Produção do Tempo - Décimo Quarto Dia
Podia ficar,
ali no sonho, planando sobre um lago fictício. Até amanhecer. Mas no sonho o tempo é outro, o rumor nas árvores da noite, vou cindir as praias longas do crepúsculo. Mas no sonho o espaço é outro, não ouço a voz, sinto a voz percorrer as hastes da pele profunda
mais além.
E a história nem começou e há uma história para viver no fim, enquanto no ouvido amadurece o vento pelo silêncio. Tu vens e o mar, o mar, tu vens cerzida na luz adormecer na minha sombra por entre os vidros. O reflexo nítido desta imagem
sob a neblina.
A história que se conta é da alegria, olha o nosso riso e os dedos como barcos. Nem sei. Talvez o mar repouse na margem dos lábios e nada sentimos senão os pulsos enquanto ondas.Combinámos ser assim para que cada vocábulo fosse o lume durável
dos instantes.
Podemos ficar nesse areal ou a casa ser um lençol eterno da leveza dos corpos. E nada mais narrar aos sentidos agora ígneos do nosso desejo. Deixo as aves adornar os teus cabelos, nada mais narrar que as veias ali no sonho
do dia único.