UM CAIPIRA VALENTE - 3. Aventura.
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A garçonete caminhava tranquila pela rua. Havia cumprido seu horário de trabalho. Entrou por uma via secundária. Ouviu o tropel de um animal às suas costas. Mal olhou para trás, sentiu uma corda envolver seu pescoço. O vaqueiro havia jogado seu laço nela.
— Se uncê gritá, eu arrasto ocê pela rua inté num ficá nenhum pedaço seu.
— Pelo amor de Deus, moço! Não faça nada comigo! — implorava.
— Depende somente da sinhorita — trazendo-a até junto ao animal.
— Eu tenho família, tenho filhos...
— Eu só tenho na vida minha fia. O qui acunteceu pra mode a sinhorita contá mintira na delegacia? Eu vô levá ocê pra lá no laço. E se minti...
— Pelo amor de Deus! Podemos conversar?!
— Disimbucha!
— Fui pressionada a falar aquilo. Aquela escrivã me ameaçou — ele bambeou o laço. Desceu do animal.
— Conta pra eu toda a verdade e eu deixo ocê im páiz.
Rapidamente, toda a história foi contada...
— Sabe adonde aquela moça mora?
— Sim. Numa casa de dois andares quase na saída da cidade. É a única casa no fim da terceira rua à esquerda. Por ali — e apontou com o dedo indicador.
— Pode imbora. Faiz de conta qui num mi dice nada.
— Obrigada, moço — disse, esfregando o pescoço.
O vaqueiro continuou pela rua escura. Parou debaixo de uma árvore, pensativo. Ouviu o barulho de uma moto pela rua. Olhou para trás. A jovem aproximava de um pequeno portão de uma casa. Vários tiros foram dados na direção dela. A moto seguiu em frente em alta velocidade. Ao passar perto da árvore, Ozório retirou rapidamente do arreio uma faca de aço puro, e, segurando-a pela lâmina, atirou fortemente nos raios da moto. A moto voou pelos ares e seu ocupante foi jogado longe.
Esporeou o cavalo rumo a jovem. Primeiro, teria que salvá-la.
Desceu rapidamente. A jovem gemia. Delicadamente, usou toda sua força e a colocou na sela. Pulou na garupa do animal e a levantou, colocando-a em seus braços, passando para a sela. Algumas pessoas chegaram à janela. Gritou para elas onde era o hospital, então, esporeou seu cavalo como um louco. Sabia que não poderia sacolejá-la muito, por isso, a levava em seus braços tentando não balançá-la muito. Era o único jeito de tentar salvá-la.
Todos na portaria, olharam para aquele animal parando bruscamente quase dentro do pequeno hospital. Correram para ajudá-lo. Quando pode descer do animal, explicou rapidamente o acontecido, dizendo seu nome e que iria voltar. Montou em seu cavalo.
— Vamo Ventania! — esporeando seu cavalo e retornando ao local onde tudo havia acontecido. Porém, em vão! Não havia nenhuma moto pela rua. Ninguém ferido pelo chão. Estava muito calma a rua, como se nada tivesse acontecido ali. Tudo havia sido muito rápido. Apanhou sua faça pelo chão. Retornou ao hospital.
— Nem todos os tiros acertaram nela — disse um enfermeiro —, apenas dois. Um foi de raspão no ombro e um outro na barriga. Ela vai ser operada.
— Num vai morrê, né.
— Não, não! Mas tivemos que comunicar a polícia.
— Vigia ela, dotôr! Arguém vai tentá matá ela.
— O que esta acontecendo, senhor...
— Ozóro... me chamam de Ozóro. É um caso cumplicado, dotôr, mais vão tentá matá ela.
— A polícia cuidará disso.
— É disso qui eu tenho mêdo. Num cunfia na puliça não, dotôr! Vijia ela. Uma moça da puliça fez ameaço pra ela.
— Quem!
— Uma moça que fica na delegacia.
— Bem... vamos tomar cuidado. Mas a polícia é que cuida disso.
— Pelo amor de Deus, num dêxa ela suzinha não. A minha fia sumiu e ela achô a cartera da minha fia, depois a moça da delegacia foi buscá ela e ela dice qui nunca havia visto eu e nem me dado a cartera de minha fia. Fui atraiz dela, ela dice qui a moça da delegacia havia feito ameaço pra ela e quando eu tava indo imbora arguém numa motoca atirou nela. Eu dirrubei a moto e trussi ela procês. Vortei lá e... num vi moto mais na rua.
