O PESADELO

Alice enroscou - se sob as cobertas, apertando o lençol em torno do pescoço.

O quarto clareava aos poucos. Ela travou o despertador antes que soasse.

Lentamente virou - se de costas, esticou os membros e respirou profundamente.

Seu olhar vagou pelo ambiente, que para ela adquiria uma aparência esquisita e irreal, embora fosse o mesmo aposento em que dormia há cinco anos.

Um outro dia começava.

Um outro dia para suportar.

Recomeçaria tudo de novo.

O tédio.

Levantou - se e olhou - se ao espelho. Coisa estranha, havia algo escrito em vermelho no alto do espelho.

Alice não conseguiu ler.

Passou a mão para apagar, mas a frase parecia estar escrita pelo outro lado.

Alice ficou curiosa. Como poderia algo ser escrito pelo outro lado do espelho ? E quem iria escrever ali ? E por que ?

Se houvesse alguém por trás do espelho ... E se o espelho fosse uma passagem para uma outra realidade, uma outra dimensão ?

Havia locais assim no universo, como o triângulo das Bermudas, por exemplo.

Quanto mais a moça olhava para o espelho, mais se convencia de que lá atrás havia algo real.

Começou a acreditar que poderia atravessar para o outro lado, se tentasse. Aí então poderia decifrar a mensagem em vermelho. Mas por que uma mensagem ?

Estendeu a mão e não se admirou de ve - la atravessar o seu reflexo. Afastou os objetos sobre a penteadeira para poder ajoelhar - se sobre ela e pular para dentro do espelho.

Pronto. Conseguira.

Virou - se e viu o próprio quarto, mas não o seu reflexo. Deste lado não havia espelho, apenas um vidro grosso, que deixava a imagem embaçada e fosca.

Não havia móveis aonde ela estava, nem janelas, nem portas, nem coisa alguma.

Seguiu ao longo de um corredor branco, passeando por diversos aposentos brancos e vazios, sem portas, sem janelas, em que desembocavam outros corredores.

Um labirinto sem saída.

Alice virava sempre à direita, para poder encontrar o caminho de volta. Andou durante muito tempo sem nada encontrar.

Refazendo o trajeto, virando agora sempre à esquerda, retornou.

Lá estava o seu quarto, seu espaço, suas coisas.

As mãos tocaram o grosso vidro sem ultrapassá - lo. Tentou passar, em vão. Empurrou, primeiro de leve, depois com força, inutilmente.

Alice sentou - se, apoiando as costas contra a parede, esticando as pernas cansadas. Olhou para o alto.

A mensagem ! As palavras em vermelho eram agora legíveis.

Lá estava a condenação fatídica :

“ NÃO HÁ VOLTA ”.

Sonia Rodrigues
Enviado por Sonia Rodrigues em 02/06/2005
Código do texto: T21627