O menino que não conhecia a ilha.

Era uma vez um garoto, que desde menino desejava conhecer uma ilha. A ilha era verde, berço de homens que escreviam historias divinas, lar de seres encantados e belos. Paisagem fértil e feérica, de homens brincalhões e esplendorosas mulheres brancas como a neve e donas de cabelos rubros como o pecado. Um lugar onde tudo era belo, bom e misterioso e o clima era sempre aprazível e fresco.

E assim o menino foi crescendo com a vontade de um dia visitar essa ilha. Sentia-se deslocado em seu mundo de calor, suor, sofrimento.

Era um menino gordo, e sendo gordo tinha duas opções aceitar-se como chacota dos outros e rindo aderir-se ao grupo ou tornar-se amargo como o fel e excluído do mundo lúdico embriagar-se da própria fealdade. Escolheu a segunda opção e tornou-se sozinho, frio. Tendo como única amiga a idéia de um dia visitar a ilha esmeralda de seus sonhos.

Com o passar do tempo o menino foi aprendendo a jogar com as pedras corretas no eterno jogo de damas que é a vida social. Fez bons amigos, maus amigos e reles conhecidos. Amou mulheres, foi amado, odiado. Sofreu e fez sofrer. Como todo ser humano tornou-se algo latente, algo que não correspondia ao bem nem ao mau. Pois no tempo em que se passa está historia o universo não se divide somente em duas facetas, mas em inúmeras e complexas formas de se ver a vida. O universo nesta época era um caleidoscópio onde cada individuo vê somente o que deseja e interpreta o mosaico de cores formado através de sua própria lente.

Mas de coisas frágeis e mundanas esse menino vive e cada dia mais distante de sua ilha ele cresce, emagrece, estuda. Entre os livros e folhas rabiscadas com conhecimento, útil, inútil, fugaz ou perpetuo, fez um conhecido. Conhecido que podia ser amigo, amigo que podia participar da mais nobre tavola onde só os bons e leais amigos se sentam. Mas não conseguiu ascender a tão altos píncaros este conhecido.

O conhecido foi então sorteado pelos deuses do cobre para visitar nada mais, nada menos que a ilha esmeralda dos sonhos pueris do menino.

Tempos incontáveis se passaram, ervas daninhas cresceram ao redor do menino e inesperadamente o conhecido voltou. Com valentia ou desconhecendo as ervas o conhecido se aproximou e presenteou o menino com duas pedras.

Nas mãos do menino, as pedras eram ouro, mais que ouro eram pedras únicas e raras, pedras que atravessaram uma imensidão azul, branca, ar e mar para chegar em suas mãos.

As pedras eram parte da ilha que ele sempre vislumbrou em seus sonhos, elas haviam se formado na terra mágica e fértil de seus sonhos. Elas foram carregadas por seres minúsculos com suas asas de luz e suas harpas de fumaça, por damas de olhos verdes, por beberrões inveterados e por bocas com sorrisos eternos.

Mas voltando para a casa com as pedras na mão o menino não sentiu-se feliz. Sentiu-se triste. Se as pedras estavam em seu bolso elas existiam e se existiam, existia também a ilha. Não fazendo parte do mundo onírico perfeito e imaculado.

As pedras tornaram-se pesadas, pesadas como os sonhos que se acabam, pesadas como os desejos que se mostram rotos, como os projetos que se tornam fúteis.

E sem pensar, pois pensar era ser racional e racionalidade era o que ele não queria em sua ilha mística, mágica e feliz, ele jogou as pedras no rio, no rio mais sujo que ele conhece. O rio de sua província.

Luís Figueiredo
Enviado por Luís Figueiredo em 01/04/2010
Código do texto: T2170630
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