tanto ou mais quanto lhe é feito. Por isso às vezes parece interferir em algumas coisas. Ele só quer contribuir, só não sabe como.

É tarefa sua ajudá-lo, mesmo em pequenas coisas como lavar louças. Se quebrar um prato, é porque lhe disse que tomasse cuidado, não precisa isto.

Um bebê contribui tentando fazer você sorrir. Ele se exibirá. Perceba isto. Um pouco mais tarde, trará pauzinhos, algumas coisas que você considera sujeira ou algo assim, é ele tentando contribuir.

Se você não aceita aqueles sorrisos, pauzinhos, ou pequenos movimentos de trabalho na maneira como ele está fazendo, começou a interromper a contribuição da criança, que tanto você vai querer mais tarde. Agora, ela principiará a ficar sem fazer nada e poderá durar muito tudo isto.

Fará coisas impensadas e estranhas num esforço de torná-las melhor. Você então a repreende --- e isto acaba com ela.

Deixe uma criança sentar no seu colo. Sentará ali contente. Agora, ponha seus braços ao redor dela e procure segurá-la forçando um pouquinho, mesmo que ela não esteja querendo sair. No mesmo instante ela lutará para sair do seu colo. Irá contorcer-se até que a solte. Lutará para afastar-se de você. Poderá ficar com raiva e até chorar.

Lembre-se, ela estava feliz antes de você segurá-la.

Seus esforços para mudar, treinar, controlar, dominar, em geral reagem sobre ela exatamente como segurá-la no colo e não, simplesmente deixá-la ficar ali no colo e feliz!

Terá dificuldades, certamente, se seu filho já tiver sido obrigado, controlado, dominado, privado de suas coisas e seus direitos e deveres.

Mas no meio do caminho você muda a maneira de lidar com ele.

Tenta dar-lhe liberdade.

Ele está tão desconfiado de você que será terrível conseguir ajustar-se. O período de transição será difícil.

Mas, por fim, terá um filho ordeiro, sociável, responsável, trabalhador, estudioso, atencioso com você e com todos. E, principalmente e mais importante, um filho que o ama. Já não terá medo de você, e contribuirá em tudo.

Amá-lo-á sempre!

O filho que está dominado, controlado, feito um cordeirinho, está em grande ansiedade e não consegue amar com todo seu amor.

Seus pais são seu barco na vida, seu apoio.

Significam alimento, roupas, moradia, estudos, etc... e amor. Isto quer dizer que deseja estar perto deles. Mas, deseja também e naturalmente amá-los por ser seu filho.

Por outro lado, entretanto, seus pais são ou poderão ser exatamente o contrário. Seu ser inteiro e vida dependem dos direitos de usar sua própria decisão, sobre sua movimentação, suas coisas e seu corpo.

Os pais procuram interromper isto, devido à enganosa idéia de que uma criança é um idiota que nada irá aprender se não for controlado e dominado.

Assim sendo, terá que lutar, afugentar o “inimigo”, e fazer coisas desesperadas incomodando a todos.

Eis aqui a ansiedade, depressão, drogas, etc...

Ele pensa:

Eu os amo carinhosamente e também preciso deles. Mas eles significam acabar com minhas capacidades naturais, meu potencial, minha mente e minha vida.

Que vou fazer com meus pais? Não gostaria de viver sem eles. Não posso viver sem eles e não consigo viver com eles. Que vou fazer? Oh, céus, oh céus! Lá se senta, girando com este problema na cabeça.

Este problema, ansiedade, ficará com ele por dezoito anos, mais ou menos. E quase acabará com sua vida.

Liberdade para a criança significa liberdade para você. Deixar por conta dela suas coisas significa segurança.

Que terrível força de vontade é necessária a um pai, para não ficar dando ordens a todo o instante a um filho.

Entretanto, algo tem que ser feito se deseja um filho em boas condições, com saúde, feliz, belo e inteligente, com todo amor a dar.

A criança tem um dever para com você. Tem de ser capaz de tomar conta de você, não como uma ilusão, mas de fato. E não precisará pedir isso a ela. Ela saberá. E você tem de ter paciência.

Permitir-se ser cuidado por ela, desajeitadamente e por pura experiência, não por nossas instruções, permitir-lhe-á fazer isto muito bem.

Se você ama seu filho e mudar com ele, ele mudará com você!

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Celito Medeiros
Enviado por Celito Medeiros em 03/06/2005
Código do texto: T21709