O violinista
Ele chegou, com sua charmosa barba grisalha, os olhinhos brilhando tanto quanto o sorriso. Sentou-se diante do envidraçado, tendo à frente a lagoa, que cintilava em cores e movimentos. Distraído ficou, almoçando lentamente, enquanto as pessoas começavam a chegar e, em pouco tempo, povoavam o salão. Passou rumo à caixa, bateu com os olhos nela:
-Se soubesse que estavas aqui sozinha, teria vindo almoçar contigo.
O violinista continuou sua caminhada. Ela não respondeu, há tanto tempo admirava-o, ouvia-o tocar. Ele nunca lhe havia dirigido a palavra. Cumprimentavam-se apenas; depois da morte da esposa, ele já trocara várias vezes de companheira. De longe, ela acompanhava-o, apenas de longe. E, naquele domingo, a frase por ele pronunciada ficou ecoando na sua cabeça.
Uns dias depois, preparou-se para voltar ao restaurante da praia. O fato de ele não estar acompanhado, no último fim de semana, animou-a. Esmerava-se nos preparativos quando tocou o telefone. Sua amiga estava agitada:
- Não conhecias o Mauro, o violinista? Aquele que tocava em festas...?
- Claro, o que houve com ele?
- Foi a Porto Alegre fazer uma cirurgia delicada no coração. E não resistiu.
-Não é possível! Ele falou comigo no domingo, parecia tão bem!
A amiga contava e recontava os pormenores. Ela ouvia, muda, dominada por um estranho aperto no peito, uma sensação de esvaziamento.