— Santo Deus! Que complicação — disse o enfermeiro.
— Eu dice qui a coisa tá isquisita... Vigia ela.
— Vamos tomar as providências. Mas a policia vai falar com o senhor!
— Eu memo vô lá vê o qui tá cuntecendo. Já tô ficano sem paciênça.
— Ah, quanto o senhor saiu, deu entrada aqui um rapaz que disse que caiu de uma moto.
O vaqueiro olhou pela porta de vidro. Seus olhos fixaram na escrivã que tentou saiu rapidamente do local.
— Tente sabê o quê acunteceu cum ele, dotôr. A moça da delegacia tá aqui. Vou atráiz dela. Diga a puliça qui eu num vou fugi. Vou na delegacia dispois — e saiu.
Ao chegar à rua, a escrivã saía em disparada numa moto. Montou em seu cavalo e a seguiu num galope desenfreado. Confiava na velocidade de Ventania. O cavalo sabia como nunca perseguir uma rês pelo pasto.
— Vamo Ventania...
O disparo descomunal de um animal pelas ruas chamava atenção de todos. O animal bufava, instigado pelas batidas do laço, já nas mãos do vaqueiro, que batia com ele nos dois lados de suas ancas. A rédea foi passada na cabeça do arreio para que as mãos ficassem livres para manusear o laço. Aonde a moto ia, o animal ia atrás, cruzando ruas e afastando da cidade. Entraram numa estrada de terra. A moto passou pelo mata-burro. A jovem olhou para trás e riu, pois ele teria que passar pela porteira ao lado do mata-burro. Parou de sorrir ao ver o pulo do animal sobre o mata-burro, vindo a todo o galope em sua direção e um laço bailava pelos ares. Ele se aproximava cada minuto.
A escrivã enfiou apressadamente a mão na axila esquerda de sua jaqueta preta, tirou uma arma e esticou aleatoriamente o braço direito para trás e atirou. O vaqueiro recolheu o laço. Puxou junto da cabeça do arreio sua espingarda “cartucheira“ e fez um disparo rumo a ela. Não para matá-la, apenas para dizer que também tinha uma arma e de um alcance maior. Recolocou outro cartucho. Com o susto do tiro, a escrivã desequilibrou-se momentaneamente a moto. Endireitou novamente na estrada e continuou. Tinha que deixar a mão direita livre para atirar e precisava dela para conduzir a moto. Olhou pelo espelho da moto. Colocou a mão sobre o ombro direito. Disparou várias vezes. Dois tiros intercalados de uma cartucheira foram dados novamente como resposta. Novos cartuchos foram colocados na espingarda.
A motoqueira percebeu que o vaqueiro não iria desistir.
Com certa maestria, a escrivã trocou o pente da sua pistola automática, porém, ao fazer isso, perdeu um precioso tempo para acelerar sua moto. Uma corda envolveu seu corpo, prendendo-a pelo tronco e seus braços ficaram embaraçados no laço. O vaqueiro freou repentinamente o animal. Ela foi ao chão e sua arma caiu longe.
Quando olhou ela para trás, dois canos de uma espingarda estavam apontados rumo a ela.
— Esta cometendo um grande erro! — disse a escrivã, ainda pelo chão.
— É memo! — respondeu o vaqueiro, descendo do animal.
— É memo... — repetiu ela, imitando-o. — Podemos conversar?
Ele apenas balançou a cabeça.
— Posso me soltar? Acho que temos os mesmos objetivos. Vamos conversar fora da estrada. Não quero que ninguém me veja conversando com o senhor.
— Se fizé arguma coisa... leva chumbo — frisou ele.
Ela puxou a moto para o meio do mato. Ficaram meio escondidos entre os arbustos. Ela mancava um pouco.
— Ouça bem o que vou dizer ao senhor. Depois, pode fazer comigo o que quiser.
— Pode tá certa qui farei, se minti pra eu!
