Jogatina Celestial
Enquanto isso no céu...
Paulo e Tomé
- Tomé, estou desconfiado de que na quinta nuvem a esquerda, lá naquela portinha que dá acesso ao almoxarifado, tem jogos de cartas acontecendo regularmente.
- Eu também Paulo, mas tenho meus motivos, e os seus quais são?
- Vi o anjo Rafael sair de lá sem a harpa e sem uma asa.
- E o que te faz pensar que é um jogo de cartas?
- Não sei Tomé, estou desconfiado. Segui Rafael e ele foi até o Banco Providencial. Na certa foi pedir um empréstimo para a compra de uma harpa nova.
- Paulo, xeretar é pecado e está nos mandamentos. E pensar em falsos testemunhos também.
- De que jeito?
- Está nas entrelinhas. E se Rafael tivesse se acidentado? Ou mesmo teve um ataque de fúria, ou foi assaltado?
- Assalto aqui no céu?
- Se tem jogo de cartas, assalto é um hobby.
- Mas Tomé, eu vejo anjos e santos entrando lá e não sei o que acontece.
- Eu acho que você está exagerando e já que o almoxarifado fica para aquelas bandas, posso até afirmar que Rafael deixou a harpa para conserto.
- Mas e a ida ao banco? O que me diz?
- Digo que agora que você lembrou, eu tenho que ir até lá pagar a taxa da água cristalina benta que venceu ontem.
- Ontem? Droga! Esqueci também.
- E então Paulo? Vamos juntos ao banco?
- Bah, eu tenho que pegar a fatura na minha casa. Quer ir junto?
- Não, não, pode ir pra casa. Eu vou ao banco antes que feche.
- Então tchau Tomé, e obrigado por tirar essa dúvida da minha cabeça.
- Imagina Paulo, quem tem que desconfiar de alguma coisa aqui no céu sou eu, não é mesmo?
* * *
- E aí Tomé? Ele já foi?
- Gente, o Paulo está desconfiado. Temos que mudar de lugar urgentemente. Me dê uma carta.