— Meu nome é Juliana, Ju, há mais ou menos cinco anos minha irmã sumiu também. Ela morava numa dessas cidades vizinhas. Sumiu! Até hoje nem rasto dela. Fui à polícia da cidade, não puderam fazer muita coisa e nem se importaram com o caso. Não havia provas! Ninguém sabia de nada. Passei num concurso para ser escrivã, e, lentamente, nesta cidade, fui investigando por conta própria, juntando uma coisa aqui, outra ali, e descobri que aqui, nesta cidade, três rapazes e uma jovem usam drogas e aprontam muito por aí... Já sumiram outras garotas na região e a polícia não consegue chegar a ninguém. Esses jovens são da alta sociedade e se acham os donos do mundo. São filhos de pessoas influentes da região. Eu, sempre que posso, estou investigando os sumiços de jovens na região. Estou sozinha nisso. Eu os vigio.
— Bela istória para se livrá de mim...
— É verdade! Por isso, pedi a garçonete para não dizer nada na delegacia. Nem o delgado sabe o que eu faço e iria estragar tudo!
— Mais uma mentira!
— Então, vou lhe dizer uma coisa, para que o senhor acredite em mim, certo!
— Se cunsegui!
— Eu salvei sua filha! Ela esta viva e escondida!
— Não brinque comigo, sinhorita!
— Eu juro! Ela esta bem viva. Se aparecesse por aí, eles a pegariam, entende! Posso mostrar onde ela esta.
Ele passou a mãos pelo rosto.
— Se tivé mintindo...
— Eu levarei o senhor até ela. E, então, terá que sumir com ela sem que ninguém veja.
— Cumo sabe qui arguém tava atráiz dela?
— Eu os vigio... numa noite, antes do festival, eles estavam perto da rodoviária, a jovem viu sua filha sair da lanchonete e preparam para ir atrás dela. Eu saí com meu caro rapidamente e quando ela virou uma esquina lhe dei carona. Eu e sua filha abaixamos dentro do carro e eles não nos viram. Eu quero pegar a todos eles. Por isso, a jovem da lanchonete foi atacada e culpa vai cair no senhor. Vira e mexe estão por aqui. Não são daqui. Devem ser de outro lugar. Já os vi nas cidades vizinhas...
— Mostre pra eu minha fia e podemo cunversá — disse, ainda com a espingarda apontada para a barriga dela.
— Eu não posso me afastar muito da delegacia.
— Diga adonde tá ela e vamo lá... Se for verdade, eu ti ajudo cuidá deles — duas motos passaram pela estrada.
— São eles! Esta vendo como são rápido.
— Num dá pra vê a cara deles... Tão cum caçapete na cabeça...
— Capacete... — riu ela, levemente. — Por isso, não se vê o rosto deles e as placas das motos são trocadas sempre. Já as fotografei.
— Moça - disse o vaqueiro, pensativo e sisudo —, se for verdade o qui tá me dizendo, eles não são gente! São animais! E eu sei lidá cum animar...
— Já estão desconfiados de mim, senão, não vinham atrás de mim.
— Ou, atráis de mim... — disse Ozório.
— Pode ser... O que o senhor fez, deve ter chamado a atenção deles. O senhor atacou um deles e ele está no hospital com algumas escoriações. Fui ao hospital para ver se descobria alguma coisa. Ao ver o senhor, eu tentei sair...
— Se teve memo cum minha fia, como ela se chama? Fale arguma coisa dela.
— Ela se chama Bianca Ozório da Conceição, a Patativa. Tem 21 anos de idade. Mora na Fazenda Ponte funda, onde tem um haras e o senhor trabalha lá para o João Catalão. Ela me contou toda história do senhor e dela. E me disse que o senhor viria atrás dela. Mesmo assim, pedi a ela para ficar escondida. Eu não poderia levá-la até lá em segurança.
— Quar a músga que ela ia cantá no festivar?
— Uma música caipira, Velha Porteira. Ela até cantou para mim... é alguma coisa assim... “Ao passar pela velha porteira/ senti minha terra/ mais perto de mim/ de emoção eu estava chorando/ por que minha angústia/ chegava ao fim.”
— Essa memo — disse, emocionado. — Qué dizê qui ela tá viva?
— Sim. E fala muito no senhor.
— Olha moça... eu sô de cunfiá nas pessoa. Diga adonde ela tá... Eu vô lá suzinho. Adispois, eu ajudo ocê a cuidá deles.
— Tudo bem. Mas a polícia vai procurá-lo. E faça de conta que não nos encontramos. Eu o ajudarei no que for preciso e lhe passarei informações. Vamos pegar todos eles. Mas, primeiro, coloque sua filha em segurança.
— Tem cumo eu telefoná pra fazenda Ponte Funda. Vô pidi os vaquero mode buscá ela intão. Ansim num levantamo suspeita.
— Boa idéia! — tirando do bolso da jaqueta um celular.
— Num sei mexê cum isso... Vô dizê o númuro e a sinhorita faiz o resto e eu falo — a escrivã acionava o telefone. As motos voltavam pela estrada de terra lentamente. Olhavam incessantemente pelo chão. Pararam.
— Droga! — praguejou ela, pois o telefone caiu pelo chão — Minha arma está na estrada. Eles podem vê-la! — ela discou novamente.
Um dos motoqueiros acionou o dispositivo do fio dos fones de ouvidos meio encoberto por sua jaqueta. — Esta fora de área! Não adianta! Eles podem ver a gente aqui nesse mato. Estão olhando os sinais pelo chão. Ligarei novamente depois — disse a motoqueira.
O vaqueiro enfiou a mão numa parte do arreio retirando vários cartuchos.
— Eles devem estar armados também — avisou a moça. O vaqueiro bateu na anca do animal e disse:
— Dê um bom galope Ventania — o cavalo saiu em disparada pelo mato. As motos seguiram o animal saindo da estrada.
— Pegue sua motoroca e vorta pra cidade. Dexa comigo — a escrivã empurrou sua moto até a estrada. Apanhou sua arma. Montou na moto e silenciosamente saiu do local. Acionando-a quando estava distante.
Com a experiência de um caçador, o vaqueiro seguiu pelo mato camuflando-se entre as árvores. Como uma sombra, caminhava sorrateiramente seguindo o barulho das motos. Elas pararam. O vaqueiro subiu numa árvore para vê-los melhor.
As motos voltaram lentamente pelo mato. Pararam debaixo da árvore. Dois canos da espingarda estavam apontados para eles. Desligaram as motos.
— Onde se meteu aquele caipira — resmungou um deles retirando o capacete da cabeça e desligando sua moto. Desceu dela para urinar junto ao tronco da árvore.
— Ele deve saber se esconder pelo mato. É um caipira. Temos que dar um fim nele. Nada pode dar errado! Vamos dar mais algumas voltas por aí — arrancou a moto, deixando seu amigo para trás.
O outro motoqueiro terminou sua micção. Virou-se! Assustou-se ao ver um forte e rude homem como se caísse do céu plantado na sua frente. Dois canos de uma espingarda foram enfiados em sua boca. Ele ficou postado junto ao tronco da árvore.
— Se pensá arto eu rebento seus miolos, disgraçado! — o motoqueiro, com um olhar de desespero, nem se mexia. Seus olhos e seu rosto demonstravam uma terrível expressão do medo.
O vaqueiro o revistou rapidamente; uma pistola automática, dois pentes de balas; um afiado punhal; um par de algemas e as chaves delas; um celular e documentos pessoais. Guardou-a para si. Depois. Levou-o cuidadosamente até a moto e o fez montar nela. Prendeu os tornozelos das pernas dele com as algemas, passando-as por debaixo da moto. Ele estava montado e preso à moto. Soltou um sutil assovio e seu cavalo aproximou.
— Pega essa porcaria de telefone e diga pro seu amigo qui eu tô indo pra cidade e ocê vai me sigui. Peça a ele pra cercá eu na entrada da cidade. Se dizê uma só palavra a mais, eu puxo o gatilho — e encostou a espingarda no outro ouvido do motoqueiro. Retirou a chave da moto e a guardou para si.
Foi obedecido rapidamente. O vaqueiro tomou o celular para si, novamente.
— O que quer de mim?
— Num mandei ocê falá! — empurrou a moto até perto de um cupim. Com o punhal, cortou a mangueira do combustível. O liquido começou a escorrer pelo chão. Usando apenas uma das mãos, pois a outra estava ocupada com a espingarda apontada para a cabeça do motoqueiro, empurrou a moto novamente uns dez metros mais adiante. Foi até ao cavalo. De uma bolsa no arreio, retirou duas ferraduras e as encaixou nos raios das rodas da moto bem próximas ao chão, jogou um pouco de entulho e folhas perto das rodas para encobri as ferraduras. O motoqueiro, com os pés no chão, equilibrava a moto, pois o descanso dela estava desativado. Vários galhos secos de árvore foram colocados junto da moto entrelaçados nela. Aos poucos, eram molhados pela gasolina. Ozório retirou do bolso uma caixa de fósforos. Ficou com um feixe de palitos de fósforos na mão e a caixa na outra e entre os braços, sua espingarda. Escondeu-se atrás de um cupim, sem antes, quebrar alguns galhos verdes e se camuflar no meio deles atrás do cupim. Em cima do cupim, a espingarda em prontidão.
— Pode cumeçá a falá... Ventania, chispa daqui! — o animal afastou-se em passos lentos.
O outro motoqueiro olhava para a tela do celular. A tela mostrava dois canos de uma espingarda no ouvido de seu companheiro.
O motoqueiro preso estava calado. Com o canto dos olhos tentava ver de onde vinha sua ajuda.
— Bem, se num falá, vô pô fogo no rastilho da gasolina. Ocê vai virá churrasquinho!
— Vai se danar!
— Tá bão! — e riscou os fósforos.
— Espere!!!
— Tô isperano...
— Se eu disser o que quer, vai me soltar?
— Se falá a verdade!
—Trabalhamos para médicos na capital. Eles fazem transplante de coração, rins, córneas, etc... pegamos pessoas para eles. Eles vendem caro para quem pagar melhor e furam a fila de espera. Pessoas ricas pagam caro por um transplante! Somente pegamos pessoas! Não conhecemos o médico da capital. Prendemos a pessoa em algum lugar e alguém vai lá buscar... o resto não sei de nada e o dinheiro vem na nossa conta.
— Onde tá minha fia...
— Ainda não devem tê-la buscado...
— Pra onde leva as pessoas? Quar hospitar!
— Não sei! Droga! Em qualquer parte do país ou até mesmo para o estrangeiro!
— Adonde é esse lugá qui ocês prende as pessoas?
— Vai me soltar!
— Depende!
— Tem um fazendeiro muito rico numa cidade próxima que cuida disso. Ele tem várias fazendas... Ele coordena tudo.
— Qui tipo de carro é usado?
— Uma ambulância, para não levantar suspeita.
— Intão, onde deixam as pessoas para eles?
— Nós a dopamos e a deixamos em qualquer local combinado perto de uma rodovia ou estrada...
O cavalo voltou. Balançava a cabeça.
— Ocê avisô seu amigo, né!
— Como ele chama?
— Joca.
— E quar é o nome do chefe no hospitar aqui?
— Valença... Dário Valença!
— Ele não é dotôr, né!
— Não!
— E a moça que anda com ocês?
— Sonia...
— Não olhe para tráiz... Se seu amigo ta vindo, ele tem que vim bem depressa... senão, ôcê vai virá um churrasquinho! Vamos Ventania! Vamo sair daqui rápido — jogou o fósforo acesso pelo chão e o animal saiu num galope alucinante.
— Aqui! Aqui! — gritava desesperado o motoqueiro, tentando tirar a modo do lugar.
Com as mãos livres, tentava alcançar as ferraduras que impedia a moto de se locomover. Conseguiu tirar apenas a da roda dianteira e tentou arrastar a moto sem muito apoio nos pés. Gritava constantemente para que seu companheiro o ouvisse.
Uma moto parou junto a ele. Seu companheiro desceu e o ajudou a arrastar a moto para mais longe, saindo do rastilho da gasolina. Uma pequena fogueira iniciava onde a moto estava anteriormente.
— Maldito! Maldito! Vamos acabar com ele — disse, retirando de sua jaqueta a chave das algemas e libertando seu colega.
— Por pouco... — resmungou o que estava preso. Seu amigo retirou o capacete e o jogou no chão de tanta raiva.
— Ele não vai estragar nosso trabalho! É apenas um caipira. Vamos mandar a filha dele agora mesmo para ser a primeira a ser espedaçada. Vamos!
— Ele levou a chave de minha moto! Ju se livrou dele.
— Ela é esperta. Deixe a moto aí. Depois a buscaremos. Monte na minha moto e vamos mandar levar a filha dele para fazer a entrega. — pegou o telefone celular e discou — Temos uma boa entrega! Mande a ambulância na estrada de terra depois do rio daqui uma hora. Efetue o pagamento primeiro. Ela esta presa a uma árvore depois da ponte perto de uma cruz — e saíram.
O vaqueiro, que os observava, camuflado atrás de outra moita, assoviou para seu animal. Então, fisgou-o com as esporas e desapareceu pelo mato.
...